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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Sherryl Woods

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma estrela anónima, n.º 65 - Maio 2014

Título original: Wrangling the Readhead

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), acontecimentos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Internacional e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5191-7

Editor responsable: Luis Pugni

 

Conversión ebook: MT Color & Diseño

Índice

 

Portadilla

Créditos

Índice

Instituto de Winding River. Turma de 91

Prólogo

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

Seis

Sete

Oito

Nove

Dez

Onze

Doze

Treze

Catorze

Quinze

Epílogo

Volta

Instituto de Winding River
Turma de 91

 

Bem-vindas, dez anos mais tarde.

Lembram-se de como éramos?

 

Cassie Collins, cabecilha do Clube da Amizade. Foi eleita como «a que mais possibilidades tem de acabar na prisão». É conhecida por ter pintado a torre de água de cor-de-rosa e por ter feito com que todo o quadro de professores se tivesse arrependido de ter escolhido a carreira docente como profissão. Recorde da turma por suspensões.

 

Karen (Phipps) Hanson, mais conhecida por «a sonhadora». Foi eleita como «a que mais possibilidades tem de ver o mundo». Membro do clube 4 H, dos clubes Espanhol e Francês, e vencedora do concurso do porco ensebado, na feira do campo.

 

Gina Petrillo, a rapariga mais gostosa da turma. Foi eleita como «a mais popular», porque ninguém da cidade sabe fazer bolo de chocolate melhor do que ela. Membro das Donas de Casa dos Estados Unidos. Vencedora de três primeiros prémios no concurso de confecção de bolos e de quatro na elaboração de pastéis da feira de campo.

 

Emma Rogers, esta rapariga sabe como mover... um taco, claro. Foi eleita como «a que mais possibilidades tem de ser a primeira mulher nos Yanquees de Nova Iorque». Membro do Clube de Debates, da Sociedade de Honra e presidente do último curso.

 

Lauren Winters, a rapariga respostas para tudo. Também é conhecida como «a rapariga ao lado de quem gostarias de estar durante um exame». Foi eleita como «a que mais possibilidades tem de alcançar o sucesso». Foi a melhor aluna da turma. Membro da Sociedade de Honra, rainha do rodeio infantil da feira de campo e estrela das peças de teatro do Liceu.

 

Prólogo

 

O cirurgião plástico, uma personalidade com direito próprio em Hollywood, parecia particularmente entusiasmado com a demonstração computorizada do que conseguiria com o lifting.

– Um corte de nada aqui – disse, premindo uma tecla para transformar no monitor do computador um dos rostos mais famosos do mundo. O resultado foi que a pele que rodeava os olhos, que mostrava uma aparência impecável, ficava um pouco mais tensa. – E um pequeno corte ali... – acrescentou. O queixo delicado e arredondado desapareceu por completo. – Assim, poderíamos tirar-te uns dez anos de cima. Agora, é o momento de começar, antes que o processo de envelhecimento comece a fazer estragos em ti.

Lauren Winters observava a imagem do seu rosto que aparecia no monitor, enquanto ouvia o longo discurso do cirurgião. De repente, estremeceu.

Em que é que estava a pensar? Tinha apenas vinte e oito anos e estava preocupada em tirar-lhe dez anos de cima? Por acaso, estaria a pensar que lhe iriam dar o papel de uma adolescente de dezoito anos num filme? Impossível. Estava a ter muito sucesso, a representar mulheres da sua idade em hilariantes comédias românticas.

Marcar um encontro para falar de cirurgia plástica certamente estava relacionado com o seu recente divórcio. Com esse, era o segundo casamento fracassado, o que, para Hollywood, não era nada mau, mas estava muito longe do que ela idealizara quando ainda vivia num rancho em Winding River, Wyoming, onde os casamentos, até os maus como o dos seus pais, costumavam durar para sempre.

Subitamente, a sua vida pareceu-lhe demasiado superficial e sem sentido. Mentalmente, foi revendo os seus feitos e o que estes tinham tido de negativo.

Os seus casamentos tinham sido um avanço profissional, ainda que só para a carreira dos seus maridos. Ganhara mais dinheiro do que algum dia sonhara, porém, não tinha ninguém com quem gastá-lo, uma vez que os seus pais recusavam a sua ajuda económica. Muito recentemente, tinham concordado em vender o decrépito rancho que possuíam, colocar o dinheiro numa conta poupança e utilizar a casa que Lauren lhes comprara, no Arizona, para passarem os Invernos. O seu pai resmungava sempre que falavam. Comportava-se como se aquele presente fosse um exílio em vez de um gesto generoso.

