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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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28001 Madrid

 

© 2008 Melanie Milburne

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A dor da traição, n.º 1153 - novembro 2017

Título original: The Marciano Love-Child

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-378-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Começou como uma segunda-feira de manhã qualquer. Scarlett deixou Matthew, de três anos, na creche, depois do seu choro habitual, implorando-lhe que não o abandonasse, dirigiu-se para o seu pequeno estúdio de decoração de interiores em Woollahra. Tal como uma segunda-feira qualquer, a sua sócia e melhor amiga, Roxanne Hartley, entregou-lhe um café com leite quando entrou, ao mesmo tempo que lhe perguntava como correra o seu fim-de-semana.

– Não perguntes – disse Scarlett com cansaço, bebendo um gole de café.

– Então o encontro que a tua irmã te preparou não foi um sucesso? – perguntou Roxanne, sentando-se na beira da secretária de Scarlett.

Scarlett revirou os olhos.

– Depende do que entendes por encontro. Era óbvio que a ideia deste homem era transformá-lo num encontro para se embebedar. Durante uma hora e meia, choramingou sobre a sua ex-mulher, até que consegui fugir.

– Coitadinha – disse Roxanne com simpatia. – Mas não desistas. Tenho a certeza de que o teu homem perfeito anda por aí.

– Isso seria bom – disse, ligando o computador. – Uma boa figura paterna para Matthew seria óptimo, mas, assim que os homens ouvem que tenho um filho de três anos, parecem perder o interesse.

– Bom, os homens de hoje em dia são muito superficiais – concordou Roxanne. – Não querem compromissos e querem sexo logo no primeiro encontro.

– A quem o dizes – mexeu o rato para activar o ecrã e ver as reuniões que tinha para esse dia. Pôs os óculos e ficou atónita ao ver um determinado nome.

– O que se passa? – perguntou Roxanne.

Scarlett virou a cadeira para olhar para a sua sócia.

– Marcaste-me uma reunião com um tal Alessandro Marciano? – perguntou, pálida.

Roxanne sorriu, entusiasmada.

– Sim. Queria que fosse uma surpresa, senão teria telefonado no fim-de-semana para te contar. Telefonou na sexta-feira à tarde, mesmo depois de teres saído. É um contrato enorme, Scarlett. O valor financeiro deste homem é incalculável e, se conseguirmos o projecto, pensa como vai ser bom para nós. Apareceremos em todas as revistas de decoração de interiores do planeta. Já não teremos de pagar mais renda, poderemos comprar o edifício, não… – disse, entusiasmada. – Poderemos comprar a rua toda!

Scarlett levantou-se.

– Não vou ter uma reunião com ele – disse com os lábios apertados. – Não quero esse contrato. Não quero ter nada que ver com esse homem.

Roxanne não conseguia acreditar no que estava a ouvir.

– Já deste uma olhadela ao nosso extracto bancário? – perguntou, enquanto se levantava da secretária. – Vamos, Scarlett, o nosso crédito está no limite e tu sabes. É a oportunidade de uma vida. Precisamos disto. Alessandro Marciano comprou o velho edifício do Hotel Arlington. Vai transformá-lo num hotel de luxo, com três andares de quartos para multimilionários. Quer que nos encarreguemos da decoração dos interiores. Nós! Consegues acreditar? É como se tivéssemos ganhado a lotaria.

– Não posso vê-lo, Roxanne – insistiu Scarlett. – Por favor, não me peças isso.

Então Roxanne observou a sua amiga com mais atenção.

– Espera aí… Saíste com ele no passado ou alguma coisa do género?

– Mais do que isso – disse Scarlett, carrancuda.

Roxanne insistiu.

– O que queres dizer com isso?

Scarlett respirou fundo.

– É o pai de Matthew.

Roxanne ficou boquiaberta.

– É o quê? – perguntou, atónita.

– Não vou vê-lo, Rox – afirmou com tensão. – Nem sonhes. Odeio-o pelo que me fez e não vou…

De repente, ouviu-se o som inconfundível de um Maserati na rua. Ambas olharam pela janela da frente do estúdio e observaram o condutor a arrumar o carro preto e aerodinâmico entre os seus dois carros pequenos no estacionamento.

