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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Barbara Joel

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma pequena mentira, n.º 336 - março 2018

Título original: Callan’s Proposition

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-962-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Um banho quente, uma cerveja gelada, uma mulher.

Callan Sinclair suspirou ao pensar nos três primeiros tópicos da sua lista de prioridades. Depois de quatro horas a caminhar à chuva e, por cima do barro do terreno em construção de Woodbury, meia hora a mudar o pneu furado da sua camioneta e quase três horas a viajar por aquela estrada, Callan concluiu que o banho quente viria em primeiro lugar.

As calças de ganga e as botas estavam cheias de lama seca e um pó fino cobria os seus cabelos, tornando cinzento o que era preto. Só um longo gole de cerveja podia aliviar a garganta ressequida da poeira.

Já se imaginava sentado no banco do café do seu irmão Reese, com uma grande caneca de cerveja gelada, a ver o jogo na televisão e a ouvir uma canção de Bonnie Raitt. Era capaz de ouvir a voz melodiosa a chamar por um amor perdido.

Na verdade, podia deixar a parte da «mulher» para o dia seguinte, pensou, enquanto subia a escada que levava ao seu escritório. Abigail, a sua secretária, estava determinada a encontrá-lo. Tinha enviado três mensagens enquanto Callan estava no terreno e ele não pôde contactá-la, porque se esqueceu de carregar a bateria do seu telemóvel.

No entanto, não era motivo para preocupação. Abigail Thomas era capaz de resolver qualquer emergência. Por trás dos cabelos loiros, sempre presos no alto da cabeça, dos óculos graduados e das roupas sóbrias, estava a mais organizada e competente secretária do mundo.

Durante um ano inteiro de trabalho, nunca se atrasou, nunca se mostrou indisposta ou com perturbações emocionais; era cordial com os clientes e, sobretudo, nunca incomodou Callan com aspectos da sua vida pessoal.

Ele nem sequer sabia se ela tinha uma vida pessoal. A maioria das pessoas considerá-la-ia insípida, mas que importância é que isso tinha? Abigail Thomas era perfeita no trabalho e isso é que importava.

Olhou para o relógio ao entrar no escritório. Eram quatro horas da tarde. Tinha tempo para resolver o problema de Abigail, passar pelo apartamento para tomar um banho e, por fim, ir ao café de Reese.

Talvez ligasse a Shelly Micheals a fim de a convidar para sair. Nos últimos tempos não teve muita disponibilidade para encontros amorosos; contudo, ele e Shelly encontravam-se de vez em quando. Ela era sexy, divertida e não pensava em alianças de casamento.

Aos trinta e três anos de idade, Callan devia pensar em construir uma família, mas ainda não estava pronto para assumir um compromisso tão sério. Talvez dali a um ano ou dois ou três…

Sempre imaginou que Gabe, o irmão mais velho, devia ser o primeiro a mergulhar nas águas profundas do matrimónio, mas nenhum dos irmãos Sinclair estava predisposto a correr o risco.

Por enquanto, a única mulher constante na vida de Callan era a sua secretária. A fiel e valiosa Abigail Thomas, que trabalhava na Construtora Sinclair há um ano.

Gabe era o encarregado das restaurações e reformas, portanto, raramente aparecia no escritório. Lucian ocupava-se dos operários e usava o seu trailer como base de operações. A Callan restava a administração do escritório principal, o qual ele conhecia muito pouco, tendo em vista a eficiência de Abigail.

Desde o início da construtora, cerca de cinco anos atrás, eles contrataram muitas secretárias. Porém, quando Abigail foi contratada, Callan deparou-se com uma jóia rara: era um sonho que se tornava realidade.

Ao entrar no escritório, pestanejou algumas vezes e voltou a olhar para a placa fixa na porta - Construtora Sinclair – que estava no local certo.

Mas não com a mulher certa!

Uma morena, pequena, com uma blusa muito justa que realçava os seios fartos, estava sentada à frente da secretária de Abigail. Falava ao telefone e, quando o viu, ergueu a mão de unhas longas, pintadas de vermelho, e pediu que esperasse.

O que é que estava a acontecer?