A fotografia de Lauren aparecia em todas as revistas... mas naquelas que ninguém da sua família lia. Protagonizara cinco filmes que tinham sido verdadeiros êxitos de bilheteira, embora poucas pessoas de Winding River fossem a Laramie para os ver no grande ecrã. No entanto, algumas acabavam por alugá-los em vídeo. Para os seus antigos amigos, uma noite de dança no Heartbreak ou um jantar no restaurante da Stella ou no do Tony, era o cúmulo da diversão. Não obstante, sentiam-se orgulhosos dela, ainda que de um modo abstracto. Na realidade, alguns não pareciam ter a certeza de qual era a sua profissão. Apesar de ser considerada uma grande actriz, a verdade era que Lauren, se quisesse ser sincera consigo mesma, já não tinha a menor ideia de quem era.

O convite que recebera para a festa de antigos alunos do Instituto que frequentara, recordara-lho. Na pequena carta que a organizadora lhe escrevera, os seus êxitos em Hollywood eram mencionados constantemente, embora não houvesse qualquer alusão à adolescente que Lauren fora. A verdade é que nessa época pouco conviveram, o que só vinha comprovar como a fama ajudava a converter simples conhecidos em amigos do peito. Mimi Frances parecia conhecer a Lauren Winters super-estrela muito melhor do que a Lauren como pessoa.

Lauren nunca se sentira muito cómoda no seu papel de actriz, e muito menos no de vedeta internacional. Isso soava-lhe tão falso como os papéis que interpretava no mundo do cinema. Havia uma dezena de designações que lhe eram muito mais familiares: Lauren Winters, a rapariga que se destacava, a primeira da turma; Lauren Winters, a presidente do clube de debates; Lauren Winters, a melhor amiga; Lauren Winters, a domadora de cavalos; Lauren Winters, a contabilista... Isso, sim, valia alguma coisa. Esses, sim, eram os aspectos que podia enumerar com orgulho.

De repente, deu-se conta de que queria recuperá-los. Bem, talvez não o de exercer contabilidade, mas os restantes sim. A amizade, os cavalos, o respeito pela sua inteligência em vez do respeito que alcançara pela sua beleza... Queria regressar a casa e encontrar a Lauren de outrora, a que nunca enfrentara uma câmara, a que nunca sonhara em ser actriz...

Acima de tudo, queria ver as suas colegas do Clube da Amizade, as suas quatro melhores amigas. As cinco tinham-se apoiado em todas as situações, tinham passado noites em claro a falar dos rapazes e dos sonhos que albergavam, e tinham conseguido que toda a cidade falasse das suas correrias. Apercebeu-se de que, inclusive agora, Cassie, Karen, Emma e Gina a ajudavam a manter os pés assentes no chão, apesar de estarem espalhadas por todo o país e de se manterem em contacto apenas por telefone. Não obstante, eram sempre um ombro sobre o qual podia chorar, alguém a quem podia pedir um conselho e, sobretudo, alguém com quem podia rir. Eram as pessoas mais importantes para ela, não os agentes, os chefes ou os publicitários, que apenas procuravam ser fotografados ao lado da grande estrela.

Durante os últimos dez anos, a sua vida parecia mais uma farsa do que algo que exigia muito de si, tanto física como emocionalmente. O facto de um produtor a ter descoberto quando trabalhava apenas como contabilista num estúdio cinematográfico, passara a fazer parte das lendas de Hollywood. Quando o homem lhe pediu que fosse a uma audição para o seu novo filme, Lauren desatou a rir. Conseguir um pequeno papel, mas com um peso assombroso como o que lhe propôs, pareceu-lhe uma brincadeira. Poucos meses depois, com esse pequeno papel conseguia uma nomeação para os Óscares da Academia.

Como consequência dessa nomeação, fora-lhe impossível retomar o seu trabalho anónimo como contabilista. Foi contactada por outros produtores e outros papéis começaram a surgir, juntamente com o reconhecimento, a publicidade e os homens. O que inicialmente lhe pareceu um golpe de sorte, transformou-se em fama e verdadeiro sucesso. Contudo, tinha a sensação de que tinha perdido algo pelo caminho.

