desj330.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Katherine Garbera

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma paixão passageira, n.º 330 - março 2018

Título original: Miranda’s Outlaw

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-958-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Miranda Colby afastou o seu Mercedes da estrada, com a certeza de que o seu carro não dava nem mais um passo.

O caminho para a montanha parecia um anúncio extraído de uma revista destinada aos que gostavam de desportos radicais.

Havia buracos e poças de água ao longo do caminho, tornando aquela estrada num pesadelo.

Ela sabia que a cabana deveria estar perto e estava decidida a chegar antes do temporal começar, por isso, saiu do carro.

Agarrou-se ao carro e retirou o pé de uma poça de água. Fez equilíbrio sobre um pouco de erva e tirou o seu pé direito da lama. Tanto o pé como o sapato estavam encharcados. Miranda suspirou desgostosa e começou a remexer no banco traseiro do automóvel, tentando encontrar uns ténis para calçar. Calçou-os e olhou para o céu.

Estava cheio de nuvens pretas e ameaçadoras e ouviu-se um trovão através do vale. «Uma oportunidade de aprender a sobreviver no mundo real», disse para si.

Agarrou no saco com os alimentos e na sua mala e fechou a porta do carro.

As indicações para chegar até à cabana não tinham sido muito claras, mas ela sabia que a cabana estava situada perto do cimo da montanha. Com aquela ideia na cabeça, continuou em frente até que encontrou outro caminho cheio de lama.

O vento do anoitecer açoitava as árvores. Miranda segurou com mais força o saco com os alimentos contra o seu peito e acelerou o passo. Uns minutos mais e estaria na cabana arrendada. Prometeu-se um banho de água quente, um chá e umas bolachas.

Quando estava a chegar a um cruzamento, o vento trouxe até aos seus ouvidos a voz de um homem a cantar uma balada sobre um amor perdido. Aquela melodia doce e a tristeza da sua letra tocou-a num lugar que parecia ter esquecido. Ficou surpreendida por um instante e, depois, ficou a ouvir aquela voz de barítono que o vento trazia através das árvores.

Onde estaria aquele homem que cantava? A imobiliária que lhe tinha arrendado a cabana tinha-lhe assegurado que ficaria sozinha e isolada. Quem quer que fosse deveria estar a cantar suficientemente alto para ela o ouvir, a não ser que…

Estivesse perdida.

Miranda gemeu em voz alta.

Virou numa curva e parou ao ver uma cabana de dois andares, de madeira e de vidro. Estava perfeitamente integrada na paisagem; inclusive parecia fazer parte da montanha.

O canto parou e a ele seguiu-se o barulho de água a correr. Miranda seguiu o barulho rodeando a casa. Olhou para a zona que estava à sombra no alpendre da casa e viu uma montanha de espuma branca, que cobria a superfície de uma antiga banheira. Aproximou-se e reprimiu a vontade de se despir e de se meter naquela água tentadora. Claro que nunca faria uma coisa dessas.

Da banheira saiu um vapor quente, que naquele clima frio era um convite. «Um oásis quente», pensou ela.

Miranda suspirou. Tinha tido uma semana esgotante no escritório, a época dos impostos deixava-a exausta, mas não tinha sido só o trabalho. Estava cansada dos seus amigos, do seu estilo de vida e cansada de ver o seu ex-namorado e a sua família em todos os lugares a que ia.

Ela dedicara-se exclusivamente à sua profissão e um dia percebera que lhe faltava algo. Apresentara a sua demissão, mas Mark não a aceitara. Dissera-lhe para pedir uma licença durante um tempo, que ele lhe guardaria o lugar. A oferta fora muito agradável, mas ela respondera-lhe que talvez não fosse voltar. Mark rira. Dissera-lhe que ela pertencia ao mundo das altas finanças e que era demasiado brilhante e competitiva para permanecer afastada dele durante muito tempo.

Miranda perguntava-se se ele teria razão.

Duvidava disso, naquele momento só queria paz e sossego.

O sol filtrou-se por entre as nuvens, desenhando espaços de sombra na erva e nas flores selvagens.

Estava na parte traseira de uma cabana de um desconhecido e teve a sensação de ter tomado a direcção errada. A Lei de Murphy voltava a atacar.

