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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Katherine Garbera. Todos os direitos reservados.

DANÇA DE PAIXÃO, N.º 1092 - Outubro 2012

Título original: Taming the Vip Playboy

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2012.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer seme-lhan a com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1296-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

O ritmo da Pequena Havana latejava nas veias de Jen Miller quando estacionou o carro numa das ruas adjacentes à Rua Oito e se dirigiu ao Lua Azul, contente por os irmãos Stern a terem contratado como professora de salsa para o clube noturno propriedade dos mesmos.

O clube era invulgar. Os irmãos Stern tinham provocado um escândalo ao comprar a velha fábrica de charutos, no coração da Pequena Havana, e ao terem-na transformado num dos melhores clubes de Miami. E alguns membros da comunidade cubano-americana ainda não lho tinham perdoado.

Com um saco grande pendurado ao ombro, atravessou a impressionante entrada do Lua Azul. E deteve-se um momento, como fazia sempre, para admirar o lustre do teto de Dale Chihuly: o tema era um céu noturno com uma enorme lua azul. O tema estendia-se ao logotipo do clube e às cores dos uniformes dos empregados.

Estava contente por trabalhar ali. E mais contente ainda por ter a oportunidade de dançar outra vez. Três anos antes, uma má decisão que tomou, baseada no coração em vez de na razão, fora a causa de a terem proibido de participar na dança de competição.

Mas ei-la ali agora, a dar aulas da sua dança preferida, a dar aulas de salsa.

A salsa era uma dança oriunda das Caraíbas e, ainda que ela fosse cem por cento americana, sentia essa dança dentro de si, como se fosse feita à sua medida.

Enquanto se adentrava no clube, viu que estavam a preparar o palco principal para a atuação dessa noite dos XSU, o grupo inglês de rock que obtivera um rotundo sucesso nos Estados Unidos no ano anterior. A sua irmã e a melhor amiga desta tinham-lhe rogado que lhes arranjasse bilhetes para o concerto, e ela tinha-os conseguido.

O clube estava dividido em várias zonas. No piso inferior, diante do palco, havia uma enorme pista de dança rodeada de mesas altas com bancos e também mesas retiradas em pequenos e escuros espaços reservados. No piso superior, onde ela passava a maior parte do tempo, havia uma sala de ensaios com um pequeno bar e uma plataforma inferior com vista para o andar de baixo. Mas as autênticas joias deste andar eram a galeria, à esquerda, e o palco, ao fundo.

Era aí onde, noite após noite, o Lua Azul levava a cabo as famosas festas de sexta-feira à noite da Rua Oito. No clube, todas as noites eram uma festa de música e dança latino-americanas em que participavam os artistas mais importantes desse tipo de música.

E ali estava ela, a fazer parte de tudo daquilo.

Quando Jen entrou na sala de ensaios, a sua assistente cumprimentou-a.

– Estás atrasada.

– Não, Alison, chego mesmo na minha hora.

Alison arqueou uma sobrancelha. Embora agradável e simpática, Alison tinha uma obsessão com a pontualidade.

– A propósito, trouxe um CD novo – acrescentou Jen.

– Que CD?

– Uma compilação da minha música preferida, velhos clássicos da salsa. Quero que a aula desta noite seja diferente.

– Porquê? Que tem esta noite de especial? – perguntou Alison.

– O T.J. Martínez inscreveu-se.

– O jogador de basebol dos Yankees?

– Sim. E como é amigo do Nate Stern, pensei que devíamos fazer um esforço especial – tinha de contentar os donos do clube e os respetivos amigos.

– Quiçá deverias ter chegado um pouco antes.

– Alison, já chega. Ainda faltam trinta minutos para que a aula comece.

– Eu sei, desculpa. É que hoje estou um pouco aparvalhada.

– Porquê?

– Vão enviar o Marc para o Afeganistão outra vez.

– Quando? – perguntou Jen.

Marc era o irmão de Alison e os dois eram muito unidos. Alison costumava dizer que Marc era a única pessoa que tinha no mundo.

– Dentro de três semanas. Eu...

Jen aproximou-se da sua amiga e abraçou-a.

– Vais ver como não lhe acontece nada. O Marc sabe cuidar de si. E enquanto estiver fora, sabes que podes contar comigo.

Alison devolveu-lhe o abraço.

– Tens razão. Bom, vá lá, diz lá que canções é que vais pôr esta noite.

Jen sabia que Alison precisava de se embrenhar na música naquela noite para esquecer os problemas durante um tempo. Admirava a coragem de Alison. Devia ser muito duro ter um irmão soldado.

A música reverberou na sala enquanto Alison e ela começaram o esquema. Alison não dançava mal, embora não suficientemente bem para fazer parte do mundo da dança de competição. Mas, para o Lua Azul, era mais do que suficiente.

– Gosto – disse Alison.

– Ótimo. E agora, quero que dês um golpe de anca mais pronunciado na sexta mudança de ritmo, assim... – Jen fez uma demonstração.

– Muito bem, menina Miller.

