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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Allison Lee Davidson

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Rumores de casamento, n.º 1178 - Novembro 2014

Título original: Wed in Wyoming

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Julia e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5899-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Epílogo

Volta

Prólogo

 

Novembro

 

– Estás louco? E se alguém te vê?

Angeline Clay afastou o olhar do homem que se escondia nas sombras e olhou para os convidados do casamento, que estavam a pouco mais de vinte e cinco metros dali.

– Não vão ver-me, tem calma – respondeu o homem num tom divertido. – Não te esqueças do meu trabalho, querida.

Angeline revirou os olhos.

Estavam fora do círculo de luzes que tinham posto à volta da tenda enorme que protegia as mesas e a pista de dança do frio do Wyoming.

A sua prima Leandra e o seu noivo, Evan Taggart, estavam a dançar no meio da pista, rodeados de quase todos os outros membros da enorme família de Angeline.

– Garanto-te que não me esqueço disso, Brody – garantiu-lhe num tom cortante.

Tivera poucos encontros com aquele homem, porém, todos tinham sido inesquecíveis, o que tirava Angeline do sério, pois era uma mulher que se orgulhava de nunca perder o controlo e perdia-o constantemente quando se tratava do atraente Brody Paine.

Angeline agarrou com força no prato vazio que tinha nas mãos. Dirigia-se para a cozinha quando Brody fora ao seu encontro.

– Como sabias que estava aqui? – perguntou.

– O mundo é muito pequeno, querida, tu bem sabes – respondeu Brody.

«Querida».

Angeline suspirou de frustração. A verdade era que Brody nunca a tratava pelo seu nome. Aquela era uma das razões por que Angeline não o levava a sério nas questões pessoais.

Também era verdade, no entanto, que o levava muito a sério em questões profissionais, pois Brody Paine era muito bom no seu trabalho.

– Vim apenas por uns dias – recordou-lhe. – Só vim para o Dia de Acção de Graças e para o casamento de Leandra. Depois vou voltar para Atlanta.

Então Brody mencionou o seu número de voo, indicando-lhe de uma forma nada subtil que conhecia perfeitamente os seus planos.

– A agência gosta de vigiar bem os seus empregados.

Angeline olhou para trás, certificando-se de que ninguém os ouvia. Não, era impossível que estivessem a ouvi-los. Se assim fosse, Brody nunca teria mencionado a agência.

– Eu não sou empregada da agência – recordou-lhe.

Ela era apenas um correio. Trabalhava para a agência há cinco anos, no entanto, a única coisa que fazia era levar informação de uma fonte para outra e apenas o fazia algumas vezes por ano.

– Acredita em mim, querida, és uma empregada maravilhosa – Brody sorriu, olhando para ela de cima a baixo. – O que não entendo é porque te empenhas tanto em não partilhar as tuas qualidades maravilhosas comigo.

Angeline estava habituada desde a puberdade a que os homens olhassem para ela assim, porém, mesmo assim, agradeceu a roupa que levava e que cobria o seu corpo.

– Vejo que entendeste bem – respondeu. – Suponho que vieste até aqui para me seduzir.

– Infelizmente não, porque tu não queres – voltou a insistir Brody.

– Brody… – disse Angeline, apertando os lábios.

– Calma, calma… Neste momento, estou noutra operação, mas pediram-me para te dar isto – respondeu Brody.

Então Angeline reparou que Brody tinha um pedaço de papel entre o dedo indicador e o coração e tentou agarrar nele com muito cuidado para não lhe tocar. Quando ele a agarrou repentinamente pelo pulso, deu um salto e olhou para ele, surpreendida.

– É importante – disse Brody, muito sério.

Angeline ficou nervosa. Não estava habituada a ver Brody tão sério.

– É sempre, não é?

Brody dissera-lhe muitas vezes desde o início de que o trabalho que fazia para a Hollins-Winword era muito importante e delicado.

– Como tudo na vida, a importância de uma coisa é relativa.

Angeline ouviu o DJ a pedir a atenção dos presentes, pois os noivos iam cortar o bolo.

– Tenho de ir antes que alguém dê pela minha falta e venha procurar-me – disse Angeline.

Brody soltou-lhe a mão e Angeline fez um grande esforço para não acariciar aquela zona do seu corpo em que ainda sentia os seus dedos. Ainda bem. Brody era realmente observador. Evidentemente, a sua capacidade de observação era uma das qualidades que o transformava num agente excelente, contudo, a última coisa que Angeline queria era que se apercebesse de como a sua presença a afectava.