Roxanne olhou para os olhos cinzentos-azulados da sua amiga.

– Parece-me que não tens outra alternativa – disse. Então a porta do estúdio abriu-se. – Hum… Esqueci-me de te dizer que a reunião era aqui, às nove e quinze?

Scarlett sentiu que ficava tensa quando uma figura imponente e atraente entrou. O seu coração acelerou e perguntou-se se o seu nervosismo seria visível.

Então os olhos amendoados dele encontraram-se com os seus.

– Olá, Scarlett! – cumprimentou.

Com a mesma voz aveludada que anos antes resultara na sua perdição.

Scarlett levantou o queixo e olhou para Roxanne, que continuava boquiaberta.

– Roxanne, importas-te de informar, por favor, o senhor… hum… – olhou para a sua agenda como se quisesse recordar o nome antes de continuar com a mesma voz altiva – o senhor Marciano que não aceito clientes novos, pois estou ocupada até ao fim do ano?

– Mas… – gaguejou a sua sócia.

No entanto, Alessandro esboçou um sorriso letal.

– Menina Hartley, importa-se de me deixar sozinho com a menina Fitzpatrick para continuarmos com a nossa reunião privada? – perguntou.

– Não! Não te atrevas a sair daqui – disse Scarlett apressadamente. «Por favor, por favor, não me deixes sozinha com ele», suplicou em silêncio.

Roxanne franziu os lábios e, depois de um momento de hesitação, pegou na sua mala e na chávena com o café com leite.

– Claro que sim – disse, sorrindo a Alessandro. – Para além disso, tenho de ir falar com um distribuidor de azulejos. Voltarei às onze horas.

Scarlett lançou-lhe um olhar assassino antes de se sentar à secretária.

A porta do estúdio fechou-se e fez-se um silêncio incómodo.

– Então não tens interesse em fazer negócios comigo, Scarlett? – perguntou Alessandro com um sorriso impessoal e distante.

– Não.

– Porquê? – perguntou, levantando uma sobrancelha com uma expressão irónica. – Pensei que darias saltos de alegria perante esta oportunidade de pôr as tuas mãos no meu dinheiro.

Scarlett obrigou-se a olhar para ele.

– Surpreende-me que estejas interessado em contratar os serviços de uma ordinária ambiciosa… Foram essas as tuas palavras, não foram?

Não houve sinal de aborrecimento na sua cara, contudo, Scarlett conseguiu senti-lo de qualquer forma. Conhecera e amara aquela cara durante os três meses que tinham estado juntos. O seu sorriso quente, o seu olhar apaixonado, a sua boca capaz de beijar com uma suavidade provocadora ou com uma paixão faminta. Mesmo depois de tanto tempo, ainda conseguia sentir os seus lábios e a sua língua. Então a parte inferior do seu corpo começou a palpitar com a lembrança do que sentira com Alessandro.

Cruzou as pernas por debaixo da mesa, lutando contra as sensações que a embargavam.

– Suponho que a tua actividade sexual não tem relevância com o teu talento para a decoração de interiores – disse com um olhar enigmático. – Profissionalmente, tens boa reputação. Por isso estou disposto a dar-te a responsabilidade do projecto que vou empreender.

– Já disse que não estou disponível.

Ele esboçou um sorriso.

– Scarlett, talvez devesses ver o que estou a oferecer-te antes de descartares esta oportunidade.

– Nada que possas dar-me vai levar-me a ter algum tipo de relação contigo, de trabalho ou de outra natureza – afirmou.

– Não ia sugerir mais do que um acordo profissional entre nós, no entanto… – deixou a frase suspensa entre eles.

– Esquece, Alessandro – disse. – Para além disso, estou a sair com alguém.

– É o mesmo homem com quem te envolveste em Itália? – perguntou com um olhar furioso. – Chamava-se Dylan Kirby, não era?

Scarlett sentiu que corava.

– Estava a viajar com ele. Já te disse que não se passou mais nada.

O cinismo brilhou no olhar de Alessandro.

– Ah, sim, essa história. Ainda me lembro bem.

– Não é uma história, é a verdade – insistiu. – Conheci Dylan, Joe e Jessica num passeio turístico num autocarro. Disse-te isto há quatro anos. Quantas vezes tenho de me repetir?

