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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Eileen Wilks

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Falsa lua-de-mel, n.º 341 - março 2018

Título original: Just a Little Bit Married?

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-965-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Estava a sonhar com sangue e com frio.

Raz estava despido, quando o telefone tocou naquela manhã de Dezembro. Em algum momento da noite tinha atirado os cobertores ao chão. Tinha a pele gelada e sabia bem o que aquele frio queria dizer… e a que é que se devia o sangue.

– Rasmussin – murmurou, depois de agarrar no auscultador, ao mesmo tempo que procurava um cigarro e um isqueiro, tacteando às escuras. Lembrou-se então de que tinha deixado de fumar, exactamente há dois meses e três dias.

– Bom dia – cumprimentou o seu irmão.

Raz esfregou o peito com uma mão, tentando, em vão, aquecer-se.

– São sete e um quarto – replicou, irritado. – Queres que te diga quantas horas dormi?

– Não, realmente não – respondeu Tom, do telefone do seu carro. – Mas quero que me oiças atentamente: Xavier fez ontem uma visita a uma das minhas testemunhas.

– Diabo! – praguejou Raz. Podia já não fazer parte do departamento da polícia de Houston, mas mesmo após tantos anos continuava a manter-se a par dos seus casos mais importantes. Sabia que Xavier e outros membros dos Padres tinham sido vistos num tiroteio que houvera na sala de urgências de um hospital, no qual tinham morrido quatro pessoas e três tinham ficado feridas.

Os meios de comunicação tinham-no qualificado como o maior caso de violência. Talvez por se ter desenrolado fora da área da actuação habitual do gang dos Padres. Devido à repercussão que tivera, o caso tinha ido parar ao Departamento de Investigações Especiais. A equipa de Tom já prendera os outros dois criminosos, mas Xavier continuava à solta.

– Xavier foi directamente para a casa da testemunha – declarou Tom. – As balas quase o cortaram em dois. O vizinho que estava a falar com ele naquele momento está em estado crítico.

– Meu Deus! – Raz resignou-se a aceitar que estava totalmente acordado às sete e um quarto da manhã. – Mas havia outras duas testemunhas, não havia?

– Uma delas sofreu um ataque repentino de amnésia depois de saber o que aconteceu ontem à noite.

– E a outra?

– Continua disposta a declarar – afirmou Tom, com satisfação. – No entanto, está muito assustada e com razão. Não tenho ninguém que a possa proteger durante vinte e quatro horas por dia, até prendermos o Xavier.

– Tom, eu não…

– Convenci-a a contratar um guarda-costas. É médica, por isso deve ter dinheiro suficiente.

– Perfeito, genial. Já lhe falaste da agência North? São muito bons e…

– Estás sempre a dizer que queres ter a tua própria carteira de clientes – interrompeu-o Tom. – Claro que nós sabemos que é só uma desculpa para que possas continuar a ver como te crescem as unhas dos pés, enquanto passeias de calções curtos. Quantos trabalhos recusaste este mês?

– Tenho estado à procura de trabalho – mentiu.

– Quantos recusaste?

– Não é da tua conta – replicou Raz, com hostilidade. Tinha recusado três trabalhos. – Ouve, sei que a tua intenção é boa, mas não preciso que o meu irmão mais velho me venha salvar de mim mesmo. Eu posso encontrar trabalho sozinho – acrescentou, com mais suavidade.

– A sério que pensas que estou a fazê-lo por ti? – zangou-se Tom. – Eu não punha em perigo as minhas testemunhas por ti, nem por ninguém. Mas preciso de um guarda-costas que a proteja. Quando deixares de ter pena de ti próprio, lembra-te de que és quase tão bom quanto achas que és.

– A agência North…

– Não tem ninguém tão bem preparado como tu. Eu quero ter a garantia máxima – Raz arqueou uma sobrancelha: ter-se-ia o seu irmão envolvido pessoalmente naquele caso? Não com a testemunha. Tom era demasiado honesto para enganar a sua esposa. E continuava apaixonado por ela. – Quero que sejas tu a tomar conta do caso. Jacy recebeu ontem uma carta anónima de Xavier. Pelo que parece, ele não está contente com os artigos que ela escreveu sobre o tiroteio.

– Não lhe aconteceu nada, pois não? – preocupou-se Raz. – E o bebé?

– Os dois estão bem. Ela diz que estou a exagerar. Que há mais jornalistas que receberam as mesmas cartas anónimas e que nem sequer um maluco como Xavier pode matá-los a todos, enquanto tenta esconder-se da polícia.

– Pode ser uma fanfarronice mais do que uma verdadeira ameaça.

– O teu cérebro oxidou-se nos últimos dois meses? Eu não brincaria com uma ameaça de morte de uma pessoa que já matou no mínimo cinco indivíduos.

– Xavier não presta, Tom, mas não é parvo. Sabe que está acabado. Só quer escolher o fim de que gosta mais. Mandar cartas anónimas para a imprensa fará com que os media continuem a falar dele e assim terá mais respeito dos seus futuros companheiros de prisão.