Jen cambaleou e, ao voltar o olhar, viu Nate Stern à porta.

Era alto, com cerca de um metro e oitenta e três, de cabelo loiro muito curto. O bronze natural da sua pele era a inveja de todos e qualquer roupa que pusesse lhe assentava bem. Era de mandíbula forte e tinha uma pequena cicatriz no queixo, resultado de um acidente em criança a jogar basebol.

Porque sabia ela tantas coisas de Nate? Abanou a cabeça. Um dos motivos pelo qual se candidatara àquele trabalho era que gostava de Nate Stern desde que, sendo fã dos Yankees, o tinha visto jogar.

– Obrigada, senhor Stern – respondeu ela.

– Jen, gostaria de falar um momento consigo.

– Alison, podias deixar-nos a sós?

– Não é necessário que a Alison saia – disse Nate Stern. – Faça favor, acompanhe-me à galeria.

Jen respirou fundo. Não gostava de receber ordens nem de se submeter à vontade de ninguém.

– Continua a ensaiar – disse a Alison.

Alison assentiu, e Stern e ela dirigiram-se à galeria. Estava nervosa. Se quisesse continuar a dançar, esse trabalho era tudo o que tinha. Se a despedissem, ia ter de deixar de dançar e aceitar o trabalho de secretária no escritório de advogados que a sua irmã, Marcia, lhe tinha oferecido. E não queria isso.

– Algum problema?

– Não, pelo contrário. Todos falam lindamente de si e queria ver como são as aulas.

– Vai assistir à aula desta noite? – perguntou Jen.

– Sim, isso mesmo.

– Ah, ótimo – respondeu Jen com um falso sorriso. – Soube que um dos seus antigos colegas de equipa se inscreveu na nossa aula.

– Sim, o Martínez. Eu queria vir para ver como se sai a ensinar alguém famoso a dançar.

Jen alçou os olhos para o teto. Será que esse homem achava que ia tratar T.J. Martínez de forma diferente de como tratava o resto dos seus alunos?

– Acha que não vou saber lidar com uma pessoa famosa?

– Não faço ideia – respondeu ele. – É por isso que decidi assistir à aula.

Ainda que estivesse furiosa, Jen manteve a calma.

– Sou uma profissional, senhor Stern. Foi por isso que o seu irmão me contratou. Não é necessário que assista a uma das minhas aulas de salsa, asseguro-lhe que sei fazer o meu trabalho.

– Ofendi-a? – perguntou Nate inclinando a cabeça.

– Sim, fê-lo.

Ele dedicou-lhe um sorriso breve, trocando a arrogante expressão que tinha por uma encantadora.

– Desculpe, não era essa a minha intenção. A assistência de gente famosa a este clube é o que nos faz estar acima do resto dos clubes de Miami, e quero que continue a ser assim.

Jen assentiu.

– Compreendo. E asseguro-lhe que a aula desta noite não vai danificar a reputação do Lua Azul. E terei o maior prazer em tê-lo na minha aula desta noite.

– A sério?

– Sim – Jen deu meia volta e começou a caminhar em direção à sala de ensaios. – Porque, após esta noite, vai ter de me pedir desculpa por ter posto em dúvida o meu profissionalismo.

O riso dele ressoou no vestíbulo.

 

 

Nate observou-a enquanto se afastava, e arrependeu-se de não ter ido ali antes. Jen Miller era airosa, tinha coragem e era bonita. Tinha longas pernas e um corpo esbelto. Era uma boa bailarina e isso notava-se até na forma de andar.

Permaneceu no pátio, contemplando o céu do entardecer. Era fevereiro e estava fresco. Da cozinha do pátio saía o cheiro de comida cubana.

Tinha feito o que devia para manter a imagem do clube. Afinal de contas, ele estava à frente do Lua Azul; ainda que tinha graça ser o proprietário, juntamente com os irmãos, do clube mais famoso da Pequena Havana e não serem hispano-americanos.

Nate era o mais novo de três irmãos, Justin era o do meio e Cam o mais velho. A ideia de transformar a antiga fábrica de charutos num clube noturno tinha sido de Cam. Justin era o especialista em finanças e quem, desde o princípio, sabia que ganhariam dinheiro investindo o fundo fiduciário no clube.

Nesse tempo, Nate, imerso no mundo do basebol, tinha-se limitado a assinar, e assim tinha arrumado o assunto. Mas quando dois anos mais tarde uma lesão no ombro o obrigou a deixar o basebol, congratulou-se enormemente por Cam e Justin terem comprado a fábrica e aberto um clube.

Em seguida descobriu que ele também tinha algo com que contribuir para o negócio: uma longa lista de contactos entre os famosos.

Por muito que gostasse de basebol, era um Stern da cabeça aos pés e, portanto, muito sociável. Algo que os repórteres notaram no momento em que chegou a Nova Iorque para jogar nos Yankees. E ele encarregara-se de que continuasse a ser assim.