A voz do cirurgião trouxe-a de volta ao presente.

– Bem, menina Winters, quer que o meu ajudante lhe reserve a sala de operações para a próxima semana? A minha agenda está sobrecarregada, mas tenho a certeza de que para si conseguiremos uma vaga – afirmou o homem, com um enorme sorriso.

Era evidente que considerava aquele gesto como um enorme favor, apesar de ambos saberem que tê-la como cliente seria uma excelente publicidade para ele. Embora prometesse total discrição, a verdade acabaria por saber-se. Como tudo o que acontecia em Hollywood.

Lauren pesou as suas opções: ir a Winding River para ver as suas amigas ou submeter-se àquela operação desnecessária só por vaidade. No fim, não teve qualquer dúvida.

– Muito obrigada pelo seu tempo, senhor doutor, mas creio que gosto do meu rosto tal como está. Continuarei com ele durante mais algum tempo.

O médico encarou-a, surpreso. Era óbvio que ficara espantado com a sua decisão.

– Se esperar, não poderei garantir-lhe que os resultados sejam tão bons.

Lauren dedicou-lhe um dos seus sorrisos deslumbrantes que faziam com que a maioria dos homens se rendesse aos seus pés.

– Para lhe ser absolutamente sincera, senhor doutor, não me parece que os cavalos e o gado de Winding River se importem com isso.

 

Um

 

Nessa semana, os membros do Clube da Amizade tinham-se reunido em redor da mesa da cozinha de Karen, como acontecia todas as segundas-feiras. Emma saíra de Denver para se estabelecer ali e abrira o seu próprio escritório de advocacia; Gina estava à frente do restaurante do Tony, em Winding River, e Cassie era muito feliz no seu casamento com Cole, pelo que aproveitavam para se reunir em qualquer lugar, todas as semanas, para falarem das suas vidas. Lauren ia ter com elas sempre que podia, o que, à medida que o tempo passava, se tornava cada vez mais frequente.

Até quando não estava na cidade, tinha a sensação de que era o principal tema de conversa. As amigas estavam muito preocupadas com ela. Era a única que ainda não se tinha mudado para Winding River, desde que a reunião de antigos alunos a fez regressar à pequena aldeia. Também era a única que não estava nem bem casada nem comprometida. Se se tivesse mostrado entusiasmada com a vida que levava em Los Angeles, talvez elas não estivessem tão preocupadas. Contudo, Lauren não conseguira esconder o seu desencanto.

Nem ela mesma era capaz de explicar a si própria por que razão ainda não fora capaz de tomar a decisão de regressar a Winding River, quando, para toda a gente, estava muito claro que Los Angeles já não a atraía tanto como a atraíra no passado.

Permaneceu durante uns minutos nos degraus do alpendre das traseiras do rancho Blackhawk, a ouvir a conversa que decorria no interior da casa. Aquele rancho transformara-se na sua casa, em Winding River. Ali compreendera que aquele era o único lugar onde se sentia totalmente em paz. Nos últimos meses, começara a encontrar-se de novo. A única coisa que precisava de fazer era de conciliar o que estava a descobrir com a vida que levava há dez anos.

Ouviu o seu nome, o que a fez prestar ainda mais atenção à conversa.

– Digo-vos que se passa algo com ela. A Lauren não é feliz. Sei que quer voltar para cá – dizia Karen. – Temos de fazer algo.

Lauren suspirou e bateu à porta. De seguida, entrou sem esperar que alguém lha abrisse.

– Estão outra vez a falar de mim nas minhas costas? – perguntou alegremente, enquanto pegava numa cadeira e se sentava. – Ou será que sabiam que estava ali fora?

– Sabes que te diria o mesmo na cara – replicou Karen. – Na verdade, tenho-to dito com tanta frequência que até eu estou cansada de me ouvir.

– Então, porque é que não esqueces o assunto? – indagou Lauren num tom levemente irritado. Aquela pressão não estava a ajudá-la a tomar uma decisão. Na realidade, dava a impressão de estar a atrapalhá-la ainda mais, uma vez que não parava de se interrogar sobre se queria regressar pelas suas amigas ou por si mesma.

– Não o esquecerei, porque sei que não és feliz – declarou Karen, franzindo o sobrolho. – E não compreendo por que motivo não fazes algo para resolver essa situação.