– Se verdadeiramente acreditasse que está acabado, não andaria por aí a matar testemunhas.

Raz franziu a testa. Tom era um polícia magnífico. O melhor, mas não compreendia Xavier, enquanto Raz o compreendia.

– Vamos ver se te entra uma coisa na cabeça, Tom: a morte e a prisão não são coisas importantes para Xavier. O orgulho, a fama e o respeito são tudo para ele. Se montar um grande espectáculo e matar muitas pessoas quando o apanharem, ficará mais do que satisfeito.

– É possível – concedeu Tom. – E é possível que neste momento ainda não saiba que Jacy é a minha esposa. Mas assim que o descobrir, se o descobrir, tenho a certeza de que tentará matá-la.

Raz apertou o auscultador. O seu irmão tinha razão: se Xavier descobrisse que tinha ameaçado a esposa do polícia que o estava a perseguir, com certeza virar-se-ia contra ela.

E se a vida de Jacy corria perigo, Raz não tinha outro remédio senão fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para a salvar, mesmo que isso implicasse proteger a vida de uma testemunha… E que essa testemunha fosse uma mulher.

– O que é que queres que eu faça?

– Que protejas a minha testemunha. Mantém-na viva até o Xavier ser preso. Não quero que esse lixo ande à solta quando isto for a julgamento.

– A declaração de uma testemunha não é garantia suficiente para uma condenação – observou Raz.

– Temos mais provas para além da testemunha, mas precisamos que ela esteja do nosso lado. Os membros do júri nem sempre confiam nos relatórios técnicos dos especialistas e esta mulher é uma testemunha perfeita.

– Fala-me dela.

– É médica, embora não o pareça. Não acho que tenha mais do que um metro e sessenta e…

– Não te pedi uma descrição física – interrompeu Raz, impaciente.

– Está bem – aceitou Tom. – É sossegada, calada, tem uma memória excelente para os rostos e, quando tem a certeza de algo, ninguém a faz mudar de opinião. Por sorte tem a certeza de que viu Xavier na noite do tiroteio. Reconheceu-o assim que o viu.

– Conhecia-o?

– Parece que trabalha como voluntária duas vezes por mês numa clínica de Burroghs. Diz que o viu lá umas vezes, a acompanhar a sua irmã.

– Parece uma santa.

– Assegura-te que não se torne numa mártir – declarou Tom. Raz prometeu ao seu irmão que faria tudo o que estivesse ao seu alcance. Sabia o que o seu irmão lhe estava a pedir e «porquê». Houston tinha várias agências muito boas que tratavam da segurança das pessoas, mas como era a vida de Jacy que estava em perigo, um desconhecido, por muito competente que fosse como guarda-costas, nunca teria o mesmo zelo do que um familiar. – Vou-te buscar daqui a dez minutos – acrescentou.

– Tinhas a certeza de que me ias convencer, não tinhas? – comentou Raz. Notou um pequeno tremor, quase imperceptível, na mão que segurava o auscultador.

– Sim, sabia que podia contar contigo.

Despediram-se e Raz desligou o telefone. Depois esperou até que a sua mão deixasse de tremer.

Dirigiu-se para o duche e agradeceu a água quente sobre as suas costas, mas não conseguiu que desaparecesse uma certa sensação de esgotamento que durava há demasiadas semanas.

Quando saiu do duche, ligou o rádio e uma voz anunciou que só faltavam treze dias para as compras de Natal. «Só treze dias?», perguntou-se Raz, parado diante da janela pela qual entravam os raios de um novo dia de sol. Desligou o rádio.

Portanto, só faltavam duas semanas para o dia de Natal, época de esperanças e de milagres… nos quais Raz já não acreditava, mas acreditava na família e, mesmo que tivesse que matar ou morrer para a proteger, fá-lo-ia.

 

 

Embora estivessem em Dezembro, não fazia frio. Uma mulher nadava numa piscina de Houston, num bairro de casas antigas de novos ricos. Só tinham passado vinte minutos desde que o sol nascera e Sara Grace já tinha nadado a sua primeira piscina. A água estava gelada e Sara gostava de a sentir contra a sua pele. A água fazia sentir-se sensual, algo estranho nela.

Tentou pensar em como ficaria o seu corpo se alguém o enchesse de balas. E embora não fosse muito boa a sonhar acordada, imaginou-se nos braços de um homem forte e sorridente que a protegia.

Quando chegou ao outro lado da piscina, parou para verificar se o agente de segurança que contratara continuava a vigiá-la. Depois, virou-se, disposta a nadar mais outra piscina.

O que acontecera à outra testemunha na noite anterior deixara-a aterrorizada, mas como Sara sempre fora muito cobarde, sabia como aplacar os seus medos, pelo menos, temporariamente: fazendo exercício, soltando os nervos e nadando. Convinha-lhe continuar a sonhar com aquele homem forte e sorridente, um homem a quem suturara alguns pontos há seis meses atrás.

Tinha aparecido durante a sua terceira noite numa cidade desconhecida, no novo hospital no qual começara a trabalhar. Lembrava-se do número de pontos que lhe dera no antebraço, assim como do seu potente e peludo peito.

