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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Linda Susan Meier. Todos os direitos reservados.

O DESAFIO DE AMAR, N.º 16 - Agosto 2012

Título original: The Baby Project

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0594-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

– Os irmãos Andreas acabam de chegar.

A jovem advogada Whitney Ross, que estava à frente da janela do escritório do pai, virou-se ao ouvir a secretária do seu pai a anunciá-lo pelo intercomunicador. As nuvens cinzentas que cobriam o céu sobre os arranha-céus de Nova Iorque eram o prelúdio de uma tormenta e aquela visita dos irmãos Andreas não seria menos tumultuosa.

Gerard Ross premiu o botão do intercomunicador para responder:

– Diz-lhes que os atenderei dentro de cinco minutos.

– Estás a divertir-te com isto, hã? – murmurou Whitney.

O seu pai, sentado à secretária, fez uma careta.

– «Divertir» não é bem a palavra – respondeu, inclinando-se para a frente. Tamborilou com os dedos na mesa. – Digamos que algumas das disposições do testamento de Stephone têm a intenção de impulsionar certas mudanças.

Embora Whitney não conhecesse os filhos de Stephone Andreas, aquele homem fora muito amigo do seu pai. Ia jantar à sua casa, pelo menos, uma vez por mês desde que ela tinha seis anos e ouvira-a falar dos «rapazes» sem parar. Por isso, tinha a suspeita de que sabia o que se passava. Stephone Andreas sempre tinha acreditado que os filhos necessitavam de um belo pontapé no rabo e parecia que antes de morrer descobrira uma forma de o fazer.

– Pois... Persuadiste Stephone a usar o testamento para obrigar os seus filhos a crescer.

– Trata-se de mais do que crescer. Os três são inteligentes e sabem como gerir um negócio. Qualquer um deles poderia encarregar-se das propriedades da família, mas nenhum deles sabe o que é a lealdade, nem a família.

– E é aí que entra o testamento?

– Sim. Stephone designa o seu filho mais velho, Darius, como presidente da empresa familiar e lega-lhe a propriedade de Montauk. Depende dele, que assuma as rédeas como um autêntico líder, que isto divida os irmãos para sempre ou que os faça unir forças.

Gerard levantou-se e dirigiu-se para o sofá de couro preto num canto do seu escritório enorme, onde recebia as visitas. Depois de se sentar, deu uma palmadinha no sofá, indicando a Whitney que se sentasse junto dele.

– No entanto, antes de entrarem, há uma coisa que deves saber. Missy dispôs no seu testamento algo que te diz respeito, algo que acordou com Stephone e que ele também incluiu no seu testamento.

Whitney sentou-se. Não era que a surpreendesse, porque Missy e ela tinham sido muito amigas, mas não imaginava do que podia tratar-se. Missy Harrington fora sua companheira de quarto na universidade e, por circunstâncias pessoais, uma mãe alcoólica e um pai que as tinha abandonado quando ela era muito nova, a sua família praticamente tinha-a adotado. Durante sete anos, Missy tinha passado as férias com eles e, embora mal se vissem depois de Missy se ter casado com Stephone, os laços da sua amizade não tinham enfraquecido.

– Missy deixou-me alguma coisa?

– Não exatamente. No seu testamento, Stephone e Missy nomeiam-te a ti e a Darius como tutores legais do seu filho Gino.

Whitney sentiu um aperto no estômago.

– O quê?

– Já passaram três anos desde o acidente que ceifou as vidas de Burn e Layla, filha – disse-lhe o seu pai. – E, embora não pudesse imaginar que nos deixariam tão cedo quando preparei os testamentos de Stephone e de Missy, acho que já vai sendo hora de abandonares o luto e voltares para o mundo dos vivos – tirou um envelope pequeno de entre uma pilha de pastas que havia sobre a mesa de apoio que tinham à sua frente. – Deixou-te esta carta.

Whitney empalideceu, mas pegou no envelope.

– Stephone queria que, caso eles morressem, Darius criasse o seu filho, mas Missy insistiu em que tu partilhasses a custódia com ele. Os irmãos Andreas são uns meninos ricos mimados. Nem sequer sabem que o seu pai teve outro filho. Não sei como reagirão quando lhes disser. Acho que, ao nomear-te tutora legal de Gino com Darius, Missy queria assegurar-se de que Gino ficaria nas mãos de alguém capaz que se preocuparia com o seu bebé.