Aquela mulher não era o único engano, deduziu Callan. A sala da recepção parecia um verdadeiro caos: a correspondência estava espalhada pela mesa e as gavetas do arquivo encontravam-se abertas. Havia um barbante atado à maçaneta da porta da sua sala ligado à maçaneta da sala de Gabe. Papéis e projectos foram pendurados no barbante, como se fosse um varal de roupas. Além de tudo isto, ele sentiu um forte cheiro a queimado.

– Eu disse a Tina que Joe Gastoni era um palerma – dizia a morena ao telefone. – A Tina ouviu-me? Claro que não. Agora chora como uma criança, pobre coitada.

A morena olhou novamente para Callan que, ao aproximar-se, tropeçou num pacote que estava no chão. Resmungou, numa linguagem pouco adequada, chamando a atenção da morena.

– Tenho que desligar, Sue. Ligo-te mais tarde – desligou o telefone e sorriu. – Posso ajudar?

– Quem é a senhora?

– Primeiro preciso de saber quem é o senhor.

– Callan Sinclair.

A mulher semicerrou os olhos, pensativa.

– Oh, Sinclair. Deve ser o irmão de Gabe e Lucian. Eles são os donos da empresa, mas ainda não os conheci.

– Nós os três somos os donos da empresa – informou Callan. – E o seu nome é?

– Francine. A agência de empregos mandou-me.

– Onde está a Abigail? Ficou doente?

– Abigail? – a morena franziu a testa. – Oh, refere-se à mulher que trabalhava aqui.

– Não. Refiro-me à mulher que trabalha aqui. Loira, óculos graduados, mais ou menos um metro e setenta: Abigail Thomas.

– Certo. Bem, pediu a demissão – disse Francine. – Estou a substituí-la.

Demissão? Impossível. Abigail nunca se demitiria.

– O que é que aconteceu aqui? – perguntou Callan ao indicar a desordem da sala.

– Ora, é o meu primeiro dia de trabalho – explicou Francine. – Preciso de aprender a manusear o sistema de arquivo. É muito confuso.

O alfabeto era confuso? Callan sentiu que o seu cérebro ia estourar com os nervos.

– E quanto a isto? – apontou para o varal improvisado.

– Oh, meu Deus! Wayne ficou mortificado por causa disso.

– Wayne?

– Um homem de cabelos grisalhos e bigode.

– O engenheiro civil?

– Sim. Eu estava a ajudá-lo a enrolar os projectos e, sem querer, ele entornou café nos papéis.

Callan cerrou os dentes. Perante o decote escandaloso de Francine, era de esperar que Wayne tivesse um ataque de coração.

Também reparou no ecrã do computador a piscar enquanto se lia erro e arquivo excluído; Callan achou que ele próprio teria um enfarte.

Como é que aconteceu tanta coisa num só dia? Tinha falado com Abigail na tarde anterior. Estava tudo bem, aliás, perfeito. Como é que ela se demitiu? Sem um aviso ou um bilhete? Abigail não faria isso!

– Os meus irmãos sabem do despedimento da senhora Thomas? – perguntou Callan à futura ex-secretária.

– Eles não estiveram no escritório hoje. A senhora Thomas disse-me que Gabe praticamente não vem ao escritório, porque trabalha em casa, e Lucian vem de vez em quando. Posso servir-lhe uma chávena de café, senhor Sinclair?

Callan olhou para a máquina de café, que estava atrás de Francine, e descobriu a origem do cheiro a queimado. Ficou ainda mais aborrecido.

– A senhora Thomas teceu algum comentário relativamente ao motivo pelo qual resolveu ir embora ou para onde iria?

Para Francine a pergunta era um enigma.

– Que eu me lembre não.

Callan cerrou os dentes com tanta força que ouviu o barulho.

– Tem a certeza? – perguntou, impaciente.

Quando Francine baixou os olhos, num gesto pensativo, reparou no excesso de maquilhagem das pálpebras.

– Não, ela não disse nada. Ah! – exclamou Francine. – Creio que a senhora Thomas deixou uma carta na sua secretária, senhor Sinclair.

Francine continuava a resmungar quando Callan entrou na sua sala, pegou no envelope e abriu-o.

 

Caro senhor Sinclair,

Lamento informá-lo da minha súbita necessidade de abdicar do cargo de secretária na Construtora Sinclair. Peço desculpa por não o ter avisado com antecedência. Imagino que tal atitude seja imperdoável e espero que Francine cumpra as obrigações da melhor forma possível.