– A Karen tem razão? – quis saber Emma. – Queres voltar para cá? Há meses que todas nós desconfiamos disso. Se assim é, o que é que te prende? Deixa-te levar. Fá-lo... se é o que realmente queres.

– Afinal, passas aqui metade do teu tempo – interveio Cassie. – Porque é que não o fazes a tempo inteiro?

Tinham razão. Se aquilo era o que queria, era o momento de agir. Uma a uma, as suas amigas tinham regressado a Winding River e eram felizes ali. Tinham encontrado o que lhes faltava nas suas vidas e invejava-as por isso.

No entanto, e se ela não encontrasse o mesmo tipo de satisfação? E se estivesse a enganar-se a si própria, acreditando que seria mais feliz levando uma vida normal, no Wyoming, do que na confusão de Hollywood? E se desperdiçasse tudo o que alcançara e regressasse a casa apenas para descobrir que continuava tão infeliz como naquele momento? E se o problema estivesse nela mesma e não na sua profissão?

– Conversa connosco – incentivou-a Gina. – Porque é que hesitas tanto?

– É um passo muito grande...

– Sim, claro – afirmou Emma. – No entanto, que riscos poderás correr? É uma questão de dinheiro? A menos que o tenhas esbanjado desmesuradamente, devias ter dinheiro suficiente para o resto da tua vida.

– Isso é verdade.

– Além disso, não te enlouquece que te reconheçam onde quer que vás? – inquiriu Cassie. – Se assim é, não creio que vás sentir falta dessa popularidade.

– Claro que não! – exclamou Lauren com veemência. – Odeio que isso aconteça.

– É pelo teu trabalho como actriz? – perguntou Karen. – Sempre tive a sensação de que não o levavas muito a sério, embora o desempenhes na perfeição. Estou enganada? Julgas que vais sentir falta disso?

– Não, não é por representar. É divertido, mas na realidade não significa nada para mim. Não sinto uma necessidade imperiosa de me colocar diante das câmaras.

– E os homens bonitos? É isso? – quis saber Gina, com um sorriso nos lábios. – Deus sabe as saudades que todas nós teremos das tuas histórias! Contudo, estou disposta a sacrificar-me, desde que te possa ter aqui.

– Asseguro-te que não se trata de homens. Estou vacinada. Não conheci um único que não fosse egoísta.

– Afinal, de que é que se trata? – indagou Emma. – Dá-nos uma razão para que voltares a viver aqui, perto de todas nós, não seja a decisão mais sensata da tua vida e a melhor para ti.

– A questão talvez seja essa – comentou Cassie, dando uma cotovelada a Emma. – Nós as quatro poderíamos não a deixar em paz enquanto não encontrasse alguém e se estabelecesse definitivamente aqui, como sucedeu connosco. Isso poderia importuná-la.

– Nós? Fazermos uma coisa dessas? – replicou Emma, atónita.

– Sim, claro, é isso – comentou Lauren, sorridente. – Sois o adversário perfeito de um «sabe-tudo».

– Nesse caso, faremos uma promessa – sugeriu Lauren. – Poderás tomar as tuas próprias decisões sozinha. Nós prometemos manter-nos à margem.

– Como agora?

– Bem, depois desta conversa, sim – retorquiu Emma. – Gostaríamos imenso que regressasses. Queremos ter-te por perto. E os nossos filhos também querem ter-te à mão, porque os mimas muito.

Há muito tempo que Lauren meditava sobre a possibilidade de regressar a Winding River. Sempre se alojara em casa da Karen. Durante algum tempo, ajudara-a a superar a morte do seu marido. Porém, desde que ela voltara a casar, com Grady Blackhawk, e se mudara para o rancho da zona Este, continuara a alojar-se em casa dela. Tinha até o guarda-fatos cheio de roupa, no quarto de hóspedes.

Grady fora muito tolerante a esse respeito. Como estava tão apaixonado pela esposa, era um dos poucos homens que não se impressionava com a beleza de Lauren. Tratava-a como um ser humano e isso agradava-lhe. Ford, o marido de Emma, comportava-se de forma semelhante, e o mesmo sucedia com Cole e Rafe, os maridos de Cassie e Gina, respectivamente. Sentia-se maravilhosamente bem por desfrutar da companhia de homens autênticos, que a respeitavam pela sua inteligência e não pela sua beleza física.

