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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2004 Harlequin Books S.A.

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Dias dourados, n.º 669 - Abril 2015

Título original: Sin City Wedding

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6933-2

Editor responsável: Luis Pugni

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

Larissa Nielsen imaginara uma infinidade de vezes o seu reencontro com Jacob Danforth, mas em nenhuma dessas ocasiões pensou que estivesse vestida com umas calças de ganga gastas e uma t-shirt desbotada. No entanto, a visita que recebera na noite anterior de Jasmine Carmody, uma repórter do jornal local, não lhe deixara outra opção. Tinha de falar com Jake antes que aquela mulher revelasse ao mundo que era o pai do seu filho Peter.

Por esse motivo estava ali, sentada no seu carro, diante da casa de Jake em Savannah, às sete da manhã, como se fosse uma ex-namorada psicótica que não pudesse esquecê-lo e estivesse a espiá-lo. Nesse momento poderia estar na sua casinha em Riverside, nas margens do rio Savannah, a tomar calmamente o pequeno-almoço com o seu filho de três anos, pensou com um suspiro. Mas imediatamente a sua consciência lhe lembrou que aquilo era algo que deveria ter feito há muito tempo. Tinha de decidir-se a sair do carro, ir até à porta e tocar à campainha.

Fechou o pequeno livro de poemas de Robert Frost que tinha nas mãos, e voltou a guardá-lo no porta-luvas. Levava-o sempre consigo, porque a ajudava a evadir-se quando se sentia aflita, e nessa manhã, enquanto esperava, proporcionara-lhe a via de escape que necessitava do enxame de pensamentos que fervilhavam na sua cabeça.

Uns golpezinhos no vidro sobressaltaram-na. Virou o rosto e ergueu a vista, e viu um homem inclinado, um homem de olhos escuros a quem não esquecera: Jake. A expressão de tipo duro apagou-se do seu rosto mal a reconheceu, sendo substituída por um cálido sorriso.

Larissa desactivou o fecho automático da porta e Jake abriu-a.

Nunca tinha sido uma pessoa tímida, mas de repente sentiu-se como o leão covarde do feiticeiro de Oz. Conhecia Jake e sabia que quando lhe dissesse que tinha um filho e que lho ocultara durante três anos, não o aceitaria precisamente bem.

Peter continuava a dormir no banco traseiro, e a sua mãe voltou-se um instante para olhá-lo, a fim de assegurar-se que estava bem tapado com a sua mantinha preferida. Estavam em Março e fazia um pouco de frio. Estremeceu ligeiramente ao sair do carro e friccionou os braços com as mãos, desejando que os vidros fumados ocultassem o seu filho da vista de Jake até que lhe tivesse falado dele.

– Larissa… O que estás aqui a fazer, sentada num carro à frente da minha casa a estas horas? – inquiriu Jake, ainda não refeito do seu assombro.

Devia vir de correr, porque estava vestido com uns calções, uma t-shirt empapada em suor e sapatilhas de desporto. Bom, pensou Larissa com alívio, fechando devagar a porta do veículo, pelo menos estava vestido de forma tão informal quanto ela.

Mas apesar da roupa, estava tão bonito como se lembrava dele. Perguntou-se se continuaria a ser também igualmente bom na cama, e teve de obrigar-se a afastar a vista do seu musculoso tórax para olhá-lo na cara.

– É uma longa história.

– Longa como? – inquiriu ele com um meio sorriso. – Quase quatro anos?

– A verdade é que sim.

– Bom, então será melhor que nos ponhamos à vontade. Entra em casa; farei café e falaremos disso. Se algo não falta em casa é precisamente café. Não tenho tantas variedades como nos nossos cafés, mas…

Larissa riu-se. Jake conseguia sempre fazê-la rir, mas não podia deixar Peter no carro.

– Agradeço – balbuciou, – mas… bom, é que… verás, há algo que tenho de dizer-te e…

– E não podes dizer-mo dentro?

– Pois… não, receio que não.

Apoiou-se na porta do carro tentando encontrar as palavras adequadas. Engoliu em seco, e humedeceu os lábios.

– Hum… isto é mais difícil do pensei que ia ser – começou. Inspirou profundamente. «Coragem, Larissa, coragem». – Lembras-te daquela noite em que tu e eu…?

– Como poderia esquecê-la? – respondeu ele, passando um dedo pela sua face.

