sab395.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Miranda Lee

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A amante do milionário, n.º 395 - outubro 2018

Título original: The Millionaire’s Mistress

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-139-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Ele observava-a a uma distância segura, aborrecido consigo mesmo por ser incapaz de desviar os olhos.

Ela brincava na piscina com um grupo de jovens atraentes, namoriscando abertamente com todos eles.

Como os rapazes, ele não conseguia deixar de contemplá-la com um olhar ávido, hipnotizado por aqueles longos cabelos louros, cintilantes olhos azuis e lábios sensuais e sorridentes.

Subitamente um dos jovens meteu-lhe a cabeça dentro de água e ela voltou à tona a tossir e espirrar, visivelmente irritada. E, então, virando costas aos seus admiradores, nadou com petulantes braçadas até à escada, por onde saiu da piscina de nariz empinado, a água a escorrer pelo corpo curvilíneo.

À beira da piscina, ela curvou-se para a frente e torceu os cabelos como se fossem uma toalha, enquanto os seios quase escapavam do soutien do biquíni.

Sentindo a própria carne reagir instantaneamente àquela visão, ele deixou escapar uma praga. Aquela jovem era a imagem de tudo o que ele sonhara numa mulher, e de tudo o que mais desprezava. Uma filhinha de papá de cabeça oca, uma burguesinha linda, com um corpo de tirar o fôlego… E uma alma indubitavelmente tão mimada e egoísta quanto a dona.

Ele não sabia o nome dela, mas isso não tinha menor importância. Ela não tinha a menor importância. O que importava era que ele ainda não tinha desenvolvido imunidade contra aquele tipo de mulher.

Deus, será que não aprenderia nunca?

Não deveria ter aceitado o convite, concluiu com um suspiro. Aquelas festas de gente vazia, sem preocupações na vida, já não eram para ele, pensou, afastando-se da janela e saindo à procura do anfitrião.

– Mas a noite ainda é uma criança! – exclamou Félix, quando o convidado declarou a intenção de se retirar.

– Desculpa – respondeu ele, – mas tive uma semana muito cansativa.

– Embora sejas o dono do banco, Marcus, trabalhas mais do que os teus funcionários. Tens de aprender a relaxar um pouco… Porque não ficas um pouco mais? Se ficares, eu apresento-te a rainha da festa.

– Que rainha da festa?

– Justine Montgomery – esclareceu Félix com um sorriso. – Reparei que a observavas pela janela. E não posso criticar-te. Aquela miúda é um pêssego suculento e maduro, pronto para ser colhido.

A custo, Marcus reprimiu uma riso sarcástico. Pêssego maduro, pronto para ser colhido… Aquele pêssego já devia ter sido colhido há muito tempo. Colhido, manuseado e saboreado de todas as formas possíveis.

Ele conhecera muitas Justines Montgomerys no decorrer dos últimos dez anos. Até tinha casado com uma delas…

– Não concordo contigo, Félix – disse por fim. – Quando se trata de miúdas como essa menina Montgomery, o melhor é admirá-las à distância.

– Não permitas que o teu desastroso casamento com Stephanie te deixe tão amargo, Marcus. Nem todas as mulheres são tão levianas ou infiéis como ela.

– Graças a Deus que não – sorriu o convidado. – Embora eu não ache que a menina Montgomery possa ser classificada como mulher. Aposto que ela não tem mais de vinte e um anos.

– Acertaste em cheio. Mas sinto em ti uma certa aversão gratuita pela rapariga. Marcus, não julgues a filha pelo o pai. Grayson Montgomery pode ser um sujeito sem a menor moral, mas Justine é uma menina muito doce.

– Doce demais para o meu gosto. Ouvi dizer que o meu tataravô tinha diabetes e não quero arriscar-me. Bom, agora tenho mesmo de me ir embora. Tenho uma reunião da direcção amanhã bem cedo.

 

 

Justine estacionou o seu Nissan 200SX Sports prateado na garagem e accionou o controlo remoto que baixava a porta. O espaço reservado para o carro do seu pai estava vazio e ela franziu a testa. Onde diabos poderia ele estar à meia-noite de um domingo?

Se fosse uma noite de sábado, não seria de estranhar… era quando ele jogava póquer com os amigos do clube e ficava fora até de madrugada. Não eram raras as ocasiões em que passava a noite inteira fora, indo directamente para o jogo de golfe do domingo sem sequer passar em casa.

As noites de domingo, porém, ele costumava reservar para a esposa. Ainda de testa franzida, Justine subiu a correr a escada das traseiras que dava para o primeiro andar da mansão. E então, percebendo que havia luz por baixo da porta do quarto da sua mãe, bateu devagarinho.

– Mamã? Ainda estás acordada?

– Estou sim, querida. Podes entrar.