Utilizava a sua fama para dar publicidade ao clube. E embora já tivesse deixado o basebol há mais de seis anos, continuava a ser um dos dez jogadores mais famosos da equipa.

– O que estás a fazer aqui em cima? – perguntou-lhe Justin ao sair da zona de cozinha.

Justin era cinco centímetros mais alto do que ele e tinha o cabelo castanho-escuro. Os dois tinham os mesmos olhos que a mãe e a forte mandíbula do pai, um rasgo característico dos varões Stern.

– Acabo de falar com a professora de salsa. O T.J. vem à aula de dança esta noite e queria ter a certeza de que a professora ia saber comportar-se.

– Deve ter adorado.

– Conhece-la? – perguntou Nate, sentindo uma leve pontada de ciúmes pela familiaridade com que o seu irmão falava de Jen.

– Nem por isso. Mas entrevistei-a para o trabalho e tem muita confiança em si mesma. Não gosta que ponham em dúvida o seu profissionalismo.

– E quem gosta disso? – perguntou Nate.

– Eu não, de certeza. Amanhã tenho uma reunião com as forças vivas da comunidade. Querem que se tenha em conta a opinião deles a respeito da festa de celebração do décimo aniversário do clube.

– Quando vão aceitar que somos parte da comunidade e que não vamos arredar daqui? – inquiriu Nate.

– Nunca se vão dar por satisfeitos – declarou Cam, que acabava de aparecer no pátio. – O que estão a fazer aqui? Preciso de vocês lá em baixo, para receberem a banda de música.

– Vou já – disse Nate. – Também tenho de receber o jornalista do Herald. E tenho quase a certeza de que a Jennifer López vai passar por aqui esta noite; está na cidade e a sua gente disse que ia passar pelo clube. E tenho de ver mais quantos famosos vão vir.

– Ótimo, gosto do que dizes – disse Cam.

– Eu sei, por isso passo as noites na farra – respondeu Nate.

– Pois! Fazes isso porque gostas – interpôs Justin.

– Claro que gosto. É genético. Não nasci para assentar a cabeça.

– Como o pai? – perguntou Justin.

– Sim, como o pai. Acho que é por isso que ele e mãe não se davam bem – disse Nate.

– Por isso e porque a mãe era muito fria – acrescentou Cam.

Nate desviou os olhos dos seus irmãos. A sua mãe nunca tinha querido ter filhos e tinha-lhes dedicado o menor tempo possível. Cada um dos três fora afetado de forma diferente. No que a ele se referia, não se fiava das mulheres, estava convencido de que, mais tarde ou mais cedo, acabavam sempre por abandonar o homem com quem estavam.

– Bom, acho que os três sabemos o que temos de fazer esta noite – declarou Cam. – Tudo bem nas tuas negociações com as forças vivas da comunidade?

– Lentas. Convidei uns quantos para o espetáculo desta noite para que vejam até que ponto fazemos parte da Rua Oito.

– Muito bem. Mantém-me informado – disse Cam.

– Eu faço isso, fica descansado.

Nate e os seus irmãos desceram ao andar inferior. Ali no meio, com o clube quase vazio, Nate olhou em redor. Era difícil crer que aquele lugar tinha sido uma fábrica de charutos.

Em pequeno nunca tinha pensado no futuro. Uma vez que se convertera em jogador de basebol profissional, imaginou que continuaria a jogar até aos trinta e tantos anos e que depois passaria a trabalhar como comentador desportivo. Mas a lesão, tão jovem, tinha mudado os seus objetivos.

Mas não lhe pesava, gostava do que fazia.

– Nate...

Voltou-se e viu T.J. Martínez no vestíbulo, sob a estrutura suspensa de Chihuly.

– T.J., amigo! Foi bom o voo?

– Bom, muito bom. Pronto para um pouco de ação esta noite.

– Tal como eu – respondeu Nate apertando a mão ao amigo ao mesmo tempo que se abraçavam. – Ouvi dizer que te inscreveste nas aulas de salsa.

– A Mariah tem insistido muito para que venha às aulas; diz que a professora é do melhor e que seria uma estupidez desperdiçar a ocasião. E o Paul disse que a professora era estupenda.

– Vê-lo-ás por ti mesmo. A primeira aula começa dentro de meia hora. Apetece-te uma cerveja antes?

– Claro. Assim conto-te as novidades do clube. Corre o rumor de que o O´Neill vai mudar de equipa.

Nate conduziu o amigo ao bar e conversaram sobre basebol e sobre os jogadores que ambos conheciam. No entanto, ainda que se esforçasse por se concentrar no que falavam, não conseguia deixar de pensar em Jen. Mas não lhe deu importância.

– Bom, vamos indo. Não quero que chegues atrasado à tua primeira aula.

– Vais vir comigo?

– Sim, importas-te? Ainda não assisti a nenhuma aula de salsa e, tal como disseste, a professora é... muito boa.

T.J. atirou a cabeça para trás e lançou uma gargalhada. Os dois acabaram as cervejas e subiram ao andar superior, para a aula de Jen.