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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Kathie DeNosky

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Incapaz de esquecer, n.º 745 - Novembro 2015

Título original: His Baby Surprise

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7500-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

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Capítulo Um

 

– E o que é que temos agora? – perguntou Tyler Braden após um profundo suspiro.

Pegou na ficha de um paciente que tinha sobre a mesa. Ao longo dos três dias que estivera em Dixie Ridge, Tennessee, Ty aprendera uma importante lição sobre a enfermeira Payne. Pensasse o que pensasse, dizia-o bem alto e bem claro.

– Vai andar com a sua roupa de domingos toda a semana, doutor?

Ty abriu a bata de médico para olhar para a sua camisa branca, a sua gravata às riscas e as suas calças escuras.

– Qual é o mal da minha maneira de vestir?

Martha olhou para ele por cima dos óculos, como se pensasse que era um pouco simples.

– As pessoas daqui não se vestem assim, a menos que vão a um casamento ou a um funeral.

Ty arqueou uma sobrancelha.

– E o que é que a senhora sugere que vista?

A enfermeira mexeu no espesso carrapito cinzento que tinha na base do pescoço, um gesto que Ty começava a reconhecer como preâmbulo dos seus sermões. Quando Martha saiu de trás da mesa e se colocou à sua frente, olhando-o de cima a baixo, Ty sentiu o impulso de baixar a mão para confirmar se tinha o fecho das calças bem fechado. Um rápido olhar para o cinto bastou-lhe para confirmar que sim.

– Em primeiro lugar, devia esquecer as gravatas e as camisas brancas. Fazem com que pareça que está prestes a afogar-se. Uma camisola fica melhor – a enfermeira apontou para as suas calças. – E já que estamos, podia comprar umas calças de ganga e deixar essas para quando vai à missa – encolheu os ombros. – É consigo, claro, mas aviso-o de que as pessoas por aqui não gostam muito das que acham que têm a mania.

– Mas eu não...

– Se não quer saber, não pergunte – uma vez emitido o seu juízo, Martha rodeou de novo a mesa para atender o telefone. – Clínica de Dixie Ridge.

Ty mordeu o interior da bochecha para reprimir o epíteto que tinha na ponta da língua. Quando ligara para o doutor Fletcher para falar sobre uma substituição temporária na clínica, o velho médico avisara-o do mau feitio da sua enfermeira.

«A velha Martha vai ser-lhe de grande utilidade, mas também será a sua crítica mais severa. Assegure-se que a tem do seu lado».

Aquelas palavras simples não conseguiram preparar Ty para a realidade de Martha Payne. Com a sua cara agradável e maternal e a sua voz de sargento a dar ordens, a clínica marchava sob a sua tutela como uma máquina perfeitamente oleada. Fazia de recepcionista e de enfermeira ao mesmo tempo, e a sua eficiência deixava Ty tão embasbacado como a sua franqueza o deixava irritado. Desde que chegara, fora submetido a sermões que iam desde o desperdício de gazes e esparadrapos até à forma adequada de atender o telefone da clínica. E para piorar as coisas, as opiniões de Martha pareciam estar a adquirir um tom mais pessoal.

Ele notara certa reserva nos pacientes, mas, preocupado pelos seus sintomas e queixas, imaginara que era por não o conhecerem. Nem lhe tinha passado pela cabeça que pudesse ser por causa da sua forma de vestir. Puxou do nó da gravata, tirou-a e guardou-a no bolso. Felizmente, quando acabasse os seus seis meses de substituição, regressaria a Chicago e não teria de voltar a ouvir as reiteradas críticas de Martha.

Quinze minutos depois, Ty despedia-se de Harv Jenkins, depois de lhe lembrar que devia tomar os seus remédios regularmente. A seguir, foi até à recepção.

– Isto é tudo por hoje? – perguntou.

Martha negou com a cabeça e deslizou-lhe uma ficha.

– Freddie Hatfield acabara de trazer a Lexi. Rompeu águas e está com contracções de dois em dois minutos. Está na sala de parto e eu diria que falta mesmo muito pouco para dar à luz.