– Mas nem sequer conheço o menino! Quando Missy e Stephone foram viver para a Grécia, perdemos o contacto. Não serei melhor tutora do que o seu irmão.

Gerard agarrou a mão da sua filha.

– Missy sabia que entre os teus valores está a importância da família, que tens sentido de dever. Tu foste mãe e Gino habituar-se-á a ti. Além disso, isto far-te-á bem, necessita-lo.

Whitney tentou levantar-se, mas o seu pai reteve-a. Olhou para ele, furiosa.

– Não! Não o necessito! Estou bem!

– Não, não estás. Se estivesses, não estarias a reagir assim – replicou o seu pai. Inclinou-se para a frente para premir o botão do intercomunicador do telefone que havia sobre a mesa. – Cynthia, traz Gino, por favor.

O coração de Whitney parou e sentiu um aperto no estômago. Nos últimos três anos, fizera o possível para evitar estar perto de um bebé. Receava que coisas como o aroma do pó de talco ou ver um ser tão pequeno e indefeso a fizessem ir-se abaixo. E, agora, o seu pai queria que se encarregasse de um bebé?

A porta lateral do escritório abriu-se e entrou Cynthia, a secretária do seu pai, com o pequeno Gino Andreas numa cadeirinha, um saco de fraldas e um muda-fraldas pendurados ao ombro.

Gerard apertou a mão da sua filha.

– A tua mãe e eu estivemos a cuidar dele desde o funeral de Stephone e Missy, mas corresponde-te a ti cuidar dele por vontade expressa de Missy – levantou-se e pegou na cadeirinha com o bebé. – Obrigado, Cyn.

Quando Cynthia partiu, Gerard regressou para junto de Whitney. Colocou a cadeirinha sobre o sofá, pegou no bebé e aproximou-o da sua filha, que se tinha levantado.

– Toma, é teu.

Sabendo que não serviria de nada discutir com o seu pai, Whitney guardou o envelope no bolso do casaco e, com mãos trémulas, pegou em Gino ao colo, que começou a chorar imediatamente.

– Não chores, querido – arrulhou ela, apoiando a cabecinha do bebé no seu ombro para o acalmar. – Está tudo bem.

Aquela reação instintiva surpreendeu-a, mas não a dor aguda que a assolou, acompanhada de uma corrente de lembranças da sua filhinha de cabelo loiro e grandes olhos azuis. Os seus olhos encheram-se de lágrimas e sentiu um nó no estômago. Não conseguia fazer aquilo. Talvez necessitasse de mais sessões com o seu terapeuta, o doutor Miller?

No entanto, antes que pudesse dizer alguma coisa ao seu pai, abriu-se a porta do escritório. O primeiro a entrar, de calças de ganga, botas e camisola, foi Cade Andreas. Atrás dele entrou Nick, o que mais se parecia com o falecido Stephone, e, por último, Darius, mais alto do que o pai e de cabelo preto e olhos castanhos como os irmãos. Com um fato caro, era evidente que era o líder do grupo.

A expressão dos irmãos era solene e quase arrogante. Agora que o chefe da família tinha morrido, controlariam uma das maiores empresas navais do mundo. Ou assim pensavam.

Whitney olhou para o bebé nos seus braços e sentiu o tipo de impulso protetor que só sentia uma mãe, e compreendeu porque é que Missy quisera que partilhasse a custódia com Darius. Os irmãos Andreas eram homens rudes, homens de negócios, e os bebés necessitavam de afeto. A questão era: restar-lhe-ia a ela algum amor para dar?

 

 

– É uma brincadeira, não é?

Darius Andreas ficou a olhar, boquiaberto, para Gerard Ross, o advogado do seu falecido pai, e, em seguida, pousou o olhar na filha, Whitney Ross, uma loira alta, sofisticada e de olhos azul-acinzentados, que não se parecia nada com o pai, baixo e bojudo.

Os dois estavam sentados num sofá, Cade e ele estavam sentados à frente deles noutro sofá e Nick estava de lado, numa poltrona também de couro preto. O bebé que estava na cadeirinha junto de Whitney Ross tinha o cabelo preto e os olhos castanhos dos Andreas, mas, mesmo assim...

– Garanto-te que não é nenhuma brincadeira – replicou Gerard e recostou-se no sofá. – Este menino é filho do vosso pai e, portanto, vosso irmão – pegou no testamento e continuou a lê-lo: – «É minha vontade que os dois terços restantes das ações da minha empresa, a Andreas Holdings, sejam divididos em parte iguais pelos meus quatro filhos: Darius, Cade, Nick e Gino».