Talvez esse fosse um dos problemas. Sentia-se muito cómoda como convidada, no rancho Blackhawk. Se se mudasse definitivamente para Winding River, teria de procurar uma casa, construir a sua própria vida e não viver em função da dos seus amigos. E isso assustava-a. O que é que ia fazer ali, se regressasse? Podia reformar-se, contudo, tinha ainda demasiada energia para se conformar com essa situação. Por outro lado, detestava Contabilidade.

– Chegou a hora, coração – disse-lhe Karen, apertando-lhe carinhosamente o braço. – Podes ficar aqui, com o Grady e comigo, durante o tempo que quiseres. Na verdade, ele iria adorar que o ajudasses a cuidar dos cavalos. O novo tratador que contratou, na semana passada, é fantástico, mas o Grady afirma que ninguém tem a tua habilidade.

– Estás a falar a sério? – perguntou Lauren, emocionada. – O Grady disse mesmo isso?

– Claro, e o meu marido não é do tipo que elogia alguém sem uma razão válida. Contratar-te-ia num abrir e fechar de olhos.

– Não necessito do vosso dinheiro. Para mim, basta saber que estou a ajudar-vos.

– Seria uma ajuda preciosa, sem dúvida alguma.

– Creio que é a situação ideal – comentou Emma. – Eu poderia redigir o vosso contrato.

– Não me parece que precisemos de um – declarou Karen, ao ver que a amiga se preparava para tirar lápis e papel.

– Claro que não – concordou Lauren. – Além disso, isto seria apenas uma experiência. Se não corresse bem, ninguém perderia nada.

– Só achei que, se estivesse escrito, toda a gente compreenderia o que era esperado de ambas as partes – esclareceu Emma, defendendo a sua posição, ao mesmo tempo que guardava o lápis e o papel.

– A tua veia de advogada é que te leva a pensar desse modo. A Lauren compreende tudo perfeitamente, não é verdade?

– Perfeitamente – confirmou ela. – Eu trabalho com os cavalos em troca de alojamento e alimentação. Parece-me um acordo muito justo.

– Então, negócio fechado? – indagou Karen, com um brilho de esperança nos olhos.

Depois de meditar sobre o assunto por breves instantes, Lauren assentiu. Aquela era a razão pela qual hesitara tanto no momento de aceitar, ou não, a sua participação no novo filme que o seu agente lhe oferecera. A sua intuição prevenira-a de que ia encontrar algo que a satisfaria muito mais.

– Negócio fechado – respondeu. – Regressarei assim que resolver uns assuntos em Los Angeles. No entanto, não pretendo ficar aqui para sempre. Tenciono procurar uma casa para mim. Não quero que o Grady fique com medo de que eu decida criar raízes aqui.

Antes de terminar de falar, as amigas rodearam-na, eufóricas; transbordavam de felicidade. Depois de ter tomado aquela decisão, Lauren sentia-se, pela primeira vez em muitos anos, como se estivesse exactamente onde devia estar, a fazer exactamente o que devia fazer.

 

 

Wade Owens olhou para a mulher que deslizava por entre as tábuas da vedação e sentiu que o seu coração parava de bater abruptamente. Disse para consigo que não fora o seu traseiro perfeito que lhe provocara aquela reacção, nem o cabelo ruivo que, preso numa trança, reluzia como se fosse fogo, mas sim o facto de se estar a aproximar de um puro-sangue que não gostava de desconhecidos. O que começara obviamente como uma aventura estava destinado a terminar muito mal.

Desatou a correr em direcção ao curral, porém, rapidamente decidiu abrandar o passo para não ser ele a assustar o cavalo. Meia-Noite movia-se nervosamente, olhando fixamente para a mulher que se aproximava dele.

Wade apercebeu-se de que a mulher murmurava uma melodia suave e tranquilizadora, não muito diferente da que ele próprio teria utilizado. Apesar de tudo, tencionava repreendê-la por ter entrado na cerca, assumindo que sairia ilesa, algo que ainda estava longe de ser verdade.

Onde diabo estariam Karen e Grady? Por que diabo teriam permitido que aquela mulher circulasse livremente pelo rancho? Talvez nem sequer soubessem que estava ali. Devia ser isso. Sabiam o quanto Meia-Noite era nervoso e, se estivessem no rancho, nunca teriam permitido que se aproximasse do animal.

