sab410.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Miranda Lee

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma noite para esquecer, n.º 410 - novembro 2018

Título original: Night of Shame

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-154-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

«Não posso vê-lo», pensou Judith, fechando os olhos. Tinham passado sete anos, mas não conseguira esquecê-lo e também não se perdoara a si própria, nem ao responsável pela vergonha e culpa que sentia.

– Como pudeste convidá-lo? – gritou, abrindo muito os seus grandes olhos verdes. – A festa desta noite é para celebrar o nosso futuro casamento, não é uma reunião de negócios.

O homem que estava em frente da lareira, com uma mão apoiada na coluna, era alto. Continuou a fumar o seu cachimbo, imperturbável.

– Ouviste o que eu disse, Raymond? – indagou Judith, com aspereza. – Perguntei-te porque é que convidaste o Alexandre Fairchild.

Raymond suspirou pacientemente. Depois, sentou-se num cadeirão junto da lareira. Inclinou-se para a frente e colocou a lenha no lume.

– Existe algum motivo para que não o convidasse? – perguntou com calma, embora irritado.

– Sim, que não o conheces, por exemplo. Só o viste uma vez, a almoçar.

Raymond ergueu o rosto e encolheu os ombros.

– E então? Além do mais, como é que eu ia adivinhar que podia ser um problema? Não sabia que o conhecias.

Judith aproximou-se dele com as mãos fechadas em punhos.

– Cancela o convite, Raymond – pediu, em voz baixa e desesperada. – Por favor, rogo-te que o faças.

– Ainda não me contaste o que é que esse homem te fez de tão grave, nem onde o conheceste.

– É um desavergonhado! – explodiu ela, violentamente. – Um desavergonhado sem alma!

Raymond arqueou uma sobrancelha.

– Nunca te tinha visto assim, querida. Vamos, tenta ser razoável! A mim, pareceu-me um homem muito agradável.

– Porque não o conheces, mas eu sim. E não quero falar sobre ele.

Judith afastou-se, com o rosto a arder de fúria.

«Meu Deus, tenho que fazer alguma coisa», pensou com frenesi.

«Tenho que acalmar-me. Estou assim porque apanhei um susto ao ouvir o nome dele depois de tantos anos».

Mas a ideia de passar um segundo na sua companhia era mais do que podia suportar.

– Não posso cancelar o convite – declarou Raymond, – não sei em que hotel está hospedado.

Judith deu meia volta para encarar o noivo.

– Nesse caso, eu não irei. Não vou estar na mesma sala que ele.

Imediatamente, Judith apercebeu-se de que tinha utilizado a táctica errada com Raymond. A expressão dele endureceu-se. Ela sentou-se no sofá, em frente do noivo, e olhou-o com expressão implorante.

– Não podias dizer que estou mal disposta?

Ele olhou-a exasperado.

– Isso é impossível, Judith! A Margaret preparou esta festa em tua honra.

Judith detestava os conflitos, mas estava a desesperar e, por uma vez, permitiu-se dar a sua opinião sobre a Margaret.

– Não é verdade. Sabes bem que a Margaret me detesta. A festa é em tua honra, Raymond.

A expressão de Raymond tornou-se ainda mais impaciente.

– Já sei que não se dão bem, mas pelo menos, ela está a tentar.

– Sim, claro! Odeia-me desde o primeiro momento em que vim trabalhar como enfermeira da tua mãe.

– A sério Judith, como podes dizer isso? A doença da mamã enervou-nos a todos. Se a Margaret ficava impaciente, de vez em quando, era porque estava muito preocupada com a saúde da mamã.

Judith não respondeu porque não sabia o que dizer. Cravou os olhos no tapete, escondendo o seu desespero.

Margaret detestara-a desde o primeiro momento em que a vira, mas a senhora Pascoll gostara logo da nova enfermeira. Nem sete anos de experiência profissional, nem a completa dedicação à sua paciente conseguiram vergar a animosidade da irmã de Raymond.

Há uns meses atrás, quando a senhora Pascoll morreu e Raymond a pediu em casamento, foi um verdadeiro escândalo na família. Judith também ficou estupefacta com a proposta e quase compreendeu a reacção de Margaret.

No início, Judith rejeitou-a, mas Raymond mostrou-se insistente e persuasivo. «Gostamos um do outro», dissera ele. Ambos gostavam das mesmas coisas: música, cinema, teatro.

«O amor romântico é própio dos adolescentes», dissera Raymond. O verdadeiro amor baseava-se mais na amizade do que na paixão. Depois de casados, chegariam a amar-se de verdade. Também lhe prometera um filho, cedendo à pressão de Judith, já que ela não concebia um casamento sem filhos.