Um bebé! Darius não podia acreditar. Tinha mais um meio-irmão que era um bebé! Nick e Cade pareciam ter ficado em estado de choque, tal como ele. No entanto, o homem de negócios que havia nele prevaleceu e disse:

– Quero que lhe façam um teste de ADN.

Gerard inclinou-se para a frente e ficou a olhar para os seus dedos entrelaçados antes de levantar o olhar para Darius.

– Talvez o vosso pai não se tenha casado com Missy Harrington, mas consta como o pai na certidão de nascimento de Gino. De facto, se Missy não tivesse falecido com o vosso pai, neste momento estariam a disputar a empresa com ela.

– Mesmo assim, quero um teste de ADN.

– Compreendo que isto vos tenha surpreendido, mas...

– Que nos tenha surpreendido? – repetiu Darius. – Acho que dizer que estamos atónitos seria mais correto. Primeiro, depois do acidente, o nosso pai pediu-nos que fôssemos ao hospital para nos dizer que dera um terço das ações da empresa a outra pessoa, o que significa que a empresa nunca será totalmente nossa. Depois, atirou-nos à cara que a família não nos importava nada e disse-nos que, a menos que nos uníssemos, perderíamos tudo o que ele construiu. E, em seguida, foi-se embora e morreu, assim, sem mais nem menos – acrescentou, estalando os dedos. – E, agora, temos outro irmão?

– Darius, o facto de não saberem que o vosso pai tivera outro filho demonstra que o vosso sentido de família deixa bastante a desejar – respondeu-lhe Gerard, com franqueza.

Darius quase soltou um palavrão. O seu pai fora um mulherengo e, mesmo assim, permitira-se atirar-lhes à cara o pouco que lhes importava a família. O seu pai, que tinha abandonado a sua mãe. O seu pai, do qual não tinha voltado a saber nada até à sua adolescência. E porquê? Porque o seu pai queria certificar-se de que fosse para uma boa universidade para o preparar para trabalhar às ordens dele na Andreas Holdings.

– Durante anos, o nosso pai não parou de nos dizer que não devíamos envolver estranhos nos problemas da família – disse, levantando-se, – mas foi justamente o que ele fez.

Olhou para o bebé. Não necessitava de um teste de ADN para saber que era seu irmão. O seu pai estivera a viver com uma mulher de trinta anos, não era de admirar que tivesse ficado grávida. Além disso, o menino tinha os traços dos Andreas e, se o nome do seu pai constava na certidão de nascimento, fazia parte da família.

O seu pai queria que cuidasse dele. Muito bem, fá-lo-ia. Ao contrário dos seus dois irmãos, ele sempre fizera o que o seu pai lhe pedia.

– Muito bem, levaremos o nosso irmão e ir-nos-emos embora – disse, contornando a mesa para pegar na cadeirinha.

Whitney agarrou-a pela asa para o impedir.

– Papá?

– Há mais uma coisa – disse Gerard.

Darius controlou com muita dificuldade a raiva que estava a apoderar-se dele.

– Ainda mais?

– O teu pai nomeou-te tutor de Gino, mas terás de partilhar a custódia com a minha filha Whitney.

Darius pousou o olhar furioso nela. O cabelo loiro parecia bonito, mas tinha-o apanhado num coque sério, e o fato cinzento-escuro que usava não deixava ver se tinha curvas ou não. No entanto, quando os seus olhos se encontraram com os olhos cinzentos dela, sentiu que uma faísca de atração saltava entre eles.

– Depende de vocês como queiram dividir o tempo que corresponda a cada um para estar com Gino – disse Gerard. – Se queres tê-lo três dias por semana e que Whitney o tenha os outros quatro ou se preferes tê-lo duas semanas por mês e Whitney, as outras duas... Enfim, é convosco. Mas, quando houver reuniões da direção, Whitney votará em nome de Gino.

Daquela vez, Darius soltou um palavrão, embora tivesse inspirado imediatamente para conter o seu temperamento, e, quando voltou a olhar para Whitney, a faísca de atração que tinha sentido antes converteu-se numa espécie de corrente que pareceu carregar o ambiente de eletricidade estática.