– Teve algum problema durante a gravidez? – perguntou Ty enquanto dava uma vista de olhos na ficha. O doutor Fletcher apenas anotara o peso e a tensão da paciente.

– Não. Conheço a Lexi Hatfield desde que nasceu e sempre teve uma saúde de ferro.

– Mostrou alguma preocupação com respeito ao parto?

– Não – Martha levantou-se. – Está a portar-se muito bem para ser o primeiro. Mas a Freddy não foi capaz de passar da porta.

– Porquê? – perguntou Ty enquanto a seguia pelo corredor que dava para a enfermaria.

– A não ser que seja uma questão de vida ou morte, a Freddie Hatfield foge deste lugar como o Diabo da cruz. A sua delicadeza, nesse aspecto, é incrível – Martha abanou a cabeça e riu-se. – Desmaia só de cheirar o antisséptico.

Delicadeza? Ty franziu o sobrolho perante a descrição. De todos os termos que esperara que Martha usasse para descrever um homem fraco de estômago, «delicado» não estava entre eles.

Um gemido prolongado procedente da enfermaria interrompeu os seus pensamentos. Enquanto Martha ia ver a paciente, Ty entrou no vestiário para se mudar.

No geral, não tivera um mau dia, pensou, enquanto lavava as mãos. O caso mais sério que vira fora as articulações doridas de Harv Jenkins.

Rodou os ombros e notou que grande parte da tensão que o dorido corpo acumulara durante toda a semana se tinha dissipado. Agora só lhe faltava controlar os pesadelos...

Abanou a cabeça para afastar os sentimentos de culpa e de mágoa, sorriu e com o ombro, empurrou a porta que dava para a sala de parto. Não estava disposto a permitir que os trágicos acontecimentos que o tinham levado até àquele lugar lhe estragassem o bom humor.

– Onde está Freddie? – perguntou a paciente.

Martha riu-se.

– Onde é que acha que está?

– No Blue Bird.

Uma comichão percorreu as costas de Ty ao ouvir o familiar sotaque sulista da paciente. Só a voz de uma determinada mulher chegara a afectá-lo daquele modo. Olhou para a marquesa, mas Martha bloqueava-lhe a vista. Se não fosse impossível, juraria que...

Abanou de novo a cabeça para afastar aquele ridículo pensamento.

– Fugiu a sete pés – disse Martha.

Enquanto atava as tiras inferiores da máscara à volta do pescoço, Ty ouviu que a paciente começava a bufar por causa de uma contracção. Quando passou, suspirou, trémulo.

– Aquele é um caso sério. Tão banana – disse com voz rouca.

Ty concordou. O mínimo que o homem podia fazer era estar presente no momento do nascimento do filho.

– Ooooh... porque é que têm de vir tão seguidas? – A mulher gemeu um segundo antes de começar a ofegar de novo.

O desdém de Ty pela atitude cobarde de Fed aumentou. Aproximou-se da lateral da cama para acalmar a sua paciente.

– É normal nestes...

A sua voz foi-se apagando enquanto olhava, de boca aberta, para Alexis Madison, popular locutora de rádio e, até há um ano, sua vizinha. A última vez que a vira fora na noite anterior a ela se ter ido embora de Chicago. Devido à compra da emissora na qual trabalhava, ofereceram-lhe mudar-se para Los Angeles. Ela escolhera voltar para o Tennessee.

De facto, ela era um dos motivos pelos que Ty aceitara aquele trabalho em Dixie Ridge. Enquanto procurava um lugar onde se esconder dos meios de comunicação, lembrou-se de a ter ouvido falar sobre a paz e tranquilidade que reinavam nas Smoky Mountains. Após apalpar terreno, decidira aceitar aquele trabalho temporário na clínica.

A desilusão que caiu sobre o seu peito surpreendeu-o. Sentira-se muito atraído por aquela mulher desde o momento que se conheceram, e fazia tenções de a procurar enquanto ali estivesse. Mas já não havia qualquer motivo para o fazer. Ao que parecia, assim que chegara, conhecera um tipo chamado Fred, casara com ele e ia ter um filho seu.