Obrigada por me ter proporcionado este ano de trabalho. Gostei muito de trabalhar para si.

Sinceramente,

Abigail Thomas

 

Callan analisou a carta; tinha sido dactilografada e assinada.

Que significado tinha aquela carta? «Gostei muito de trabalhar para si»… e adeus! Sem um motivo ou uma explicação?

Amassou o papel e atirou-o para o cesto do lixo. Precisava de a encontrar para esclarecer aquela atitude repentina. Pagaria o dobro, o triplo do salário, se era isso que Abigail desejava. Ela podia ter mais tempo de folga… não muito, claro. Um seguro de saúde e um carro à disposição. Qualquer coisa, menos a demissão.

Iria a sua casa, decidiu. Esqueceria o banho, a cerveja, tudo. Tratava-se de uma emergência. Precipitou-se para a porta, mas deteve-se.

Onde é que ela morava?

Há um ano que Abigail trabalhava na empresa e ele não sabia o seu endereço. Casa ou apartamento? Podia até viver num hotel. Ou com a família.

Abigail tinha família? Callan não sabia ao certo. Como é que a tinha contratado sem obter esse tipo de informações?

Resolveu procurar a agenda das moradas; devia encontrar alguma pista. Ele ia encontrá-la e quando o fizesse…

O telefone tocou. Atendeu imediatamente não permitindo que a nova secretária o fizesse.

– O que é? – resmungou.

– Que maneira agradável de atender o telefone – disse Reese, o seu irmão, do outro lado do telefone.

– Estou no meio de uma crise, Reese. O que é que queres?

– Essa crise tem alguma coisa a ver com a tua secretária?

– O que é que sabes sobre a minha secretária? – Callan apertou o telefone.

– Não muito. Excepto que ela está no meu café e parece determinada a embebedar-se. Pensei que…

Callan desligou o telefone e saiu rapidamente, ignorando a expressão assustada de Francine. Abigail a embebedar-se? Era inacreditável. Abigail não bebia… Ou bebia? Mais um aspecto da vida da sua secretária que ele desconhecia.

Mas passaria a conhecer. Tencionava descobrir tudo acerca da senhora Abigail Thomas. Depois, ela voltaria à empresa, lugar do qual nunca devia ter saído.

Custasse o que custasse.

 

 

Abigail nunca esteve no Café do Nobre, nem no hotel que tinha o mesmo nome. No último ano, ela passou diante do estabelecimento todos os dias a caminho de casa, mas nunca lá entrou, nem pensou nessa possibilidade.

Até àquela tarde.

Tal como o nome sugeria, o café era um típico bar inglês: as paredes de madeira estavam cobertas de imagens das maravilhosas paisagens de Inglaterra e de cartazes publicitários de bebidas escocesas; a lareira era toda em pedra. Se não fosse a televisão sobre o balcão do bar e as baladas de Bob Seger, Abigail sentir-se-ia num dos pubs ingleses, descritos por Shakespeare.

Como era cedo, estavam poucas pessoas; um casal partilhava uma garrafa de vinho e três homens, sentados ao balcão, tomavam cerveja e comiam petiscos. Não repararam nela. Uma coisa vulgar, já que ninguém reparava em Abigail Thomas.

E era exactamente isso que ela queria.

Respirou fundo, endireitou os ombros, tomou um gole da bebida que a empregada serviu… E, engasgou-se.

Meu Deus! Parecia ter engolido uma labareda. Pegou num guardanapo de papel e limpou os lábios. Tinha conseguido chegar à idade de vinte e oito anos sem saber que as bebidas alcoólicas podiam ser horríveis. Na verdade, pretendia passar mais vinte e oito anos sem as provar outra vez.

Pediu o coquetel mais inofensivo da lista e, mesmo assim, concluiu que devia ter perguntado à empregada em que é que consistia a composição daquela bebida que lhe queimava o corpo, desde a garganta ao estômago, e prosseguia até aos dedos dos pés. Devia ter pedido uma taça de vinho. Não por gostar, mas porque sabia que com o vinho não se engasgava.

«Oh, e depois?», pensou e ergueu o copo, tomando um gole mais longo. Não estava a beber por prazer. Bebia pelo efeito.

Depois de alguns goles, Abigail concluiu que o efeito era satisfatório. Sentia-se leve e um pouco tonta, sintomas que a faziam rir das pequenas coisas, como as orelhas enormes dos homens no bar ou o macaco a tocar piano na televisão. Aquela cena era hilariante.

