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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Lisa Chaplin. Todos os direitos reservados.

FERIDAS E SEGREDOS, N.º 1355 - Novembro 2012

Título original: The Sheikh’s Destiny

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1320-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

Estrada para Shellah-Akbar, Norte de África

 

Estavam quase a alcançá-lo. Estava na hora de pisar a fundo o acelerador. Alim não ia permitir que os homens de Sh’ellah ficassem com o carregamento de medicamentos e alimentos destinados às populações oprimidas. E também não ia deixar que o apanhassem. Isso seria um desastre para o povo da região. Assim que Sh’ellah visse quem apanhara como refém, pediria um resgate que lhe permitiria abastecer-se de novas armas, durante anos. No entanto, Sh’ellah ainda não tinha descoberto a sua identidade e Alim esperava que nunca descobrisse. Nem sequer o diretor da ONG, para a qual trabalhava, Médicos por África, conhecia a verdadeira identidade do condutor silencioso que transportava na sua carrinha medicamentos e mantimentos para os povos mais remotos, controlados pelos comandantes da zona.

Graças a uma identidade falsa e ao lenço árabe masculino, tradicional, com o qual podia esconder o seu rosto, transformara-se num homem invisível.

Entregava sempre a cada povo, medicamentos suficientes para durarem entre seis a oito horas. Assim, quando os homens de Sh’ellah chegavam para reclamar «a sua parte», já quase não havia nada. Apenas algumas agulhas, alguns antibióticos fora do prazo de validade... E, no caso dos mantimentos, os aldeãos só deixavam à vista o pão, grão e arroz suficientes para que os homens de Sh’ellah se vangloriassem do seu espólio.

A «estrada» que levava a Shellah-Akbar era um caminho de terra batida, coberto de sulcos de rodas. Alim fizera com que equipassem a sua carrinha com pneus, como os que se usavam nas corridas pelo deserto, para poder conduzir sobre as rochas e os buracos imprevisíveis que o vento fazia no chão poeirento. Também mandara instalar uma estrutura protetora na cabine, parecida com a que tinha nos seus carros de corrida, na época em que ainda lhe chamavam «o xeque piloto».

Há muito tempo, sentira-se muito orgulhoso daquela alcunha... Agora, quando pensava nisso, sentia vontade de bater em alguém. A sua vida e a sua fama como piloto de corridas tinham acabado no dia em que o seu irmão Fadi morrera.

Embora, tecnicamente, ainda pudessem dar-lhe o título de «xeque», perdera o direito de o usar depois da morte de Fadi. O seu irmão mais novo, Harun, cumprira o dever na sua ausência, casando com a princesa com quem Fadi tinha casamento marcado. Há três anos que governava o principado de Abbas al-Din e Alim tinha a certeza de que estava a fazer um trabalho excelente.

Pensar em Abbas al-Din, onde fora amado e respeitado pelos seus súbditos, fez com que sentisse uma pontada de nostalgia. No entanto, mesmo que quisessem que regressasse e que ocupasse o seu lugar entre eles, Alim sabia que as circunstâncias do seu nascimento, o facto de encontrar petróleo ou minerais, ou ganhar uma corrida, não estava entre as qualidades que distinguiam um verdadeiro líder. Bom critério, força, coragem... Essas eram as qualidades necessárias e perdera a maior parte delas quando Fadi morrera, levando o seu coração e parte da sua pele.

Gemeu, irritado, quando as cicatrizes profundas que lhe cobriam mais de metade do peito começaram a arder. Se coçasse, só conseguiria fazer com que fosse pior. Ia ter de usar o pouco creme de sílica que lhe restava... Coisa que faria assim que conseguisse livrar-se dos homens que o perseguiam.

Olhou pelo retrovisor. Continuavam atrás dele, à mesma distância, vários jipes com homens armados. Tinha de fazer alguma coisa ou acabariam por segui-lo até Shellah-Akbar e por lhe tirar a mercadoria. Poderia fazer alguma coisa com o sinalizador de emergência? Alim pensou depressa. Sim, havia uma possibilidade. Na carrinha, tinha um pó químico com uma base de alcatrão, que usava para que as rodas não escorregassem na areia. Se o juntasse à mistura volátil que o sinalizador continha e a atirasse para trás, pela janela, talvez... Sim, poderia funcionar.

Conseguia conduzir só com uma mão e até manejar o volante com os pés. Pôs uma pedra no acelerador, deixando-a de maneira a que não se mexesse, e conduziu com os pés enquanto desmontava o sinalizador com o maior cuidado possível... Segundo o que a situação permitia.