A única relação que havia entre eles era ocasional e sempre de trabalho. Se aquele homem descobrisse que gostava dele há anos… Bom, simplesmente, não queria que soubesse e ponto final.

Se calhar, se soubesse, as coisas mudariam entre eles, contudo, Angeline não queria arriscar. Por enquanto, preferia fingir que a sua sedução não a afectava de todo, embora fosse muito difícil fingir tanto.

Naquele momento, Brody sorriu-lhe, um daqueles sorrisos que levavam Angeline a perguntar-se se entre as suas capacidades se encontrava também a de ler o pensamento.

– Até à próxima, querida – disse. – Bebe um copo de champanhe por mim – acrescentou, olhando para os convidados.

Angeline também virou a cabeça. Leandra e Evan estavam de pé, diante do seu bolo de casamento enorme.

– Não me parece que alguém se aperceba se te trouxer um copo e uma fatia de bolo – disse, virando-se ao não obter resposta.

De Brody já só conseguiu ver a sua silhueta, a perder-se na noite fria e escura.

 

 

Capítulo 1

 

Maio

 

– Continuo a pensar que estás louco.

Há seis meses que Angeline não via Brody Paine. Desde então, Brody deixara crescer a barba, uma barba que não conseguiu esconder o sorriso que lhe dedicou perante o seu comentário.

Para além da barba, tinha o cabelo mais comprido, o que lhe conferia uma imagem parecida com a de um pirata.

– Tenho a sensação de que me dizes sempre a mesma coisa, querida.

Angeline franziu o sobrolho. Estavam sentados num jipe que estava atolado num lamaçal na Venezuela.

– Tu lá sabes porquê – disse, enquanto chovia sobre eles.

Como de costume, Brody não pareceu dar importância à opinião de Angeline. Enquanto batia com os dedos sobre o volante, ficou a ver como a chuva caía pelo pára-brisas.

O carro não tinha janelas e o vento que acompanhara Angeline desde que chegara à Venezuela, três dias antes, combinado com a chuva era muito incómodo.

Supunha-se que aquela tempestade já devia ter passado, contudo, piorara cada vez mais e começara a parecer um furacão, com chuva e vento incessantes. Supunha-se que, durante o mês de Maio, não era normal que houvesse furacões, porém, a Natureza não parecia estar a respeitar o calendário estabelecido pelos humanos.

Angeline remexeu-se no assento. Embora o capuz do poncho impermeável lhe tapasse quase toda a cabeça, sentia-se encharcada.

Aquilo era o que lhe acontecia por ter fugido do acampamento da forma como fizera. Se tivesse parado para pensar um pouco, teria levado roupa quente para vestir debaixo do poncho, porém, assim que Brody a fora procurar, dissera ao doutor Miguel Chávez, o chefe da equipa da All-Med, que uma amiga de Caracas ficara doente e fora-se embora.

– O convento em que deixaram os meninos é ao fundo desta estrada – anunciou Brody. – Não há outro acesso a não ser que tenhas um helicóptero, claro, e com este tempo é impossível – disse.

Certamente, se Brody estava tão incomodado como Angeline com as condições meteorológicas, ocultava-o bem. Angeline virou-se de costas para a chuva.

– Se voltarmos para trás a pé, podemos estar no acampamento antes de anoitecer – comentou, observando as nuvens que cobriam o céu.

Desde que fizera vinte anos, estivera na Venezuela com a All-Med cinco vezes, contudo, nunca se deparara com um tempo assim tão mau.

– Não vamos voltar para trás, querida – suspirou Brody, que tinha as calças e o poncho cobertos de lama, pois saíra várias vezes do veículo para tentar tirá-lo do lamaçal.

– Mas faltam muitos quilómetros para o convento – protestou Angeline, sabendo que estavam mais perto do acampamento do que do convento. – A equipa pode ajudar-nos a tirar o carro da lama amanhã. Não têm de saber porque estávamos a tentar chegar a Santa Inés e não a Caracas.

– Não podemos perder tanto tempo.

Angeline suspirou e ficou a olhar para aquele homem tão teimoso.

– Porque tens tanta pressa? – perguntou com receio. – Disseste-me que a única coisa que temos de fazer é ir buscar os meninos da família Stanley e devolvê-los aos seus pais.

– Exactamente.

– Brody…

– Não te esqueças que nesta operação me chamo Hewitt.

– Muito bem, Hewitt, porque tens tanta pressa? Esses meninos estão no convento há dois meses, não é? Qual é o problema de ficarem mais uma noite?