Bebeu outro gole e arrepiou-se ao sentir a bebida percorrer-lhe a garganta. Talvez, antes da noite acabar, ela encontrasse algum ponto positivo no facto de ter abandonado o trabalho.

Passou o dia preocupada com a mulher que a agência de empregos enviou para a substituir. Francine não usava roupas adequadas nem possuía grande experiência; porém, era a única que a agência tinha e Abigail teve que contratá-la.

Com a repentina chegada da tia Ruby e da tia Esmeralda não podia continuar na Construtora Sinclair.

Como é que ia encarar o senhor Sinclair quando ele descobrisse a sua mentira? Seria humilhante de mais.

Por isso, pediu a demissão. Sentia-se mal por não ter deixado uma notificação mais oficial, mas não teve escolha. Se Francine não servisse para o cargo, ele arranjava outra. Aliás, certamente, faria isso.

As lágrimas começaram a aparecer. Abigail não queria pensar no senhor Callan Sinclair. Afinal, estava num local público e não queria dar espectáculo. Ficaria sozinha no café e esqueceria o patrão, o trabalho e as tias que estavam para chegar.

– Oh, que grande confusão… – murmurou.

Com um suspiro resignado, investiu novamente na bebida. Ficou surpreendida ao perceber que não era tão má como da primeira vez. Na verdade, o sabor pareceu-lhe agradável. Um pouco doce e, ao mesmo tempo, ácido.

Gostou da sensação. Então, desabotoou o primeiro botão da blusa, que usava debaixo do casaco, porque se sentiu acalorada. Nas horas seguintes estava determinada a não pensar no caos que transformou a sua vida.

Tinha tempo para reflectir. Ou melhor, desabotoou o segundo botão, tinha o resto da vida para reflectir.

De repente, uma das canções do musical Grease começou a tocar. Lembrou-se da personagem de Olívia Newton-John a dizer a John Travolta que era melhor ele arranjar-se. Abigail sorriu e acompanhou a música que conhecia tão bem.

Em pensamento, apagou um cigarro sob a sandália de salto alto, apontou para Travolta e moveu os quadris, enquanto lhe dizia que precisava de um homem que a satisfizesse.

Contudo, o homem da sua fantasia não era John Travolta; era Callan Sinclair.

– Posso sentar-me?

Abigail teve um sobressalto, susteve a respiração e olhou para cima.

Oh, meu Deus!

O coração disparou ao ver os olhos castanhos fixos nela e os lábios que formavam uma linha fina. Ele parecia muito sério. Por alguma estranha razão, Abigail achou-o cómico.

No entanto, em vez de rir, recompôs-se, endireitou os óculos e consentiu.

Callan Sinclair sentou-se à sua frente. Ele parecia ter atravessado um deserto de lama. Abigail pensava por que razão aquele odor másculo tanto a atraía e por que motivo achava encantador o pó cinzento que lhe cobria os cabelos e as roupas.

Impetuoso foi a palavra que lhe veio à mente. E viril.

Normalmente, a presença de Callan Sinclair intimidava-a. O corpo musculoso chamava a atenção das pessoas, homens e mulheres. Sem dúvida, ele devia possuir uma anatomia invejável. Era também sedutor e dono de um sorriso devastador.

Contudo, não estava a sorrir e Abigail sabia o motivo.

Callan apoiou as mãos sobre a mesa de madeira e inclinou-se. Tinha uns dedos longos e maravilhosos, pensou, fitando-os. As mãos, cujas unhas tinham sido cortadas rentes aos dedos, eram largas e no polegar havia uma cicatriz.

Abigail percebeu o súbito desejo de cobrir aquelas mãos com as dela para sentir a aspereza ou maciez da pele.

Quando ergueu o rosto e o encarou, a intensidade dos olhos castanhos pareceu sugar-lhe o ar dos pulmões. Não se lembrava de ter sido observada com tanto interesse; muito menos de o ver a olhar para si da maneira como o fazia naquele instante. Pela primeira vez, Abigail não se sentiu invisível e não tinha a certeza se apreciava a sensação.

– Senhor Sinclair…

– Recuso-me a aceitar a sua demissão.

Aquela voz profunda e familiar nunca soara tão firme. «Ele gosta de mim», pensou Abigail, surpreendida. Logo se corrigiu. «Como funcionária da empresa, claro».