Recostada na cama, Adelaide Montgomery tinha um livro numa das mãos e, na outra, metade de um bombom. Aos cinquenta e sete anos, a mãe de Justine ainda era uma mulher muito atraente; o que a incomodava, e servia de motivo para intermináveis queixas, era o excesso de peso.

– Ah, mamã, sua marota… – repreendeu-a a filha ao ver a enorme caixa de bombons sobre a mesa-de-cabeceira. – Não ias começar a tua dieta esta semana?

– E vou, querida… vou começar amanhã.

– E o papá, ainda não chegou? – perguntou Justine, sentando-se na beira da enorme cama de dossel.

– Não, ainda não. E vou ter uma conversa muito séria com ele quando chegar. Quando me ligou para avisar que não viria jantar a casa, bem que poderia ter avisado também que ia chegar tarde. Ainda bem que não sou do tipo que se preocupa com essas coisas.

Ah, isso Adelaide não era mesmo, pensou Justine; ela não se preocupava com «essas coisas» nem com qualquer outra coisa deste mundo. Era Grayson Montgomery quem administrava a casa, contratava e demitia os empregados, tomava todas as decisões e pagava todas as contas. Tudo isso além de dirigir uma poderosa empresa de consultadoria financeira, trabalho que ocupava uma parte significativa do seu tempo.

Bonito e carismático, Grayson mimara inacreditavelmente a esposa e a filha no que dizia respeito às coisas materiais; em contrapartida, raramente encontrava tempo para lhes dedicar atenção.

Justine às vezes tentava imaginar que tipo de relação o seu irmão mais velho, se tivesse sobrevivido, teria tido com o pai. Acontece, porém, que o primogénito de Adelaide Montgomery não sobrevivera. O seu adorado Lorne morrera com apenas dez meses de idade. Em consequência, depois de se recuperar do colapso nervoso que a morte do filho lhe provocara, Adelaide jurara nunca mais ter outro bebé.

E quando Justine nascera, quase dez anos depois, Adelaide transformara-se numa mãe totalmente indulgente, distraída e irresponsável. Desde pequena, Justine tivera permissão para fazer tudo o que lhe desse na cabeça.

Essa falta de orientação materna, agravada pelas múltiplas ausências do pai, tinha feito com que Justine fosse criada sem conhecer o significado da palavra disciplina.

Tinha desastrosamente reprovado na maioria dos exames escolares, embora tivesse sido repetidamente avaliada como uma menina excepcionalmente inteligente.

E Justine provara que era mesmo inteligente durante o segundo semestre do último ano do liceu, ao mergulhar de cabeça nos livros e, contra todas as expectativas, obteve notas suficientes para ser aprovada. As suas notas tinham sido tão boas que lhe tinham até mesmo rendido uma vaga num curso universitário, não muito longe de Lindfield, onde morava com os pais.

Ela já frequentava o campus da universidade há três anos. A sua frenética vida social, entretanto, resultara em duas reprovações sucessivas, isso apenas no primeiro ano. E, no início daquele ano lectivo, quando ela tentara matricular-se pela terceira vez no primeiro ano, o reitor tinha-lhe sugerido que fosse procurar outro curso, mais adequado às suas aptidões, fossem elas quais fossem.

Sem saber que outro curso escolher, Justine lançara mão de todo o seu encanto e, com mais um dos seus sorrisos irresistíveis, acabara por convencer o reitor a permitir uma terceira tentativa.

Felizmente, disposta a levar a sério as promessas que fizera, ela passara em todos os exames e preparava-se para a matrícula no segundo ano.

– E a festa, querida, foi boa? – era evidente que Adelaide perguntava por perguntar, pois a sua atenção continuava voltada para os bombons e o livro que folheava.

– Ah, o grupo de sempre – respondeu Justine encolhendo os ombros. – E ainda bem que levei o meu carro e não deixei que Howard me viesse buscar. Aquele fulano está a ficar cada dia mais aborrecido. Só porque saímos juntos uma ou duas vezes, ele acha que sou propriedade dele. Ora, mamã, eu estava a divertir-me imenso na piscina quando ele veio por trás, mergulhou-me a cabeça e tentou arrancar-me o soutien do biquíni. Eu fiquei muito irritada, pois não suporto ser tratada dessa forma por um homem. Como ele se estava a comportar, todos pensariam que durmo com ele.

– O quê, querida? – perguntou Adelaide, desviando o olhar do livro com ar distraído. – Disseste que dormes com um rapaz?

Justine deixou escapar um suspiro de desânimo.

– Não, mamã… Eu disse justamente o contrário, que não durmo com Howard Barthgate.

– Ah, sim… O filho dos Barthgate. E, se não dormes com ele, fazes muito bem. Essa é a melhor forma de agarrar um marido, querida. Não dormindo com eles. Não serias capaz de encontrar melhor partido. O pai dele é multimilionário e Howard é filho único.

– Mamã, eu já te disse mil vezes que não vou casar com Howard Barthgate!

– E porque não, filha?