Obrigou-se a sorrir enquanto olhava para ela.

– Olá, Alexis.

 

 

Lexi achou que estava a alucinar por causa das dores. Fechou os olhos. Tinham passado dez longos meses desde que ouvira por última vez a voz de barítono de Tyler Braden. Além disso, o lugar não fazia sentido. Ela estava de volta a casa, nas montanhas do Tennesse, não na selva de asfalto de Chicago.

Mas quando abriu os olhos de novo, não foi capaz de reprimir um gemido de horror.

– Nããão! Não és tu!

– Já sabias que o doutor Fletcher não estaria cá quando viesses parir – lembrou-lhe Martha, que levantou uma mão para dar umas palmadas no ombro de Ty. – Este é o doutor Braden, o que veio substituí-lo.

O pânico fez com que Lexi se aferrasse à parte da frente da farda da enfermeira.

– Afaste-o de mim!

– Acalma-te, Lexi – Martha libertou-se da mão de Lexi e virou-se para Ty. – Não se ofenda. Quando chegam a este ponto, todas se comportam como se estivessem possessas.

– Por favor, Martha – rogou Lexi. Devia fazer compreender à enfermeira que não queria ver Tyler Braden perto dela. – Não quero que seja ele a fazer o parto.

– Sabes que não há outro médico num raio de vários quilómetros, Lexi.

– Então faça-o a Martha!

– Esquece – Martha negou com um dedo. – Já sabes que só me ocupo dos partos caso o doutor não chegue a tempo.

– Então vai dizer a Freddie para ir buscar o carro e me levar para casa de Granny Applegate! – Lexi sentiu-se como uma baleia quando se tentou levantar.

– Quem raio é Granny Applegate? – perguntou Ty.

– Uma velhota que mora em Piney Knob – respondeu Martha enquanto empurrava Lexi para que se deitasse. – Era a Granny que tratava das pessoas de cá com os seus remédios caseiros. E já assistiu mais partos do que os picos de um porco-espinho.

A seguinte contracção apanhou Lexi de surpresa, que deixou escapar um prolongado gemido. Uma intensa dor percorreu-a, exigindo que o seu corpo entrasse em acção. Fechou os olhos e empurrou com todas as suas forças para trazer o seu bebé ao mundo.

Quando a contracção acabou, abriu os olhos e viu que Ty mexia a cabeça.

– Não sejas ridícula, Alexis. Não há outra opção. Não passas da porta.

– Vocês conhecem-se? – perguntou Martha curiosa.

– Já nos conhecemos – disse Ty.

– Há muito... tempo – acrescentou Lexi, enquanto o seu corpo exigia outro empurrão.

Ty franziu o sobrolho e colocou-se aos pés da cama.

– Há quanto tempo é que estás com contracções, Alexis?

Quando foi levantar o lençol, ela pôs os pés nos extremos para o impedir.

– O meu nome é Lexi, e faça o favor de deixar esse lençol em paz.

Ty puxou do lençol. Ela pressionou com mais força.

– Está bem, Lexi. Há quanto tempo é que estás em trabalho de parto?

– Desde hoje de manhã – Lexi não podia pensar numa situação mais humilhante do que a posição em que se encontrava, e com Ty prestes a olhar. Na verdade, mal se conheciam. – Afaste-se de mim.

Ty ignorou os seus protestos, retirou o lençol e colocou-o sobre os joelhos dobrados de Lexi.

– Porque é que esperaste tanto tempo para vir?

– Não percebi que... estava... de parto – A nova contracção fez com que Lexi esquecesse a sua humilhação por completo. – Só me... doíam as costas... até que rompi águas. Então foi quando... a dor ficou realmente intensa.

O exame de Ty confirmou as suas suspeitas. Alexis estava totalmente dilatada e o bebé estava a sair.

– Vamos ter de adiar esta discussão, Lexi. Estás prestes a dar à luz – virou-se para a enfermeira. – Faça o favor de lhe colocar os pés nos estribos.