– Perdoe-me por sair assim subitamente, mas estou certa de que Francine resolverá os problemas da construtora. Ela é muito…

– Eu disse – ele baixou o tom de voz, – que me recuso a aceitar o seu pedido de demissão. Francine não serve. Eu quero-a a si, Abigail.

As palavras comoveram-na e ela corou. «Eu quero-a, Abigail». Sentiu-se sugada por ele, mas rapidamente repreendeu-se em silêncio: «Como secretária, sua tola».

Acomodou-se na cadeira e tomou mais um longo gole da bebida, sem saber o que responder. O líquido não queimou a garganta; era, de facto, delicioso. Então notou que o copo estava quase vazio e não gostou.

– Posso pagar-lhe uma bebida, senhor Sinclair? – Abigail nunca ofereceu uma bebida a um homem. À excepção de Lester Green, o colega da companhia de seguros para a qual ela trabalhou em Nova Iorque. Mas foi apenas um sumo e Lester não possuía os olhos sedutores do senhor Sinclair.

O patrão franziu a testa e fitou o copo diante dela.

– O que é que está a beber?

– Chá gelado.

– Chá gelado?

– Um coquetel chamado Manhattan – corrigiu ela, e voltou a beber.

– Quer dizer chá gelado Long Island?

– Isso mesmo. O senhor quer um?

– Já tinha tomado esse tipo de bebida? – indagou, cautelosamente.

– Claro que não, seu tolo! – Abigail levou as mãos aos lábios. – Desculpe-me, senhor Sinclair.

– Porque é que não me chama Callan? – disse ele, e acenou para o homem atrás do bar.

Era um homem de aparência familiar, pensou Abigail, e arranjou os óculos para ver melhor.

– Conhece aquele homem?

– É o meu irmão Reese – respondeu Callan. – É proprietário do café e do hotel.

Reese Sinclair. Abigail quase desfaleceu. Ele esteve no escritório algumas vezes no último ano. Sempre envolvida com os seus problemas, esqueceu-se desse pormenor importante; Reese era dono do Café do Nobre. Por isso é que o senhor Sinclair a encontrou.

– Senhor Sinclair, eu…

– Callan – lembrou ele.

– Callan – Abigail nunca o tratou assim. – Tenho muita pena de ter deixado o emprego tão depressa. Mas não tive outra opção.

A empregada trouxe uma caneca de cerveja e uma chávena de café para Abigail.

Ela não queria café. Pela primeira vez naquele dia, não sentia mais aquele aperto no peito; estava calma e descontraída.

E quente. Sentia-se ferver. Desabotoou outro botão e, ignorando o café, bebeu mais um pouco do coquetel gelado. Como ainda tinha calor, tirou o casaco.

A espuma da cerveja escorria pela caneca quando Abigail sacudiu a blusa branca. Callan provou a cerveja e fitou-a, espantado.

– Deve-me uma explicação, Abigail. Não pode deixar-me sem uma razão objectiva. Encontrou outro trabalho?

– Não.

– Quer um aumento de salário?

Ela ergueu o queixo, insultada.

– Claro que não. Se quisesse aumento, teria pedido.

– Então por que razão se demitiu?

– Não posso contar. É pessoal.

– Está doente?

Abigail meneou a cabeça em negativa.

– Grávida?

– Meu Deus, não! – ela arregalou os olhos.

Callan reflectiu durante alguns segundos.

– Está noiva.

Atónita, ela baixou o rosto e tomou outro gole.

– É isso? – Callan aproximou-se. – Está noiva?

O coração de Abigail voltou a disparar. Queria negar, alegar que estar noiva era ridículo, mas mesmo com o alto teor de álcool nas veias ela não conseguia mentir.

– Mais ou menos – murmurou, sentindo-se corar.

– Mais ou menos? – repetiu ele. – Quem?

– Como?

– Quem é ele? Bloomfield não é uma cidade grande. Talvez eu o conheça.

A irrealidade da situação em que se encontrava apanhou-a de surpresa. Ela tapou os lábios e começou a rir. Callan encarava-a, incrédulo.

– Qual é a graça?

– O senhor – respondeu ela, entre risos.

– Sou engraçado?

– Não – Abigail respirou fundo. – O senhor é o meu noivo.