Os fortes músculos do animal ficaram tensos, quando ela colocou suavemente a mão sobre o seu pescoço. O animal esgravatava o chão com uma pata, mas não a atacou, ao contrário do que Wade imaginou. Sem parar de murmurar, a mulher meteu a mão no bolso e tirou um torrão de açúcar. Quando Meia-Noite o cheirou, tirou-o delicadamente da mão da mulher, como se nunca lhe tivesse ocorrido fazer-lhe mal.

Por fim, Wade relaxou um pouco. Era evidente que aquela mulher conhecia muito bem o cavalo. Este teria dado um forte coice a qualquer pessoa que se tivesse aproximado dele, embora adorasse guloseimas. Açúcar, maçãs, cenouras... Observou como o animal lhe tocava no bolso com o focinho para que lhe desse mais.

A mulher desatou a rir, suave e alegremente, quando o cavalo a empurrou bruscamente e quase a fez cair sobre o seu atraente traseiro.

– Não, não há mais – disse-lhe, esfregando-lhe o pescoço.

Wade sentiu um enorme desejo de trocar de lugar com o Meia-Noite. Questionou-se sobre como se sentiria se aquelas esbeltas mãos lhe acariciassem o pescoço e deslizassem pelo seu peito daquela maneira. Então, murmurou uma maldição. Era horrível um homem ter ciúmes de um cavalo.

Passado algum tempo, a mulher afastou-se do cavalo e saiu por onde entrara com uma expressão de satisfação no rosto. Esta só se desvaneceu ao deparar-se com Wade, que tirava o chapéu. Ele tinha uma expressão que teria intimidado o próprio Wyatt Earp.

– Olá – cumprimentou-o ela, com um sorriso que lhe gelou no rosto ao ver que não era correspondida.

– O que é que achou que estava a fazer? – explodiu ele, na esperança de a fazer tremer dentro daquelas caríssimas botas.

– O que é que lhe pareceu? – perguntou ela, sem se deixar intimidar.

– A mim pareceu-me que estava a esforçar-se para que a matassem e, ao mesmo tempo, destruíssem a vida de um puro-sangue. Da próxima vez que chegar à conclusão de que quer falar com os animais deste rancho, peça permissão. A senhora não está num maldito picadeiro, nem estes animais são mascotes.

Se a sua intenção era intimidá-la, fracassou redondamente. A mulher deu um passo firme na sua direcção. Aproximou-se tanto que as pontas das botas tocaram-se e o aroma floral que emanava dela envolveu-o, ao ponto de o perturbar, da cabeça aos pés.

Wade engoliu em seco. Teve de se controlar para não recuar. Além disso, nenhuma mulher lhe ia dar ordens nos seus estábulos, sobretudo quando ambos sabiam que ele tinha razão.

– Agora, oiça-me – replicou ela, colocando o dedo indicador, perfeitamente pintado e arranjado, sobre o seu peito. – Eu estava dentro da cerca, porque o Grady e a Karen me pediram que viesse ver aquele cavalo. Tanto quanto sei, este rancho é deles. Essa permissão é suficiente, vaqueiro?

– Pediram-lhe que entrasse no curral? E por que razão fariam uma coisa dessas?

– Talvez porque lide com cavalos desde bebé, quando ainda nem sequer andava. Talvez porque, ao contrário de certas pessoas, não os obrigue a fazer coisas que não querem fazer. Talvez porque ganhar a confiança de um cavalo que foi tão maltratado como este, seja algo que o tratador que contrataram não faça nem a mais pequena ideia do que é. Presumo que esse seja o senhor – acrescentou com um sorriso enigmático.

Sim, de facto, era ele. No entanto, Wade não tencionava começar a discutir com ela. O que pensava fazer, isso sim, era ter uma longa conversa com Grady Blackhawk para saber quem estava a cargo dos cavalos, naquele rancho. De acordo com o que lhe tinham dito, esse era um trabalho da sua exclusiva competência.

– Até o Grady me dizer o contrário – retorquiu, olhando-a fixamente nos olhos, – ninguém se vai aproximar do Meia-Noite, a menos que eu o autorize. Se a vejo de novo aqui, tenho a certeza de que não gostará do modo como correrei consigo.

– A sério? – indagou ela.

– Ponha-me à prova.