A riqueza de Raymond não fora um factor decisivo para Judith. No entanto, quando aceitara a proposta, Margaret acusara-a de interesseira. Ironicamente, Margaret casara-se no ano anterior com um jovem atraente, muito mais jovem do que ela. E embora Margaret dissesse que era feliz com o Mário, Judith acreditava que continuava tão amarga como sempre.

O que acabou por convencê-la foi que teriam quartos separados. Raymond explicara-lhe que não era um homem muito dado a paixões carnais, embora sentisse necessidades sexuais. Confessou a Judith que durante vários anos mantivera relações com uma mulher. Claro que não estava apaixonada por ela e cortaria a relação assim que ficassem noivos.

A Judith pareceu-lhe uma boa ideia ter um marido de poucas exigências carnais, pois podia viver muito bem sem esse tipo de paixão. Tremia só de pensar nisso. A única coisa que Judith queria era uma existência tranquila, isenta de brigas e dissabores. E isso era o que Raymond lhe podia proporcionar!

– A festa é uma gentileza da minha irmã. Uma demonstração de que gosta de ti – disse Raymond. – Não podes fazer-lhe essa desfeita!

Judith ergueu o rosto e ficou a olhar para o noivo. Não era um homem bonito. Tinha entradas na cabeça, o rosto comprido, o nariz afiado e os olhos de um cinzento demasiado pálido.

Apesar destes rasgos tão pouco atraentes, Raymond possuía um carisma que estava relacionado com o seu dinheiro e poder. Era um homem muito rico. E também tinha um carácter forte e decidido, características que Judith apreciava num homem.

– Judith, não podes faltar – insistiu ele com lógica. – Porque é que te assusta tanto a ideia de veres o Alexandre Fairchild?

Raymond tirou o cachimbo da boca e olhou-a fixamente, à espera de uma resposta.

Ela ficou em silêncio, com os olhos fixos na lareira, evitando o olhar penetrante de Raymond.

– Foram amantes? – perguntou ele.

– Não!

– Não é necessário gritar. Com vinte e nove anos não espero que sejas virgem, Judith.

Judith corou. Tinha intenção de contar tudo a Raymond, mas esperara pelo momento oportuno e este ainda não tinha chegado.

– Meu Deus! – sussurrou ele. – Porque é que não me contaste antes?

Judith levantou o queixo com um gesto decidido.

– Tem assim tanta importância? Pensava que os homens da tua geração gostavam de casar com virgens. Quero dizer… Pensei que gostasses.

– Para ser sincero, estou mais surpreendido do que feliz. És uma mulher muito bonita e estiveste noiva antes. Não? O teu noivo não era um homem da minha geração. Pensava que os casais jovens dormiam juntos antes de casarem.

– Pois o Simon e eu não – respondeu ela secamente, ofendida porque Raymond não parecia feliz com a notícia. – A nossa relação começou no hospital, quando ele se estava a recuperar de um acidente de carro. E quando já estava bom e apto para fazer amor, já estávamos noivos e eu queria que esperássemos. Era só uma questão de um mês e o Simon não se importou. Disse que isso tornaria o nosso casamento mais especial.

Os olhos de Judith encheram-se de lágrimas ao recordar o beijo terno que Simon lhe dera. Afinal, fora ela quem não pudera esperar e o seu comportamento custara a vida de Simon.

Uma dor e um sentimento de culpa insuportáveis apoderaram-se de Judith. Nunca conseguiria livrar-se daquele sentimento de culpa? Nunca se perdoaria a si mesma?

De uma coisa tinha a certeza: jamais perdoaria a Alexander Fairchild. Na sua opinião, aquele homem era um assassino. Odiava-o com todas as suas forças, odiava-o por ter traído o amigo.

– Deves ter tido algum tipo de relação com esse homem – observou Raymond, com certa lógica. – Caso contrário, não o odiarias tanto.

– O Simon e ele eram muito amigos – respondeu Judith, como se isso explicasse tudo.

– E? – evidentemente, Raymond não compreendia. – Isso não faz sentido, Judith. Escuta, sei que o Simon e tu estavam noivos e que o acidente de carro que o matou aconteceu uns dias antes do casamento. Mas, o que é que isso tem a ver com o Alexander Faichild? O teu noivo matou-se num desastre de automóvel, não?

– Sim.

– Nesse caso, não compreendo. Porque não te explicas, Judith?