– Não estou interessado nas tuas mentiras, mas no que podes fazer por mim – disse. – O teu negócio precisa de um contrato tão grande como este, Scarlett. Serias uma parva se o recusasses.

Ela apertou o queixo, nervosa.

– Odeio ter de assinalar a ironia da questão, mas não foi isso que tu me fizeste?

– Estou preparado para ser generoso – disse, sem prestar atenção ao seu comentário.

Como se não significasse nada para ele. O que era verdade.

Antes de o ter conhecido, sempre considerara que a ideia de se apaixonar à primeira vista ou até de se apaixonar num período de apenas alguns dias era uma parvoíce. Sempre considerara que o amor profundo e permanente crescia com o tempo, tal como a confiança e o respeito mútuo. No entanto, conhecer Alessandro Marciano naquele Verão caloroso em Milão virara o seu mundo ao contrário. Três horas depois, ele beijara-a e, três meses depois, ficara grávida.

Pestanejou e voltou para o presente, para o momento em que Alessandro lhe entregava um documento. Aceitou-o e os seus dedos trémulos não conseguiram evitar o contacto com os dedos dele. Todo o seu corpo sentiu um arrepio.

– Se não estiveres satisfeita com essa quantia, posso duplicá-la – anunciou.

Scarlett olhou para o contrato e ficou atónita ao ver a quantia que ele estava disposto a pagar. Era muito dinheiro, embora imaginasse que teria de trabalhar muito para o merecer. Conhecia Alessandro Marciano suficientemente bem para saber como era exigente. Os hóspedes que ficavam alojados num dos seus hotéis recebiam todo o luxo e o hotel de Sidney não seria diferente.

Contudo, aceitar o contrato, apesar de ser muito lucrativo e positivo para a sua carreira, significaria ter um contacto próximo com ele, talvez diariamente. Como sobreviveria a isso?

Como poderia evitar que Matthew descobrisse que o seu pai se recusava a aceitá-lo como seu filho? Embora não conseguisse evitar pensar que uma simples olhadela ao menino acabaria com qualquer dúvida que pudesse ter, mesmo alguém tão cínico como Alessandro. Tinham os mesmos olhos amendoados, o mesmo cabelo preto, a mesma forma da boca… embora a de Matthew continuasse suave com a inocência da infância.

– Tens um ou dois dias para pensar – disse com a sua voz profunda.

Abandonando a tortura dos seus pensamentos, ela levantou-se de repente.

– Não preciso de dois…

Alessandro levantou uma mão e apoiou dois dedos sobre os seus lábios.

– Dois dias, Scarlett – disse, olhando para ela. – Pensa nisso.

Scarlett engoliu em seco, enquanto recordava como aqueles dedos tinham conhecido intimamente os seus pontos de prazer e como acariciara o centro da sua feminilidade pela primeira vez… como tremera quando a explorara tão minuciosamente com os dedos, com a boca, com a língua e com a sua erecção.

O ambiente tornou-se mais pesado.

Scarlett mal conseguia respirar.

Ficou muito quieta, enquanto ele passava o dedo indicador pelo seu lábio inferior, com o olhar fixo na sua boca. De repente, foi invadida pela tentação de passar a língua pelo seu dedo. Teve de se controlar para evitar introduzi-lo na boca e chupá-lo como fizera tantas outras vezes no passado.

Alessandro voltou a olhar para ela nos olhos e, por um momento, a linha dos seus lábios perdeu a expressão de cinismo que sempre exibia.

– Tinha-me esquecido de como a tua boca é suave – disse.

Scarlett sentiu o calor do seu olhar nos lábios.

– É melhor ires-te embora – disse. – Não tenho mais nada a dizer-te. Não quero o trabalho. Procura outra pessoa.

Alessandro observou-a.

– Ainda não estou preparado para me ir embora, Scarlett. Ainda há algumas coisas sobre as quais eu gostaria de falar contigo.

Scarlett começou a ficar assustada. Não podia recuar até à sua secretária e também não podia avançar, pois corria o risco de tocar em Alessandro.

Estava encurralada.

– Há quatro anos, disseste-me que estavas grávida – disse, quebrando o silêncio.

Com muito esforço, Scarlett conseguiu manter o contacto visual.

– Sim…

– Também me disseste que o bebé era meu.