Brody contara-lhe que Hewitt Stanley, o verdadeiro Hewitt Stanley, e a sua esposa, Sophia, tinham deixado os seus filhos naquele convento, situado numa zona recôndita do país, enquanto entravam na selva venezuelana para realizarem uma investigação farmacêutica.

Brody pedira ajuda a Angeline porque, segundo ele, não ia conseguir recuperar os meninos se fosse sozinho.

– O grupo Santina raptou Hewitt e Sophia há dois dias.

– O quê?

– Não sentes curiosidade quando te entregam uma mensagem para outra pessoa? – perguntou Brody, olhando para ela com dureza.

– Não – respondeu Angeline.

– Nunca? – insistiu Brody.

Aquilo de ser sempre sincera, às vezes, era muito incómodo.

– Bom, às vezes senti curiosidade, mas nunca li as mensagens – admitiu Angeline. – Sei os limites do meu trabalho. Eu sou apenas a mensageira. De qualquer forma, o que tem isso que ver com os Stanley?

– Quando te dei a última mensagem de Novembro, não a abriste? – insistiu Brody.

– Não – garantiu Angeline. – Prefiro ficar com a curiosidade a saber demasiado – acrescentou sinceramente.

De qualquer forma, as pequenas referências que lhe davam e que ela tinha de entregar a outra pessoa nunca teriam sido o suficiente para saber exactamente o que a Hollins-Winword fazia e isso era o melhor para todos. Para ela mesma, para os que a rodeavam, para o trabalho da agência e para a agência em si.

Angeline tinha consciência disso, compreendia-o e agradecia. Estava comprometida com a Hollins-Winword, no entanto, aquilo não significava que quisesse arriscar a sua vida por quatro frases, que era o que deviam ser as notas que lhe confiavam.

A mensagem que Brody lhe entregara no casamento de Leandra e de Evan fora ainda mais curta.

«Os Stanley foram apanhados. Sandoval».

Angeline memorizara a informação, o que não fora difícil naquele caso, e voltara para Atlanta poucos dias depois, onde entregara a informação a um jovem que espalhara de propósito o conteúdo da sua mochila no chão, junto da mesa onde ela estava a beber café. Depois de se ajoelhar ao seu lado para o ajudar a apanhar os livros e os cadernos, três minutos depois, o rapaz saiu do estabelecimento com um cappuccino e a mensagem e ela ficou sentada com o jornal e um café com leite.

– O apelido Sandoval não te diz nada?

Angeline começou a tremer de frio.

– A verdade é que Sandoval não é um apelido assim tão estranho… Não, não me diz nada.

– Quantos anos tinhas quando saíste de Santa Margarida?

Angeline sentiu que o pânico se apoderava dela.

– Quatro anos – respondeu.

O suficiente para recordar o apelido do homem que destruíra a vila da América Central onde nascera e também as vidas de todos os que encontrara.

Sandoval.

– Eu não gosto de joguinhos, Brody – disse, pondo-lhe a mão no antebraço. – Sandoval tem alguma coisa que ver com o sequestro? – perguntou, indo directamente à questão.

Brody ficou a olhar para a mão de Angeline, surpreendido.

– Não temos provas disso, mas pensam que está a financiar economicamente o grupo Santina – explicou. – Por outro lado, sabemos que Santina está por detrás do financiamento de duas organizações que operam no mercado negro e que se dedicam ao tráfico de droga, de armas e de pessoas. Segundo a empresa farmacêutica para a qual trabalha, Hewitt estava a investigar alguma coisa muito importante, alguma coisa relacionada com uma pequena rã vermelha – prosseguiu Brody, abanando a cabeça. – Pelos vistos, a empresa farmacêutica quer imitar sinteticamente as propriedades da saliva dessa rã em concreto, o que, em boas mãos, pode ser muito benéfico, mas que se cair nas mãos erradas pode transformar-se numa nova droga.

– Portanto têm os pais e agora querem os filhos – compreendeu Angeline, muito preocupada.

– Pensam que sim. Ontem de manhã, viram Rico Fuentes, um dos homens de confiança de Santina, em Caracas. Os pais de Sophia Stanley eram venezuelanos e ela herdou um apartamento na capital quando morreram. Ontem à tarde, entraram na casa e revistaram-na.

– E como sabes que os meninos estão no convento?

– Porque eu fui à casa deles ontem de manhã e encontrei o mapa que Sophia Stanley fez para chegar até ao convento. É claro, trouxe a informação comigo, portanto tenho a certeza de que Rico não sabe nada através dessa fonte, mas não sei o que terão Hewitt e Sophia dito aos seus captores. Tenho a minha equipa toda a investigar e, até ao momento, parece que ninguém sabe nada do convento, mas… – respondeu Brody, encolhendo os ombros e voltando a olhar para a estrada. – É óbvio que Hewitt sabia que o que estava a investigar podia interessar às farmacêuticas, mas também às máfias. Por isso, esconderam os seus filhos e escolheram o convento onde a mãe de Sophia passou algum tempo quando era menina.