Um formigueiro percorreu Larissa de ponta a ponta. As mais leves carícias de Jake sempre a fizeram reagir daquele modo, ainda quando fossem totalmente inocentes.

– Eu também não a esqueci – confessou.

– Por isso estás aqui? – inquiriu ele.

Inclinou-se para ela, pousou o olhar na sua boca, e Larissa sentiu que voltava a estremecer. Sem dar-se conta do que fazia, lambeu os lábios e Jake seguiu o movimento da sua língua com o olhar. Diabos, aquilo estava a escapar-lhe das mãos. A mão desceu e acariciou-lhe o lábio inferior com o polegar.

– Depois de quase quatro anos voltas a aparecer na minha vida e não consigo imaginar a razão – murmurou. – Porquê agora, Larissa? Porque estás aqui?

Ela voltou a engolir em seco.

– Uma repórter apareceu em minha casa ontem à noite por… causa de um assunto que pode afectar a candidatura do teu pai ao senado.

– Esses malditos jornalistas… – balbuciou Jake, passando uma mão pelo cabelo encaracolado. – Será possível que não possam deixar-nos em paz nem um minuto?

– …e sabe do… bom, do nosso romance de uma noite – soltou Larissa.

– Não é justo que o chames assim – disse Jake. – Eu não queria que fosse um romance de uma noite, queria voltar a ver-te.

Era verdade. Tinha-lhe ligado várias vezes, mas ela não atendera o telefone, nem respondera às mensagens que lhe deixara no atendedor, e tinha acabado por mudar-se para Atlanta com a colega de quarto que tivera na faculdade, para evitar que pudesse averiguar que a dita noite de paixão tivera consequências.

Mesmo que estivesse disposto a assumir a sua responsabilidade, não lhe pareceu que Jake estivesse preparado para ser pai. Para começar, naquela altura, o seu negócio, D&D, a cadeia de cafés que abrira com o seu primo Adam, absorvia-o muito, porque estava a começar a expandir-se, a abrir franchisings noutros estados, e, por outro lado, no plano pessoal, não era muito maduro, já que não pensava mais do que em diversão.

Além disso, ela sabia por experiência própria que uma mulher que obrigava um homem a comprometer-se, acabava por converter-se num fardo para ele, e há muito que jurara a si mesma jamais transformar-se num fardo para ninguém.

– Tinha as minhas razões para não ir ter contigo em Cancún – murmurou, mordendo o lábio inferior. «Diz-lho já, Larissa. O que esperas?».

Jake olhou-a sem compreender.

– Escuta, Larissa, não vivemos no século dezanove – disse-lhe. – Que duas pessoas livres e sem compromisso passem uma noite juntos não é algo com interesse para que saia nos jornais, sobretudo quando uma delas é completamente anónima. Não sei o que terá entre mãos essa mulher que te ligou, mas não tens por que te preocupar.

– Temo que haja motivos de preocupação – replicou ela.

– O quê? Disse-te que tinha fotos ou algo assim? – perguntou-lhe Jake.

O sorriso malicioso dos seus lábios fez com que as lembranças dessa noite voltassem como um remoinho à mente de Larissa. Tinha sido uma calorosa noite de verão, e nos seus braços, sentira-se a mulher mais bela do mundo, não a rapariga mais para o feinho que sempre fora.

– Sim, mas não nossas.

– De quem então? – inquiriu Jake, que estava a começar a encolerizar-se.

«Oh, Deus».

– Do nosso filho.

Jake deu um passo trás, oscilando ligeiramente.

– Disseste… disseste «filho»?

– Sim, o nome dele é Peter, Peter Jacob, e tem três anos – respondeu ela, sentindo-se aliviada por ter-lho dito por fim. – Trouxe-o comigo. Está a dormir no banco de trás.

Jake abriu a porta e contemplou o menino, que tinha o cabelo encaracolado e escuro como o dele. Estendeu uma mão e acariciou-lhe a cabeça com tal ternura, que Larissa soube ao vê-lo que tinha cometido um erro ao não dizer-lho antes.

Ainda tendo enumerado mentalmente os pretextos que dera a si mesma nesses três anos para não fazê-lo, de repente soaram-lhe débeis e sem fundamento, e tinha a certeza que Jake pensaria o mesmo.

Jake, embargado por uma emoção que jamais pensou que pudesse sentir, não podia afastar os olhos do menino.

– O meu filho – murmurou.