– Porque ele é um sujeito arrogante e desprezível, só por isso!

– Sujeito? – admirou-se Adelaide. – Ora, o Howard? Mas isso não importa, querida, faz o que achares melhor. Uma rapariga como tu vai sempre ter um batalhão de pretendentes.

– Uma rapariga como eu? O que é que isso quer dizer?

– Ah, tu sabes – respondeu Adelaide com uma expressão aérea. – Rica, solteira, sensual…

Sensual? Embora tivesse plena consciência da própria beleza, Justine jamais se considerara sensual, isso porque não se interessava nem um pouco por sexo. Enquanto todas as suas amigas já andavam com as hormonas à flor da pele há vários anos, ela tivera alguns namorados, mas nunca permitira que eles fossem além de alguns beijinhos e carícias menores.

Justine detestava aquela história de gemidos e respiração acelerada. Só de pensar no contacto de mãos masculinas quentes e frenéticas nos seus seios, ou de uma boca molhada a tocar o seu corpo, ela sentia náuseas.

Justine não tinha a menor intenção de fazer sexo com um homem somente porque ele lhe oferecera um jantar ou a levara ao cinema. Para ela, somente o amor verdadeiro seria capaz de tornar suportável um acto tão íntimo e repugnante.

A despeito dessa forma de pensar tão bizarra para uma rapariga da década de noventa, Justine não deixava de ter uma vida social movimentadíssima. Os seus dias eram repletos de diversão, mas uma diversão sem complicações, sem os traumas emocionais que pareciam ser consequência directa de uma relação sexual.

Para dizer a verdade, Justine achava que o sexo provocava problemas demais para valer a pena.

Eliminando Howard da mente com a sua costumeira e impiedosa rapidez, Justine saltou da cama da mãe para o chão.

– Acho que vou preparar um pouco de chocolate quente, mamã. Queres uma chávena?

– Não, querida, obrigada. O chocolate quente engorda – respondeu Adelaide com a expressão mais séria deste mundo, colocando na boca mais um bombom recheado com creme.

Justine saiu do quarto meneando a cabeça. A sua mãe era mesmo incorrigível.

A campainha da frente tocou no preciso momento em que ela saltava para o chão revestido de mármore, assustando-a. Quem poderia estar a bater à porta a uma hora daquelas?

– Quem é? – perguntou Justine por trás da porta, com a voz alterada pela apreensão e pelo nervosismo.

– É a polícia, senhora.

«A polícia? Meu Deus!»

Ela abriu a porta com um gesto brusco, empalidecendo ao ver os dois polícias fardados que aguardavam no alpendre. A expressão séria e consternada dos seus rostos deixava claro que a missão que os levara àquela casa não era nada agradável.

– Senhora Montgomery? – perguntou o polícia mais velho.

– Não. A minha mãe está lá em cima, deitada. O meu nome é Justine Montgomery, sou filha dela. O que aconteceu? Algum problema com o meu pai?

Ao ver que os dois homens se entreolhavam, ela sentiu uma súbita vertigem. «Controla-te», ordenou a si mesma. «A mamã vai precisar de ti».

– Ele… Ele morreu, não é verdade?

Visivelmente penalizado, o polícia assentiu com um gesto de cabeça.

– Sinto muito, menina..

– Imagino que… tenha sido um acidente de carro – gaguejou Justine, levando a mão ao batente da porta em busca de apoio.

– Bom… Quer dizer… Não, menina, não foi um acidente de carro. Sinto muito. Acho que seria necessário…

– Fale de uma vez, pelo amor de Deus!

O polícia mais velho deixou escapar um suspiro.

– O seu pai teve um enfarte fulminante num clube de Kings Cross, menina. Um clube… exclusivo para homens.

Sentindo as pernas prestes a cederem, Justine agarrou-se à porta, com os olhos arregalados.

– Deixe-me ver se entendi bem, sargento – murmurou. – O senhor está a dizer que o meu pai morreu num… bordel?

– Bem, menina – respondeu ele, parecendo dolorosamente constrangido, – infelizmente, é exactamente essa a verdade. Não sei como lhe dizer o quanto me dói vir para lhe dar uma notícia destas. Mas, infelizmente, há providências que precisam ser…

– Quem é, querida? – Adelaide Montgomery vinha a descer a escadaria, com uma expressão assustada no rosto gorducho e bonito. – Aconteceu alguma coisa? – perguntou num tom de voz que já traía o pânico.

Justine viu o rosto da mãe ficar branco como cera ao ver os dois polícias, viu os olhos de Adelaide encherem-se de desespero, pavor e lágrimas. Agarrando com ambas as mãos o decote do roupão, ela apoiou-se no corrimão para não cair.

– Ah, meu Deus, não! Não, Grayson não!

Justine correu para amparar a mãe antes que ela desmaiasse, plenamente consciente de que a vida de ambas nunca mais voltaria a ser a mesma.