– Claro. Se Rico encontrasse os meninos, Santina podia utilizá-los para chantagear os seus pais até que cooperassem.

– Exactamente.

– Como é que Hewitt e Sophia sabem que os seus filhos continuam com vida? Os homens de Santina podem mentir-lhes.

– Podem mentir e é muito provável que o façam – disse Brody. – Há outra equipa a trabalhar para salvar os pais. O que tu e eu temos de fazer é certificarmo-nos de que as ameaças às vidas desses meninos sejam, efectivamente, mentira.

– E porque não recorremos às autoridades locais?

– Achas mesmo que podemos confiar na polícia daqui?

Angeline franziu o sobrolho. Miguel comentara várias vezes que, efectivamente, existia um mercado negro do qual a polícia tinha conhecimento e que não fazia nada para o desmantelar.

– Brody, isto é demasiado para mim, eu não sou agente. Sabes perfeitamente disso.

– Acabaste de te transformar numa, linda – Brody sorriu.

– Eu tenho nome – disse Angeline.

– Sim, também queria falar contigo sobre isso. Enquanto não conseguirmos recuperar os meninos e tirá-los deste país, chamas-te Sophia Stanley.

– O quê?

– É isso mesmo. Há um pacote no porta-luvas.

Angeline abriu-o e, atrás de um novelo de corda de nylon e de uma chave de fendas, viu um envelope. Tirou-o e abriu-o. Dentro dele encontrou uma aliança de ouro com uma dedicatória e várias fotografias.

Brody tirou-lhe o envelope das mãos e entregou-lhe a aliança.

– Podes pô-la – disse.

Angeline aceitou a aliança e pô-la na mão direita.

– Na esquerda – indicou Brody. – É uma aliança de casamento, querida.

Angeline sentiu náuseas, contudo, fez o que Brody lhe disse. Era a primeira vez que punha uma aliança e era uma sensação estranha.

– Esta é Sophia – disse Brody, entregando-lhe uma fotografia.

Nela, Angeline viu uma mulher sorridente, de cabelo escuro e comprido, que parecia mais velha do que ela, porém, eram bastante parecidas, pois também tinha a pele escura e os olhos escuros.

– Não são exactamente iguais porque tu és mais bonita, mas vamos ter de nos conformar com o que temos – pensou Brody.

Angeline franziu o sobrolho. Aquilo teria sido um elogio?

– Estes são os meninos. Eva tem nove anos e Davey tem quatro anos – continuou Brody, entregando-lhe mais fotografias. – E este é o papá urso.

Se a situação não tivesse sido tão grave, Angeline ter-se-ia rido, pois Hewitt Stanley parecia exactamente o papá urso. Tratava-se de um homem de estatura média, desajeitado e com óculos.

Certamente, não era nada parecido com Brody.

– E este é o homem por quem tens de te fazer passar.

– Ficarias surpreendida se visses as outras pessoas cujas identidades tive de usurpar noutras operações – respondeu Brody, guardando as fotografias no envelope e guardando-o no bolso da camisa.

– Mas porque temos de nos fazer passar pelos Stanley? – quis saber Angeline. – As freiras do convento conhecem-nos de quando foram deixar os seus filhos.

– Regra geral, é a madre superiora que lida com as pessoas de fora, portanto ela é a única pessoa que conhece Hewitt e Sophia. Neste momento, está presa em Puerto Grande por causa do mau tempo e nós não vamos permitir que nos aconteça o mesmo.

– Se calhar conseguimos enganar as freiras, mas é óbvio que os meninos sabem que não somos os seus pais e talvez não queiram sair do convento com duas pessoas que não conhecem.

– Hewitt e Sophia têm uma contra-senha. Cascatas. Assim que os seus filhos ouvirem essa palavra, saberão que somos amigos dos seus pais e que podem vir connosco.

– Como sabes isso?

– Sei e ponto final. Olha, se pensasse que podíamos chegar ao convento e dizer às freiras que íamos levar os meninos e pronto, faríamos as coisas assim e seria muito mais fácil, mas Hewitt e Sophia escolheram este lugar por algum motivo. Para começar, é muito difícil chegar lá, mesmo que faça bom tempo. Está afastado de tudo e é tão pequeno que nem aparece num mapa.