Sentiu uma cãibra de excitação. Aquela fantasia era calmante, como se se tratasse de um lugar secreto onde se poderia refugiar quando tivesse medo.

Continuou a nadar e a pensar naquele homem que nunca mais voltaria a ver: um homem atraente e sexy, encantador e possivelmente procurado pela polícia. Tinha-lhe dito que cortara o braço acidentalmente, mas Sara tinha percebido que não se tratava de um corte simples e tinha-o denunciado, mas antes de a polícia ir falar com ele, tinha desaparecido.

– Doutora Grace? – uma voz masculina acordou-a do seu sonho.

Sara ficou paralisada quando por fim conseguiu virar-se e, num extremo da piscina, viu não só o inspector de polícia com o qual falara várias vezes depois do tiroteio de Xavier, mas também o homem dos seus sonhos.

Depois de se mexer na água, com uma série de movimentos torpes, tentou adoptar um ar minimamente digno.

– Sim?

– Desculpe – disse Tom Rasmussin, um homem de rosto duro e com um bigode espesso. – Não era a minha intenção assustá-la. Trouxe alguém que queria que conhecesse.

Sara achou que era parecido a uma versão jovem de Harrison Ford, um homem encantador e com um sorriso intrigante. Vestia calças de ganga e uma t-shirt roxa que tapava o peito mais perfeito que vira na sua vida.

– Já nos conhecemos – declarou Sara, depois de aclarar a voz.

– A sério? – inquiriu Raz, surpreendido.

– Dei-lhe uns pontos num braço há uns meses atrás, senhor McReady – lembrou-lhe Sara.

– Tinhas razão – Raz virou-se para o seu irmão – em relação à sua memória para os rostos. Ela… conhece-me como Eddie McReady.

– Podias ter-me dito alguma coisa – recriminou Tom, com a sua expressão imperturbável.

– Não sabia quem era a tua testemunha. O seu nome não saiu no jornal. Não sei como tens conseguido mantê-los à margem.

– Não parece ter servido de muito, dado o que Xavier fez ontem ao outro homem – depois dirigiu-se para Sara. – Permita-me que explique, doutora Grace. Este desenvergonhado é o meu irmão, também conhecido por Sargento Fernando Rasmussin do Departamento de Polícia de Houston. É conhecido por vários nomes, incluindo Eddie McReady. Intervém em operações secretas e tem um sentido de humor lamentável. Raz, apresento-te a doutora Sara Grace.

Olhou surpreendida para ele: era um polícia? Agora que olhava bem para ele, apreciava algumas diferenças entre a lembrança que tinha dele e o aspecto que tinha naquele momento. A roupa era muito diferente e trazia o cabelo mais curto e sem as madeixas louras. E embora não conseguisse perceber de que é que se tratava, notava também uma mudança nos seus olhos.

– Chame-me Raz – declarou ele, ao mesmo tempo que sorria com os seus olhos castanhos cor de caramelo. – Prazer em conhecê-la, com o meu verdadeiro nome – acrescentou, num tom de brincadeira.

– Porta-te bem, Raz – repreendeu Tom.

– Tenho de fazer alguma coisa para melhorar a imagem que tem de mim – encolheu os ombros. – Eddie não é um tipo muito agradável.

– Quer que o seu irmão substitua o agente que me protegeu esta noite? – inquiriu Sara a Tom, confusa. – Quer que fique comigo até me arranjarem um guarda-costas?

– Não exactamente. Raz está de baixa neste momento… importava-se de sair da piscina e secar-se antes de lhe explicar, doutora Grace?

Sair da piscina em fato de banho diante daqueles homens?

Sara ficou envergonhada e notou um nó no estômago. Sentira sempre certos complexos, mas habituara-se a combatê-los. Lembrou-se de que o seu fato de banho era conservador, de uma só peça. Aqueles homens não se importavam com o seu aspecto. Eles não iriam observar o seu corpo à procura de defeitos. E permanecer na piscina era ainda mais ridículo.

– Ah… a toalha… – gaguejou, com timidez. – Importavam-se…

O homem errado adivinhou o que Sara tinha tentado pedir e virou-se para a cadeira onde a doutora pusera a toalha. Aproximou-se com a toalha e ajoelhou-se na borda da piscina:

– Aqui está – sorriu Raz.

Sara saiu da piscina e arrebatou-lhe a toalha, ansiosa por enrolá-la à volta da cintura. Os dedos tremeram-lhe ligeiramente ao tocarem nos de Raz e, de repente, sentiu um calor perigoso percorrendo o seu corpo. Quando conseguiu acalmar-se, ficou a olhar distraidamente para ele.

– Entramos em casa? – interveio Tom.

– Sim, claro – replicou, ruborizada. – Vou preparar um café.

Naquele momento, enquanto lhes mostrava o caminho, Raz podia ver o que a água escondera. Mas embora Sara não gostasse de mostrar a sua cicatriz na anca, estava orgulhosa pelo seu esforço e pela sua teimosia lhe terem permitido voltar a andar novamente.