Estava a aproximar-se da intercessão que se encontrava a quinze quilómetros da vila, onde devia virar. Tinha de os deter ou saberiam para onde se dirigia. Verteu o pó do sinalizador. Tinha de ter cuidado ou acabaria por matá-los, embora, sem dúvida a maioria daqueles homens fossem uns assassinos, tinha a certeza de que muitos tinham nascido na mais absoluta pobreza e tinham sido sequestrados na sua infância, para serem transformados em soldados do comandante.

Deixaria fornecimentos e provisões suficientes para que o comandante não os matasse por terem falhado. Não sabia se estava a contribuir para perpetuar o problema em vez de o solucionar, mas naquele continente, em que a vida de um homem não valia nada, achava que todos mereciam uma oportunidade e não queria acrescentar mais peso ao fardo que já carregava.

Voltou a agarrar no volante quando estava a chegar ao cartaz retorcido que indicava a direção para a vila e virou para a esquerda, para se afastar. Muito bem, o vento estava a mudar novamente e chegara o momento.

Fechou o sinalizador, fixando-o bem com fita-cola, abanou-o e abriu o tejadilho. Acendeu-o, contou até sete e, ao mesmo tempo que carregava com força na pedra que pusera no acelerador, atirou o sinalizador para trás, pelo tejadilho, voltando a fechá-lo de imediato.

A carrinha saiu disparada para a frente quando se deu a explosão. Atrás dele, o ar tornou-se branco e azul, depois enegreceu e tornou-se denso. Ouviu gritos e, pouco depois, um barulho de pneus quando os jipes dos seus perseguidores travaram ao mesmo tempo. Conseguira.

Virou à direita para voltar à intercessão e, quando estava a meio quilómetro dela, atirou as caixas de mantimentos que separara para satisfazer a cobiça do comandante. Os homens acabariam por encontrá-las quando passassem os efeitos da reação química e recuperassem a visão, uma meia hora mais tarde. Nessa altura, o vento já teria feito desaparecer o rasto dos seus pneus, cobrindo-os com a terra avermelhada, ramos e folhagem. Os homens de Sh’ellah teriam de se dividir para o procurar e, quando chegassem à vila, ele já estaria longe do seu alcance.

De repente, ouviu algo parecido com um assobio, acompanhado por um barulho forte. A carrinha saiu impulsionada para a frente, como se algo a empurrasse, antes de se despistar e se precipitar sobre o flanco esquerdo, fazendo com que Alim batesse com a cabeça na janela. O impacto forte deixou-o atordoado e começou a sangrar de um olho. Um dos pneus da carrinha rebentara. Parecia que um dos homens do comandante não fora afetado pela explosão. Seria isso ou tinha disparado às cegas e tivera tanta sorte que conseguira acertar no pneu.

O problema dos pneus especiais que instalara era que, quando um rebentava, o veículo perdia o centro de gravidade, impossibilitando-o de manobrar. Parou a carrinha, saiu e, com a espingarda, rebentou os outros três. Os pneus especiais, mesmo furados, permitiriam continuar a conduzir, visto que agora a altura do veículo voltava a estar nivelada. Além disso, tinha pneus para substituir. Assim que pudesse, iria mudá-los.

Tinha de chegar à vila. Sentia que ia desmaiar a qualquer momento, o sangue continuava a sair abundantemente do ferimento na sua têmpora e sentia que a tensão arterial estava a baixar. Voltou a entrar na carrinha e arrancou. Se pudesse pôr a carrinha na direção certa e ativar o controlo de velocidade constante... A bússola e o GPS indicavam que, se continuasse em linha reta, conseguiria.

Carregou no botão de localização de emergência, no seu telemóvel por satélite. A sua única esperança era que a enfermeira de Shellah-Akbar tivesse o seu recetor ligado.

 

 

Minutos depois, a carrinha entrava em Shellah-Akbar e, ao volante, estava uma mulher. Saíra a correr assim que recebera o sinal de emergência. Como era a única pessoa com conhecimentos médicos, fora com uma velha bicicleta ao encontro da carrinha, pedalando o mais depressa que conseguia, enquanto Abdel, um jovem corredor da vila que queria candidatar-se às próximas olimpíadas, a seguia a correr, para depois levar a bicicleta de regresso.

Ao encontrar a carrinha, que avançava em linha reta, desmontara da bicicleta, para que Abdel a levasse, abrira a porta do veículo e entrara com um salto.

Deitado ao seu lado, com a cabeça no seu colo estava o condutor, inconsciente, que tinha arriscado a vida para que tantos outros pudessem viver.

In-sh’allah – sussurrou a mulher e recitou uma prece em silêncio.

As preces não a tinham ajudado, mas talvez Deus sorrisse àquele homem valente. Não ia morrer. Naquele dia, não. Não, se ela conseguisse impedi-lo.