– E se não conseguirmos? – perguntou Angeline, sentindo medo.

Da última vez que não conseguira alguma coisa fora em Atlanta e não tivera nada que ver com a Hollins-Winword, mas sim com a vida de uma criança.

– Isso não vai acontecer – respondeu Brody.

– Porque não me contaste isto quando me foste buscar ao acampamento? – perguntou Angeline, pensando que, se o tivesse feito, se teria recusado a ir com ele.

– Havia demasiadas pessoas presentes – respondeu Brody, tirando uma arma de debaixo do seu assento.

Angeline ficou tão surpreendida que mal se apercebeu de que era uma arma. Brody comprovou que a arma estava em condições e guardou-a, juntamente com o envelope, debaixo do poncho impermeável.

Angeline crescera num rancho, portanto estava habituada a ver armas, contudo, uma coisa eram os revólveres que o seu pai guardava numa montra e outra coisa muito diferente era a pistola que Brody acabava de guardar.

– Não vamos precisar disso, pois não?

– Espero que não – respondeu Brody, olhando para ela de soslaio. – Eu não gostava de ter de matar uma freira, portanto espero que possamos convencê-las de que somos Hewitt e Sophia Stanley, mas não te esqueças de que é melhor que seja eu a ameaçá-las do que um homem de Santina, porque, para eles, é indiferente se magoam pessoas inocentes e, se não conseguirmos chegar primeiro, vais gostar muito de que Delilah viaje connosco, minha querida.

Brody chamava Delilah à sua arma?

Angeline abanou a cabeça, incomodada.

Sabia muito bem que Sandoval era um homem sem escrúpulos, que não hesitava em magoar os outros. Sentira-o na pele quando aquele homem destruíra a povoação da sua família para ficar com o controlo dos pastos. Perante a possibilidade de perder a batalha, preferira destruir a terra a deixar que os outros ganhassem.

– Não me chamo «minha querida» – respondeu Angeline com voz trémula. – O meu nome é Sophia.

– Muito bem dito – Brody sorriu.

Angeline tremeu da cabeça aos pés e apercebeu-se de que não era apenas pelo frio nem pelos nervos, mas por ele.

 

 

Capítulo 2

 

Brody e Angeline abandonaram o jipe no lugar onde ficara preso na lama e continuaram o caminho a pé. Demoraram uma eternidade a subir a ladeira íngreme, pois o vento assobiava à sua volta e a chuva vinha de todas as direcções.

Angeline agradecia o facto de Brody estar tão perto dela, fazendo de escudo. Perdera a noção do tempo e cada vez tinha mais dificuldade em mexer-se, pois sentia o seu corpo todo dorido da caminhada.

Quando estava tão concentrada em avançar que já nem conseguia pensar em mais nada, Brody parou de repente e bateu com força a uma porta que aparecera no seu caminho.

«Não vão ouvir», pensou Angeline.

No entanto, apesar do barulho do vento, a porta abriu-se, Brody agarrou no braço de Angeline e obrigou-a a entrar. Em seguida, a porta fechou-se.

– Senhora – cumprimentou uma mulher pequena, vestida com um hábito, que estava a entregar-lhe uma toalha branca.

– Obrigada – respondeu Angeline, aceitando a toalha e secando o rosto. – Obrigada – repetiu, sorrindo à freira.

A freira estava a conversar com Brody em espanhol e, embora Angeline não falasse a sua língua materna há muitos anos, não teve qualquer dificuldade em entender a conversa. A freira estava a dizer a Brody que a madre superiora não estava no convento e que ela era a única que podia falar com desconhecidos.

– Nós não somos desconhecidos – explicou Brody amavelmente. – Viemos buscar os meninos.

– Ah, sim, sim – respondeu a freira, começando a avançar por um corredor.

Brody olhou para Angeline, indicando-lhe que os seguisse. Angeline pensou que não era o momento adequado para descansar, pois primeiro tinha de se certificar de que os meninos estavam bem, porém, a verdade era que, naquele momento, a única coisa que queria era sentar-se no chão e encostar a cabeça contra a parede.

Como se lhe tivesse lido o pensamento, Brody voltou a agarrá-la pelo braço e obrigou-a a seguir a freira pelo corredor. Tinham avançado apenas alguns metros quando o corredor virou abruptamente para a esquerda e se abriu, formando uma sala ampla, onde havia várias mesas e bancos de madeira.

A freira disse-lhes que aquela divisão era a sala de jantar e continuou a andar.

– Estás a entender tudo? – perguntou Brody a Angeline em inglês.

Angeline assentiu.