Enquanto olhava, viu emergir uma cabeça e um tronco por entre a espuma. Olhou para as costas musculosas, e para uma tatuagem de um pássaro num ombro. O homem continuou a sair da banheira e aquela ave tatuada, de repente, pareceu-lhe real e os seus dedos desejaram tocá-la.

Tossiu para chamar a atenção do homem, mas o som apagou-se antes de chegar aos seus lábios.

O desconhecido agitou a cabeça, salpicando de espuma tudo à sua volta. Esticou os braços para o céu, como se estivesse a dar as boas-vindas ao temporal que se aproximava, e Miranda sentiu-se ainda mais uma intrusa.

Ele inclinou a cabeça para trás e lançou um grito. Tratava-se do grito selvagem que o homem emitira ao longo de milhões de anos e que era a prova do macho primitivo que albergava dentro dele.

Ele tinha cabelo comprido e penteou-o com os dedos, mostrando um brinco com uma pedra no lóbulo da orelha.

Ao pé da banheira estava um chapéu de cowboy e um cigarro aceso. Não havia mais nada à sua volta, exceptuando um monte de roupa.

Ele apanhou o chapéu e colocou-o na cabeça, enquanto se apoiava atrás na banheira.

Ela nunca vira alguém que se sentisse tão descontraído a tomar banho ao ar livre como ele. Ela não se podia imaginar a si mesma naquela situação.

Miranda voltou a tentar dizer algo para o alertar da sua presença, mas estava demasiado fascinada por aquela imagem. Fechou os olhos e contou até dez. Quando os abriu, ele continuava ali.

O homem agarrou no cigarro e aspirou. Ela franziu o nariz ao cheirar o tabaco.

Definitivamente era real, o cheiro não podia fazer parte da imaginação de ninguém.

Antes dela se conseguir mexer, ele começou novamente a cantar. Mas já não se tratava de uma balada suave, mas sim de uma letra picante.

Ela ruborizou-se, mas depois sorriu. Durante anos considerara as anedotas provocantes dos seus colegas como algo sem importância, no entanto, a crueza daquele homem estava a envergonhá-la.

Sentia-se demasiado perturbada para lhe pedir informações sobre a estrada. Decidiu que se arriscaria a procurar sozinha o caminho. Virou-se sem querer fazer barulho, mas naquele momento pisou uma pedra e escorregou, atirando o seu saco de alimentos para o chão, e ela também caiu sentada no chão duro. Então, o homem levantou-se da banheira.

– Pare! – gritou ela, e tapou os olhos com as mãos.

Não podia aguentar tanta masculinidade nua.

– Estás bem, beleza? – inquiriu ele, do alpendre.

Aquela voz tão grave fê-la tremer.

Ela não disse nada, só agachou a cabeça. Sentia-se indefesa. Porque é que se aproximara da única pessoa a quem não podia perguntar? Um homem cuja voz a fizera estremecer, um homem que deveria conhecer aquelas montanhas como a palma da sua mão. Um homem que se estava a aproximar dela todo nu e molhado.

Miranda suspirou, tentando reprimir um riso histérico. Uma mão áspera e grande tocou no seu ombro.

– Está bem?

– Não… isto é, sim – replicou ela, sem destapar o rosto. – Estou bem – queria levantar-se, mas não o podia fazer se não destapasse o rosto. – Está decente?

– Vesti as calças – declarou ele, a rir.

Ela olhou entre os seus dedos e ficou contente por ver que vestira as calças de ganga. Ainda tinha a penugem do peito molhada e ela desejou tocá-lo novamente. Sabia que deveria deixar de olhar para ele, mas não conseguia.

Ela não era uma mulher que se deixasse levar pelos seus impulsos. Deveria controlar-se.

Ele segurou-a pelo braço para a ajudar a levantar-se.

– O que é que está a fazer na minha propriedade?

– Estou perdida.

Apesar do sorriso brincalhão do rosto masculino, a sua expressão não era amigável; deixava adivinhar uma desolação que Miranda conhecia bem. Uma parte dela queria aproximar-se de alguém cujas feridas fossem tão profundas como as dela, mas o seu bom senso dizia-lhe que deveria manter-se à distância.