O seu filho… Por mais que o repetisse não podia acreditar. Nada o preparara para aquilo. Ser pai era algo que nunca considerara. Tentou desapertar o cinto da cadeira de segurança na qual viajava o pequeno, mas estava tão nervoso que não encontrava maneira. Teria de ligar ao seu irmão Toby mais tarde. Era o único experto na matéria que conhecia.

– Tira-o – pediu a Larissa, tirando a cabeça do carro e chegando-se a um lado.

Tremiam-lhe as mãos. Deus, tinha um filho…

Larissa inclinou-se, e Jake notou que, apesar da maternidade, a sua figura continuava tão esbelta como anos atrás. E os seus olhos continuavam azuis. Sempre lhe tinham parecido os olhos mais honestos que alguma vez vira… até esse dia.

Larissa já tinha desapertado o cinto de segurança da cadeirinha de Peter, e estava a alvoroçar-lhe o cabelo suavemente com a mão para acordá-lo.

– Bom dia, dorminhoco.

O menino deu um grande bocejo.

– Bom dia, mãe.

Havia um vínculo entre eles, um vínculo que Jake nunca quisera, mas que de repente invejava. Talvez esse tipo de vínculo fosse o que necessitava há tempo. Talvez um filho pudesse preencher o vazio que nem o seu trabalho nem as festas tinham conseguido preencher jamais.

Larissa pegou na criança e tirou-a do carro, colocando-a no chão. Jake deu um passo para ele, mas o menino retrocedeu, apertando contra o corpo um ursinho de peluche e olhando-o com receio.

– Está bem, querido, não faz mal. Este senhor é um amigo da mãe – disse-lhe Larissa, acariciando-lhe o cabelo. – É um pouco tímido com os estranhos – explicou a Jake.

– Ele nem sabe o que significa a palavra «pai»? – inquiriu ele, algo irritado por tê-lo apresentado como «um amigo».

– Só tem três anos. A um menino tão pequeno é difícil explicar-lhe…

– Era-te difícil explicar-lho… ou confiavas em poder esperar o mais possível até não teres mais remédio que explicar-lhe? – inquiriu ele com aspereza.

Larissa suspirou.

– Olha, Jake, tens perfeitamente direito a estar zangado comigo por isto, mas se vais comportar-te dessa maneira diante do Peter, eu levá-lo-ei de volta para casa. Para ele, neste momento não és mais do que um estranho que está zangado com a sua mãe.

Jake compreendeu que tinha razão. Fosse justo ou não para ele, para o menino, ela era todo o seu mundo, e fazer com que se desgostasse ou chorasse não faria com que caísse nas suas graças.

Jake ergueu-se e deu um passo atrás.

– Está bem, desculpa.

Peter aferrou-se à perna da mãe sem deixar de observá-lo. Por que Larissa não confiara o suficiente nele para dizer-lhe que estava grávida?

– Essa repórter seguiu-te?

– Não me parece.

– Bem, entremos de qualquer forma. Nunca se pode ter a certeza com essa gente. Parece que têm antenas na cabeça.

Larissa assentiu, e agachou-se para desenganchar os dedos gordinhos de Peter das suas calças. Pegou na mãozinha dele, e ambos olharam para Jake. Ele compreendeu que estavam à espera de ver o que fazia, mas, francamente, não sabia o que esperavam que fizesse. Estava fora do seu elemento.

Agachou-se, fincando um joelho na calçada, e estendeu uma mão ao seu filho. Peter vacilou, e deu-lhe o seu peluche.

– Deu-te o Senhor Urso – disse ela esboçando um sorriso. – Isso significa que lhe parece que pode confiar em ti.

– Alegra-me que pelo menos ele pense assim – respondeu Jake com sarcasmo.

Larissa olhou-o doída, com aqueles grandes olhos seus, e sentiu-se como um bruto. Sabia que devia deixar de lado o seu enfado e tentar lembrar-se das razões pelas quais se sentira atraído por ela anos atrás, mas nesse momento era-lhe impossível.

– Oh, Jake, não se trata de uma questão de confiança – disse ela calmamente.

Ele ergueu a vista e olhou-a com os olhos semicerrados.

– Ah, não? Trata-se de quê, então?

– Pois… pois que eu não era a mulher adequada para ti.

– Isso sem dúvida. Agrada-me um tipo de mulher bem diferente.

Larissa sentiu uma pontada no peito. Tinha de ser tão franco?