Se estivesse noutro lugar e as circunstâncias fossem diferentes, teria tentado namoriscar com ela. Adoraria levá-la para algum sítio onde tivessem privacidade, tirar-lhe a roupa, desfazer-lhe o coque... No entanto, aqueles olhos felinos pareciam estar a dizer-lhe que o esquecesse.

Whitney permaneceu muito quieta enquanto os olhos escuros de Darius a escrutinavam, apesar da atração inesperada que despertara nela e que devia ignorar. Não podia negar que era muito bonito, nem como aquele fato lhe ficava bem, mas qualquer mulher no seu lugar reagiria como ela. O simples facto de nenhum dos seus dois irmãos falar, salvo para se apresentarem, evidenciava que ele era quem mandava e isso era muito sensual.

Sob nenhum pretexto podia deixar-se levar por aquela atração. Uma atração mútua podia desembocar numa relação e as relações faziam com que as pessoas se tornassem vulneráveis. A dor que lhe tinha provocado a perda do seu marido fora insuportável e não queria voltar a passar por isso.

Darius fechou os olhos e suspirou, irritado.

– Muito bem, vamos – disse a Whitney, fazendo-lhe sinal de que o seguisse.

– Vamos?

– Se o bebé vai ter voto na direção, terás de ajudar.

O pai de Whitney riu-se.

– Muito engraçado, Darius.

– Eu não estou a rir-me. O meu pai deixou a empresa num estado penoso. Há muito trabalho a fazer e ninguém está dispensado. E, já que a sua filha tem o voto deste menino, encarregar-se-á dele.

– Mas isso é ridículo... – protestou Gerard.

– Papá – interrompeu-o Whitney, – deixa estar. Nunca virei as costas às responsabilidades – endireitou os ombros e olhou para Darius nos olhos, aceitando o desafio. Se pensava que ia intimidá-la no primeiro dia, estava muito engando. – Se vão trabalhar todos para levar a empresa avante, eu também o farei. E, se for necessário começar ainda hoje, fá-lo-ei.

– Está bem – disse o seu pai, – mas, antes de se irem embora, há outra coisa que devem saber.

Quando Darius se virou para ele, os seus olhos flamejavam.

O pai de Whitney olhou para ele, em seguida, para Cade, depois, para Nick, e, por fim, novamente para ele.

– Tendo em conta que há uma pessoa alheia à família na posse de um terço das ações da Andreas Holdings e que vocês os três e Gino partilham os outros dois terços, não é preciso serem génios para se darem conta de que nenhum de vocês poderá aspirar a ter o controlo da empresa – voltou a olhar para os três irmãos. – Essa pessoa a quem o vosso pai deu um terço das ações deseja permanecer no anonimato até que decida o que vai fazer com elas. Já passa dos setenta anos, portanto, pode simplesmente querer manter-se à margem e desfrutar dos lucros. Mas, se decidir que quer participar ativamente na empresa, é melhor que se mantenham unidos ou a Andreas Holdings acabará sob o controlo de alguém que não tem o sobrenome Andreas.

– Os meus irmãos e eu necessitamos de alguns minutos a sós para falarmos disto, se for possível – disse Darius a Gerard.

Gerard Ross levantou-se.

– Claro. Whitney e eu levaremos Gino para o seu escritório. Quando acabarem, peçam à minha secretária que nos avise.

Gerard e Whitney saíram por uma porta lateral e Darius virou-se para os seus irmãos.

– Bom, não era isto que esperávamos encontrar na leitura do testamento, pois não? – perguntou.

Nick suspirou e Cade levantou-se.

– Pois... À exceção do bebé, nada do que Gerard acaba de nos ler me surpreendeu minimamente. Deixou-te quase tudo a ti, a propriedade de Montauk, a direção da empresa, mas, se pensar no facto de também ter deixado o miúdo a teu cargo... – fez-lhe uma saudação militar e dirigiu-se para a porta. – Boa sorte.

Cade, o rebelde... Deveria ter imaginado que não estaria disposto a ajudá-lo e que, provavelmente, Nick também não. Entre eles não havia afeto, nem lealdade, nem eram unidos. Os três tinham seguido caminhos diferentes há anos, fazendo a sua própria fortuna com o dinheiro do fundo fiduciário que o seu pai deixara a cada um deles.

Depois do que Gerard Ross lhes dissera sobre aquela mulher misteriosa que tinha um terço das ações da empresa, Darius começava a compreender algumas das coisas que o seu pai tinha balbuciado no leito de morte. Se não se mantivessem unidos quando aquela acionista decidisse mostrar as suas cartas, poderiam acabar a trabalhar num dos estaleiros da empresa.