Como é que aquele homem grande e forte como uma rocha poderia ter algo em comum com ela?

O desconhecido olhou para ela durante um bom bocado. Ela pensou que deveria ter a roupa rasgada ou o rosto sujo de lama e passou as mãos pelas suas faces.

– Oh, querida! Quem está perdido sou eu – sorriu.

Aquele sorriso apanhou-a desprevenida e, sem o conseguir evitar, sentiu que se derretia com aquelas palavras.

– Arrendei uma cabana aqui perto, nos Alojamentos de Mountain Lake. Poderia dar-me indicações para chegar lá? – os seus alimentos estavam espalhados no chão e Miranda apanhou-os rapidamente, mas o saco de papel estava roto, como acabou por descobrir ao tentar meter nele os alimentos.

– Será melhor que a acompanhe – ele dirigiu-se para o alpendre.

Ela olhou para as suas pernas compridas.

O homem sentou-se num banco de madeira, com o cigarro na boca, e calçou umas botas à cowboy.

– Tenho mais sacos em casa, vou trazer-lhe um.

Miranda viu-o desaparecer pela porta da cabana.

– Onde é que está o seu carro? – inquiriu ele, quando voltou com os sacos e a ajudou a guardar as coisas. Uma t-shirt descolorida tapava a sua tatuagem, mas deixava os seus músculos a descoberto.

– Lá em baixo. Ao pé da colina. Não percebi que o terreno era assim tão íngreme.

– Então, primeiro vou levá-la até ao seu carro – ele deu-lhe um pacote de bolachas de chocolate e uma lata de feijão.

– Não precisa de se incomodar – declarou ela. Não gostava de depender de ninguém e muito menos de um homem. Esperavam sempre algo em troca de algum favor.

Ele meteu tudo no saco sem olhar.

– Assinale-me só a direcção que devo tomar.

Ele tirou o cigarro da boca e ela observou-o a expelir o fumo. Ficou fascinada pela espiral que se formara.

– Não me importo de a levar.

Miranda notou na expressão do seu rosto que estava decidido a ajudá-la, quer ela quisesse quer não. Não gostava que ele tivesse suposto que ela precisava de ajuda, mas não queria desafiar aqueles olhos castanhos. Naquele dia não estava para batalhas.

– Esta montanha é perigosa, querida – declarou ele, como se tivesse lido o seu pensamento. – Sobretudo para as pessoas inexperientes que vêm de férias. E quanto antes a levar para a sua cabana, mais depressa desaparecerá da minha vista. Não se ofenda, menina, mas gosto da minha privacidade.

Miranda não se preocupou em corrigi-lo e dizer-lhe que não estava de férias. Que pensasse o que quisesse. Felizmente, não o voltaria a ver.

Pensou que lhe mandaria uma caixa de charutos para lhe agradecer a sua ajuda e replicou rigidamente:

– Obrigada. Se está decidido a fazer de guia, podemos ir embora?

– Claro, beleza.

Miranda acabou de apanhar as coisas do chão e tentou não olhar como o homem tinha as calças coladas ao corpo e não registar a sensação que tinham provocado os seus dedos ao tocar nela, nem que o seu corpo feminino parecia reconhecer algo naquele desconhecido que a sua mente não podia aceitar.

Ouviu-se um trovão e um relâmpago atravessou o céu ao longe.

– Esse trovão ainda está longe, querida. Vamos chegar primeiro ao seu carro.

– O meu nome é Miranda Colby – declarou ela, friamente. Não gostava que lhe chamassem nomes genéricos como: «querida» ou «beleza».

– Sou Luke Romero – replicou ele, apertando-lhe a mão.

Aquela mão era forte e firme, não como a mão dos homens a que ela estava habituada.

– Será melhor irmos já, se não queremos que a chuva nos apanhe.

E rodeou a casa e ela seguiu-o.

 

 

Luke colocou o saco com os alimentos no banco traseiro da sua camioneta e ajudou-a a entrar.

Ela sorriu e agradeceu-lhe, embora percebesse que ele não queria a sua companhia.