– Eu sei – balbuciou irritada: – mais alta, mais voluptuosa, e…

– Ena, obrigado. Linda opinião tens de mim, Rissa – disse Jake, deixando escapar uma gargalhada de incredulidade. – Não sou tão superficial. Queria dizer «honesta». Não me agrada que as mulheres com as quais saio me mintam e me ocultem coisas.

Larissa corou. Jake sabia que se voltasse a abrir a boca, dela sairiam de novo palavras duras e ofensivas, e com isso só conseguiria que Larissa desse meia volta e desaparecesse com o filho que acabava de descobrir que tinha, portanto levantou-se, virou-se, e dirigiu-se à porta de casa dizendo-lhes que o seguissem.

Quando entraram e passaram à sala, Jake hesitou. Se queria falar com Larissa, deveria encontrar algum entretenimento para o menino. Que faziam as crianças de três anos para se divertirem?

– Ele gosta de ver televisão? – perguntou a Larissa.

– Sim, mas só o deixo ver programas educativos.

Jake conteve o impulso de revirar os olhos. Típico de Larissa: só programas educativos. Olhou para o sério menino, para o seu filho. O seu filho… Aquele pensamento voltou a fazer com que uma estranha sensação o invadisse, fazendo com que a irritação para com Larissa passasse a um segundo plano. Aquele era o seu filho, sangue do seu sangue. Tinha de fazer aquilo bem.

Ajoelhou-se de novo em frente ao garoto, e estudou longamente as suas pequenas feições. O menino, por fim, pareceu perder a sua inicial timidez, e estendeu uma mão para tocar-lhe o queixo.

– Pica – murmurou.

– É que ainda não fiz a barba.

Peter alçou o olhar para a mãe.

– Porque não pica a tua cara?

– Porque as meninas não têm barba – respondeu ela.

– As meninas são diferentes – balbuciou Peter, voltando de novo o rosto para Jake.

– Sim, sem dúvida que são – assentiu ele franzindo os lábios.

– Tenho fome.

– Hum… é que não me deu tempo a dar-lhe mais do que um copo de leite antes de sair – balbuciou Larissa sobressaltada. – Pensava… pensava dizer-te que fôssemos tomar alguma coisa a qualquer café aqui perto enquanto falávamos… disto.

– Não faz mal. Vem, campeão – disse a Peter, colocando-lhe uma mão no ombro e conduzindo-o para a cozinha, – vamos fazer-te alguma coisa de pequeno-almoço.

Jake sentou Peter num banco alto, e começou a procurar algo que uma criança de três anos pudesse comer. Não costumava almoçar nem jantar em casa, portanto não tinha grande coisa. Havia azeitonas e frutos secos num dos móveis da cozinha, e cerveja e uma garrafa de xerez no frigorífico, mas as crianças não tomavam essas coisas.

– Deveria ter deixado o Peter com uma babá – murmurou Larissa.

Jake virou-se para ela. Peter estava concentrado num livro electrónico que a sua mãe devia ter tirado, sem dúvida, desse enorme saco que tinha pendurado ao ombro.

– Alegro-me que não o tenhas feito.

Estava tão perto dele que podia cheirar o aroma a fruta do seu champô. Não estava maquilhada, mas também não se lembrava de vê-la maquilhada na faculdade. E também não lhe fazia falta. Tinha uma pele cremosa e sem uma única imperfeição, e uns lábios rosados nem muito finos, nem muito grossos. Uma onda de desejo invadiu-o, irritando-o ainda mais. Não queria sentir-se atraído por ela. Estava zangado com ela.

Larissa engoliu em seco, e Jake soube que ainda não estava certa de que ter-lhe permitido conhecer o filho fosse uma boa ideia. Perguntou em que medida essa dúvida se deveria à sua reputação, e em que medida ao Jake que ela conhecera.

Era certo que nunca quisera responsabilidades. Era algo que a sua família sabia de sobra e que, graças à imprensa, que seguia com lupa os movimentos de cada membro do clã Danforth desde que o seu tio Abraham anunciara a sua candidatura a senador, o sabia também metade do estado da Geórgia. Descreveram-no como um milionário trintão, solteiro empedernido, mulherengo e amante de festas. E ainda que não pudesse negar que era essa a impressão que dava, Larissa conhecera-o o suficiente para saber que no fundo era muito diferente.

– O que queres comer, campeão?

– Crepes.