Martha assentiu.

– Estas novas camas para partos são a melhor coisa que inventaram desde a penicilina. Pode ser que tenhamos de assistir mais mulheres desde que comprámos esta pequena jóia.

– Onde costumam ir as mulheres? – perguntou Ty enquanto acabava de colocar a máscara. – À Granny Applegate?

– Sim. Mas costuma ser a Granny a ir a casa das pessoas. – Martha riu-se ao ver a expressão de desaprovação de Ty. – Não franza o sobrolho, doutor. A Granny é uma parteira titulada e vem sempre ter connosco quando tem algum problema.

Ty não teve tempo de responder às explicações de Martha quando Alexis gemeu de novo e levou voluntariamente os pés aos estribos. Enquanto se colocava no lugar adequado aos pés da cama, o olhar dele encontrou-se com o dela. Tinha o seu cabelo castanho dourado preso atrás e o seu bonito rosto parecia exausto. O peito de Ty contraiu-se ao ver as lágrimas que caíam dos seus olhos cor esmeralda, os seus lábios perfeitos a tremer, o brilhante tom rosado das suas bochechas cremosas. Estava muito cansada, dorida e compreensivelmente assustada. O pai da criança devia estar ao seu lado para a animar.

– Estás a portar-te muito bem, Lexi – disse. – Vejo a cabeça do bebé.

Ela assentiu e apertou os olhos.

– Dói muito, Ty.

Ele sentiu que a sua dor lhe chegava à alma. Seguindo um impulso, pegou na sua mão e apertou-a com suavidade.

– Já falta pouco, prometo.

Aquele gesto simples desatou uma série de emoções no coração de Ty, mas não as quis examinar. Outra contracção exigiu a sua atenção.

Enquanto segurava na emergente cabeça do bebé, disse:

– Preciso que empurres com força mais uma vez e tudo terá terminado.

Enquanto Alexis empurrava com todas as suas forças, os ombros do bebé libertaram-se e deslizou-se até às mãos expectantes de Ty. Após sugar rapidamente o muco e o sangue da boca e do nariz do bebé, Ty viu que franzia a sua carinha, abria a boca e começava a chorar a plenos pulmões.

A criatura tinha o feitio de um taxista de Chicago e volume suficiente para competir com o espectro mais ruidoso.

Ty sorriu.

– Aponte a hora do nascimento, Martha – disse, enquanto segurava o cordão umbilical pelos dois lados.

– É um menino, Lexi! – disse Martha enquanto apontava os números.

Lexi riu-se.

– A sério? Tinha a certeza que ia ser uma menina.

– A não ser que as meninas tenham começado a vir com um extra, é um menino – riu-se a enfermeira. – Como é que o vais chamar?

– Matthew.

Ty mal ouvia as mulheres enquanto o seu peito se contraía. Por mais vezes que fosse testemunha do milagre do nascimento, não deixava de o maravilhar... e de lhe produzir certa pena. Como não planeava ter filhos, nunca poderia viver um momento daqueles.

Fred, o Banana, era um homem com sorte. E o cretino nem sequer estava lá para o testemunhar.

Com os olhos ligeiramente molhados, examinou o bebé. Dez dedos nas mãos, dez dedos nos pés. Sorriu.

Mas enquanto olhava para ele mais atentamente, o sorriso foi desaparecendo do seu rosto. Um pequeno buraquinho marcava o queixo do bebé, uns centímetros de penugem preta cobriam a sua cabeça e um remoinho na testa afastava-a para um lado.

Ty pensou que naquela noite em Chicago, na única noite em que ele e Alexis tinham...

Olhou maravilhado para o milagre que segurava nas mãos e o seu interior contraiu-se dolorosamente ao compreender. As parecenças eram mais do que pura coincidência. Era inegável. E aquele remoinho na testa do menino provava-o. Fora uma característica da sua família durante gerações.

Tyler Braden acabava de ajudar a trazer o seu próprio filho ao mundo.