Ele suspeitava que o cansaço dela fosse mais além da fatiga que o excesso de trabalho ou o guiar durante muitas horas trazia. Ela tinha um ar de vulnerabilidade que não enquadrava com o seu aspecto.

«Magoada», pensou ele. Dava essa impressão, mas aquele corpo despertava nele sensações libidinosas.

Apesar de ter prometido a si mesmo que não voltaria a aproximar-se de uma mulher, não podia deixar de reparar na sua t-shirt justa, nem em como as suas calças de ganga apertavam as suas ancas.

Ficou contente que a mulher quisesse desfazer-se dele. Não queria nada com ela e tinha ido viver para a montanha para fugir disso.

No entanto, podia ser que a única coisa que a perturbasse fosse precisar de ajuda de alguém. Muitas mulheres queriam sentir-se auto-suficientes naquela época. Fosse como fosse, ele não tinha ido para a montanha para servir de cavaleiro a nenhuma dama desesperada, mas sim para se afastar das tentações da cidade e para encontrar um lugar onde pudesse ficar em paz e sossego.

Luke guiou em silêncio e entre eles ficou uma atmosfera tensa.

Virou numa curva e viu um carro desportivo verde a um lado da estrada, com as rodas metidas na lama.

Luke reprimiu uma maldição e inquiriu:

– Este é o seu carro?

– Sim. Não sabia que a montanha seria…

– Tão íngreme – concluiu ele.

E pensou que o velho Edgar deveria deixar de arrendar a sua cabana de caçador a pessoas inexperientes.

Ele não via a hora de se desfazer dela, mas sabia que, naquelas condições, a rapariga não poderia utilizar o seu carro.

Aproximou-se do Mercedes e prendeu-lhe uma corrente. A chuva começou a cair fortemente.

Ele ficou imóvel durante um segundo, pensando que Deus o castigara pelos pensamentos que tivera em relação à mulher. Não tinha o direito de pensar nela em termos puramente sexuais e agora estava a pagar por isso.

Amarrou a corrente à parte de trás da camioneta, antes de voltar a entrar nela.

Aquele cheiro a terra molhada parecia misturar-se com a fragrância de Miranda Colby. Os seus instintos mais primitivos pareciam estar a pregar-lhe uma partida.

Miranda olhou para ele com ar de culpabilidade. Ele sentiu um desejo repentino. Sabia que não a podia ter, mas isso não o impedia de a desejar.

Luke pensou então que estava há demasiado tempo sem uma mulher. Não disse nada, nem olhou para ela. A chuva irritava-o sempre. Ela não tinha culpa que ele tivesse querido ajudá-la.

– Tenho pena que se tenha molhado – desculpou-se ela.

Ele anuiu, mas não disse nada. Olhou para o carro dela pelo espelho retrovisor para se assegurar que o conseguia rebocar sem problemas pela encosta da montanha. Depois, colocou o motor em andamento. Quando arrancou, o carro de Miranda saiu a tropeçar da poça de lama.

Ele respirou fundo, como se quisesse respirar a essência dela. Havia algo puro e inocente naquela mulher, apesar da sua sofisticação. Não tinha a força agressiva que encontrara nas mulheres da cidade. Conhecia muitas que só ansiavam uma coisa dos homens. Mas embora o seu aspecto lhe dissesse que era uma mulher de sucesso, tinha ar de quem ainda tinha muito para experimentar.

E ele já esquecera como era a inocência.

Não parecia uma mulher que quisesse estar isolada na montanha. A água tinha molhado o seu cabelo e tinham-se formado caracóis à volta do rosto, dando-lhe um ar de pequeno duende, mas sabia que aquele cabelo poderia ser penteado com sofisticação.

Quis deixar de se concentrar em Miranda e concentrar-se na tarefa de rebocar o carro. A sua camioneta podia perfeitamente com o Mercedes, mas o carro dela preocupava-o. Tinha parte da chapa amolgada e estava numas condições desastrosas. Admirava-se que tivesse chegado até lá. Isso mostrava certa determinação por parte dela.

– Por favor, pare – pediu ela.

Luke olhou surpreendido para ela e travou.

– Prefiro ir para a minha cabana.