Um brilho de fúria apareceu nos seus olhos.

– Sim, é verdade.

– Tiveste o bebé? – perguntou depois de uma pausa.

Scarlett não deixou de olhar para ele.

– Sim.

A expressão dele permaneceu inescrutável.

– O teu filho mantém contacto com o seu pai? – perguntou.

Ela franziu o sobrolho, irritada por estar a ser interrogada.

– Porque estás a fazer-me estas perguntas todas, Alessandro? Foste tu que insististe que o menino não podia ser teu. Porquê esse súbito interesse agora? De repente, mudaste de ideias e chegaste à conclusão de que não estava a mentir-te?

Ele encolheu os ombros.

– Não, claro que não mudei de ideias. É impossível que seja o pai desse menino.

Scarlett olhou para ele, furiosa.

– Isso é o que tu pensas.

– Eu não penso, Scarlett – afirmou com uma expressão dura. – Eu sei.

Irritada pela sua arrogância, o ódio que lhe inspirava ameaçou manifestar-se.

– Para além disso – continuou com sarcasmo, olhando para ela, – não dás a impressão de ter tido um filho. Estás tão esbelta e atraente como há quatro anos.

Ela dedicou-lhe um olhar depreciativo.

– Podes ficar com o teu contrato, Alessandro Marciano. Não quero ter nada que ver com um homem que pensa que sou uma mentirosa, uma interesseira e uma prostituta.

– Então, ao fim de tanto tempo, continuas decidida a dizer que sou o pai do teu filho? – perguntou ele. – Porquê, Scarlett? Não conseguiste enganar mais nenhum milionário?

Ela apertou os dentes.

– Não houve nenhum outro milionário e tu sabes.

O cinismo na expressão dele aumentou.

– Não gostas de reconhecer que te enganaste ao escolher-me, não é, Scarlett? Quando me conheceste, pensaste que tinhas conseguido um cheque em branco para a vida toda. Na altura, perguntei-me porque tinhas ido para a cama comigo tão depressa. Certamente, tudo começou a fazer sentido quando me contaste que estavas grávida. Precisavas de segurança económica, mas cometeste um erro ao escolher-me.

Ela apertou os punhos.

– Amava-te, Alessandro. Amava-te mesmo. Teria dado qualquer coisa para passar o resto dos meus dias contigo, mas não pelas razões que tu pensas.

– Amor? – perguntou com desdém. – Pergunto-me se ainda terias afirmado amar-me se te tivesse dito desde o início da nossa aventura que não estava interessado em ter filhos… Nunca.

– Porque não o fizeste?

Uma sombra surgiu nos olhos dele.

– Só estávamos a sair juntos há três meses – disse. – Ia acabar por ter essa conversa contigo, pois preocupava-me que tivesses esperanças de ter um futuro comigo. Compreendo que é pedir muito a uma mulher que abandone o seu direito de ter um filho do homem que ama.

– Ou seja, reconheces que te amava?

A sua expressão cínica regressou.

– Acho que amavas a ideia de te casares com um multimilionário. Ao longo da minha vida, descobri que não há nada que desperte tanto o amor como o dinheiro.

– Porque te opões tanto a ter filhos? – perguntou, franzindo o sobrolho. – Pensava que todos os italianos adoravam bebés, que ter uma família era tudo para eles, já para não mencionar ter um herdeiro.

– Isso nunca esteve nos meus planos – disse. – Há outras coisas que quero fazer com a minha vida. Estar preso a uma esposa e filhos não me atrai absolutamente.

Scarlett estudou o seu rosto, perguntando-se o que o levara a adoptar uma postura tão férrea, contudo, a sua expressão era inescrutável.

– Volto dentro de dois dias, Scarlett, para discutirmos os termos do contrato – disse e entregou-lhe um cartão com os seus dados profissionais. – O meu número privado está no outro lado, caso queiras entrar em contacto comigo antes, senão encontramo-nos no Hotel Arlington na quinta-feira às dez da manhã.

Scarlett olhou para o cartão com letras douradas e em relevo, contudo, só quando ouviu a campainha da porta se apercebeu de que ele saíra.

Afastou-se da janela e respirou fundo. Só relaxou quando ouviu o seu carro a afastar-se.