– Hum… bem, disso não tenho, mas acho que poderemos desenvencilhar-nos – respondeu Jake. Poderia mexer-lhe um ovo… se tivesse algum no frigorífico. Voltou-se para Larissa. – Receio que me tenham apanhado sem provisões, mas posso subir e perguntar ao Wes se tem ovos.

– Wesley Brooks? Aquele rapaz que era teu colega de quarto na faculdade? – inquiriu ela surpreendida.

– Sim, vejo que te lembras dele. Vive no apartamento de cima.

– Ena, que pequeno é o mundo – murmurou Larissa. – Mas não te incomodes. De certeza que tens por aí um pacote de leite e cereais.

– Oh, sim, leite tenho – respondeu Jake, feliz de ter um pacote por abrir na porta do frigorífico. – E cereais… – sim, tenho a certeza de ter por aí um pacote de cereais…, disse rebuscando nos armários da cozinha. – Cá está: muesli com pedacinhos de chocolate – anunciou brandindo uma caixa.

– Não tens flocos de aveia? Ou fruta, ou iogurte natural? – inquiriu Larissa. – Não gosto que coma coisas com chocolate de manhã. E, se não, bastará um copo de leite e uma torrada com manteiga.

– Programas educativos, comida sã… Meu Deus, Larissa, deixas que o nosso menino se divirta alguma vez?

– Claro que o deixo divertir-se – replicou ela, ofendida, como se a estivesse a acusar de ser má mãe. – Só trato de evitar que tenha más influências.

– Por isso mo ocultaste todo este tempo?

– O quê?

– Pensas que sou uma má influência para ele?

– Não! – exclamou ela num instante. – Eu nunca pensei isso.

Larissa, que tinha encurtado a distância entre eles, alçou as mãos para pegar no seu rosto e fazer com que a olhasse nos olhos, e depois deixou-as cair de novo.

– As razões são… complicadas. Anda, serve o pequeno-almoço a Peter, e depois falaremos.

Jake assentiu, algo aturdido. Deus, o que lhe estava a suceder? Quando Larissa deixou cair as mãos, sentiu desejo de agarrá-las e colocá-las de novo na sua cara. Queria que o tocasse de novo, precisava disso, e, de algum modo, aquilo fê-lo sentir-se vulnerável, lembrou-lhe que era apenas um homem, com mais fraquezas das que queria admitir.

Peter tomou finalmente o seu copo de leite e a sua torrada, e Larissa, apesar de negar uma e outra vez, acabou por tomar um café e outra torrada, enquanto Jake devorou uma boa tigela de leite com cereais.

Depois, Jake foi à garagem, voltou passado um momento com uma bola de futebol e foram para o jardim, onde Peter começou a andar de um lado para o outro, dando pontapés na bola, enquanto ele convidava Larissa a sentar-se com ele na poltrona de vime do alpendre.

Jake observou o seu filho correndo atrás da bola com as suas perninhas rechonchudas. Larissa tirara-lhe algo que jamais poderia recuperar, tirara-lhe a possibilidade de ver crescer o seu filho durante os seus três primeiros anos de vida. As primeiras palavras, os primeiros passos… E, apesar de que com má vontade ter admitido no seu íntimo que não teria sido um bom pai para ele três anos atrás, ainda assim sentia-se traído.

De repente pensou no seu próprio pai. Deus, o velho teria um desgosto quando lhe dissesse que tinha um filho de três anos e que acabava de sabê-lo. Ainda que as palavras não aflorassem aos seus lábios, seguramente pelo olhar dar-lhe-ia a entender que era mais uma coisa que tinha estragado. Sim, era isso que o seu pai pensava dele, que simplesmente não era capaz de fazer nada bem feito.

Virou-se para Larissa, que estava a olhar para o filho com um sorriso de mãe nos lábios. Não mudara muito desde a faculdade. Mantinha esse aspecto doce e inocente que fizera com que nunca parecesse encaixar na Escola Politécnica da Geórgia, e que o levara a tornar-se seu amigo e cuidar dela, porque lhe recordava as suas irmãs mais novas, Vitória e Imogene, e gostava que elas encontrassem um amigo assim.

No entanto, aquelas lembranças dissiparam-se quando virou o rosto para o pequeno.

– Estou tão zangado que apetece-me agarrar-te pelos ombros e abanar-te – balbuciou. – Como pudeste fazer-me isto? Como pudeste ocultar-mo durante três anos?