A vergonha que sentia de si própria obrigava-a a mentir, embora não o pudesse culpar de tudo. Nem ela mesma compreendia o que tinha acontecido.

– O Simon e o Alexander tiveram uma forte discussão essa noite – explicou ela, humedecendo os lábios com a língua. – Quando o Simon se meteu no carro, o Alexander sabia que ele estava bêbado e não fez nada para detê-lo. Foi directamente responsável pelo acidente que causou a morte do Simon e jamais lhe perdoarei!

Raymond franziu o sobrolho.

– Porque é que discutiram?

– O quê?

– Porque é que discutiram?

– Bom… Não sei! Sei que gritaram e depois o Simon meteu-se no carro e foi-se embora. Que importância tem isso agora? A única coisa que sei é que o Alexandre é o culpado pela morte do Simon.

– Acreditas mesmo nisso?

– Claro que sim! Porque é que julgas que não o quero aqui?

Raymond olhou-a exasperado.

– Sempre pensei que eras uma mulher com bom senso. Compreendo que deves ter ficado muito afectada com a morte do teu noivo. Mas agora, com o passar dos anos, deverias saber que o senhor Fairchild não foi o responsável pelo acidente. Qualquer homem é responsável pelos seus actos. Se o teu noivo estava bêbado, não devia ter entrado no carro.

Judith abriu a boca para gritar, mas Raymond deteve-a com um gesto da mão.

– Não te esqueças de que conheceste o teu noivo no hospital, devido a um acidente de automóvel. Parece-me que o Simon devia ser um condutor muito temerário. Foste injusta com o senhor Faichild, querida, e está na hora de parares de culpá-lo por uma morte que ele não provocou.

Raymond calou-se e olhou para o relógio.

– São seis e quarenta e três minutos, querida. Vamos, acalma-te e vai-te vestir. Quero ser a inveja de todos quando chegarmos à casa da minha irmã.

Judith olhou para o noivo, baralhada. Era evidente que esperava que esquecesse o assunto, se vestisse e fosse para a festa como se não tivesse acontecido nada. Devia até esperar que sorrisse a Alexander quando o visse, como se não tivesse sucedido nada entre eles no passado.

Raymond notou a sua perplexidade, inclinou-se para a frente e tomou-lhe as mãos.

– Vamos, Judith, não podes esperar que telefone à minha irmã, no último momento, para dizer-lhe que não vais à festa. A minha irmã jamais te perdoaria.

Judith assentiu. Era inútil, tinha que ir.

– Tenho razão, Judith – insistiu Raymond. – A tua antipatia pelo Faichild é completamente descabida, o tempo passou e deve ter distorcido as coisas na tua cabeça. Quando o voltares a ver, certamente te aperceberás de que estás enganada. No entanto, se achas que não te sentes à vontade ao pé dele, evita-o. A única coisa que te peço é que tenhas tacto. Agora, vai vestir-te, querida.

Judith suspirou e levantou-se.

– Aposto que o Faichild não pensou em ti nem um minuto, nestes anos todos – acrescentou Raymond.

Estas últimas palavras atingiram-na como uma flecha. Sem dúvida, Alexander não pensara nela, nem por um momento, porque não a considerara como pessoa, só como um instrumento de vingança.

– Tens razão, Raymond – disse Judith. – Sim, muita razão. Obrigada por esclareceres a minha mente confusa.

Judith deu meia volta e saiu da sala, batendo com os seus saltos altos no chão de mármore.

«Maldito sejas, Alexander», pensou Judith furiosa. «Porque é que voltaste a aparecer na minha vida? Mesmo agora que estou prestes a encontrar a felicidade e a paz. Porque não ficaste no passado, como um fantasma culpado, numa noite de vingança?».

A cólera e a frustração levaram-na através do corredor. Mas no momento em que pôs o pé no primeiro degrau das bonitas escadas de madeira e os seus olhos observaram o luxuoso tapete azul, a recordação paralisou-a.

Vira-o pela primeira vez quando descia umas escadas como aquelas…

Judith tremeu violentamente e continuou a subir as escadas, decidida a não entrar no mundo das recordações. Mas era difícil.

Quando chegou ao último degrau, deteve-se uma vez mais ao aperceber-se de que a sua própria casa estava contra ela, pois não deixava que parasse de pensar na outra onde estivera na semana anterior à data marcada para o casamento.

Judith sabia que Simon vinha de uma família dedicada à agricultura e ao gado, mas jamais imaginara o esplendor da sua casa nem a fria sofisticação da irmã e da mãe. No início, sentiu-se tão envergonhada que quase nem conseguiu falar.