– Querida, a sua cabana fica do outro lado da montanha. Com este tempo demoraríamos pelo menos vinte minutos a caminhar sob a chuva. Mas pode demorar duas horas com o carro.

– Então, será melhor que não continue a perder tempo. Obrigada – ela abriu a porta e estendeu a mão para o saco com os alimentos. – Vou colocar isto no Mercedes.

– Não pode ir com esse carro. Se quiser, eu deixo-a tentar, mas depois não vou conseguir tirá-la da lama até o temporal acabar.

O gesto dela indicou que tinha cometido um erro. As suas palavras tinham sido tomadas como um desafio, em vez de terem sido tomadas como um facto.

– Querida, trata-se do carro e não da menina.

Ela ficou ali de pé, fazendo-o sentir-se tão miserável como há muito tempo não se sentia, como quando Brett tinha olhado para ele com olhos chorosos e lhe perguntara porque é que ele não era mais o seu pai.

– Não posso ficar consigo – declarou ela, com a voz a tremer.

– Não lhe estou a pedir que venha viver comigo, mas pode ficar na minha cabana até que a chuva pare.

Ela hesitou, mas não tinha outra opção. Anuiu e disse:

– Só até que pare de chover um pouco e depois irei a pé até onde arrendei a cabana.

A chuva abrandou um pouco, mas Luke sabia por experiência que não deixaria de chover até ao dia seguinte. Embora a trovoada não fosse tão intensa, o chão estaria escorregadio e a noite seria traiçoeira. Já começara a escurecer e dentro de vinte minutos seria noite cerrada.

Ele esperou até que ela se voltasse a sentar e fechasse a porta. Ele não queria olhar para ela, mas a imagem daquela mulher com a sua t-shirt molhada continuava na sua mente. A imagem dos seus mamilos endurecidos contra o tecido de algodão frio e húmido não o abandonava. Seriam assim tão receptivos ao tacto das suas mãos?

«Maldita mulher!», exclamou para si, e praguejou por se preocupar pela sua segurança. Aquele toque de vulnerabilidade sob a fachada sofisticada fazia-o sentir vontade de a proteger, apesar da experiência negativa com a sua ex-mulher

Não podia deixar que fosse sozinha para a cabana do caçador Edgar. A montanha e a Mãe Natureza não costumavam ser muito amáveis com o sexo fraco.

Sabia que algumas mulheres eram fortes, inclusive mais fortes do que ele, mas aquela não.

Dava a impressão de que o vento a poderia levar. Não tinha carro, nem casaco, e provavelmente insistiria em levar o saco de alimentos com ela. Luke negou com a cabeça.

Meteu o carro no caminho da sua casa e olhou para a mulher cujos olhos cinzentos lhe lembravam a neblina que envolvia a montanha todas as manhãs. Os seus olhos brilhavam com inteligência e com medo. Teria medo dele?

Ele foi abrir-lhe a porta da camioneta, mas ela já tinha descido, quando ele deu a volta ao carro. Tinha o saco de comida apertado contra o peito como se se tratasse de um escudo. Tirou-lhe o saco e dirigiu-se para a sua casa. Ela seguiu-o.

Sentiu um frio interior quando a conduziu pelo alpendre da entrada da casa que ele mesmo construíra. Perguntou-se o que ela pensaria e sentiu-se orgulhoso.

Sabia que a sua cabana estaria quente e seca e não queria voltar para a noite húmida.

– Faz frio e está muito escuro. Os bosques são perigosos para os novatos. Fique comigo até amanhã.

– Prefiro continuar – declarou ela.

O tom suave e cansado alertou-o de que ela precisava de estar num local sossegado onde se pudesse descontrair e esse local não era a cabana de um solteiro. E, na realidade, quanto antes se fosse embora, melhor para ele.

– Está bem, vou levá-la, mas com uma condição.

– Qual?

Ele queria que se sentisse calma e sossegada, mas sabia que não a iria convencer facilmente. Antes de se retirar para a montanha, tinha vivido intensamente e tinha andado com a companhia de mulheres de moral duvidosa…

Ele sorriu e disse:

– Beleza, o que é que lhe parece um quarto seco e quente para si e para mim…?