– Vá lá, não podem ir-se embora e encarregar-me de tudo... – disse a Cade, agarrando-o pelo braço para o deter.

No entanto, Nick também se levantou.

– Eu acho que podemos – replicou Cade. – Tu és o presidente da empresa, és tu quem tem de se encarregar da sua gestão. Talvez tenhas conseguido convencer a filha de Ross a trabalhar para ti, mas nós não estamos dispostos a fazer o mesmo. Embora, naturalmente, estaremos presentes nas assembleias de acionistas e queiramos a nossa parte dos lucros.

– Portanto, vão-se embora assim, sem mais nem menos? Depois de o nosso pai ter dito que queria que nos mantivéssemos unidos? Depois de sabermos que há outra pessoa que tem um terço das ações?

– Confiamos em ti para tratar de tudo.

– Mas a empresa pertence a todos. Pensava que queriam fazer parte disto.

– Sim, bom, quando era criança, eu acreditava que o meu pai estaria do meu lado, mas nunca esteve! – exclamou Nick. – Além disso, tu sempre foste o seu preferido. Portanto, a empresa, o bebé e todos os problemas são teus.

E, dito isto, saiu do escritório, atrás de Cade.

Darius deixou-se cair no sofá. Durante toda a sua vida, tinha amaldiçoado o seu pai por ter sido um mulherengo e ter tido três filhos, quatro, para ser exato, de mães diferentes. Naquele momento, no entanto, começava a compreender a angústia que tinha sentido nos últimos dez anos da sua vida.

Os seus irmãos e ele não eram uma família. Serem filhos de mães diferentes e serem de três zonas distintas dos Estados Unidos não tinha ajudado a estreitar o laço de sangue entre eles. Tinham o mesmo cabelo escuro e os mesmos olhos castanhos, e os três eram homens de negócios, mas, além disso, não tinham nada em comum.

Ali sentado, no silêncio que se fizera no escritório do advogado, Darius pensou na sua mãe, que também já tinha morrido. Não tinha primos, nem tios. Só tinha dois irmãos adultos da parte do pai, que não queriam ter nada a ver com ele.

Pensou no Natal, algumas semanas antes. Tinha ido a imensas festas, mas, no dia de Natal, levantara-se completamente sozinho e os seus passos tinham ecoado pelo apartamento frio e vazio. A menos que agisse melhor com Gino do que o fizera o seu pai com Nick, com Cade e com ele, aquele seria o único som que o acompanharia durante o resto da sua vida.

Por muito estranho que parecesse, alegrava-se por o seu pai o ter nomeado tutor legal do bebé. Agora, Gino era a sua família. Bom, sua e de Whitney Ross.

Um formigueiro de excitação percorreu-o ao recordar a atração que tinha sentido entre os dois. Não podia negar que era uma mulher muito tentadora. Um autêntico desafio. Um presente que parecia estar a pedir aos gritos para ser desenvolvido. No entanto, isso só lhe traria problemas e tinham um bebé para criar.

Entendia porque é que Missy Harrington pensara que Gino necessitava de uma figura materna. Qualquer pessoa que passasse dois minutos com os seus irmãos ou com ele se daria conta de que não eram o tipo de homens que um dia se casariam e assentariam a cabeça.

Mas claro que não tinha a certeza de que a custódia partilhada fosse funcionar. Seria como se fossem casados? Ou, talvez, divorciados? Iriam passar o pobre bebé de um para o outro como se fosse uma bola de pingue-pongue?

Esfregou o rosto com as mãos. Não tinha ideia de como ia fazer aquilo e, o que era ainda pior, uma vez que o seu pai estivera ausente da sua vida até à sua adolescência, não tinha a mínima ideia de como ser pai. Whitney teria de o ensinar.

Capítulo 2

 

Quando Whitney e o seu pai saíram do escritório dele, Cynthia, a secretária, levantou-se e disse-lhe:

– Precisam de si na sala de reuniões.

– Mas estou com os irmãos Andreas...

– Parece que é importante. As palavras exatas de Roger foram: «O caso Mahoney está a ir-se abaixo. Assim que Gerry sair, diz-lhe que venha imediatamente».

Gerard olhou para a sua filha.

– Conseguirás desenvencilhar-te com eles sem mim?

Whitney obrigou-se a esboçar um sorriso.

– Claro! Vá, vai. Quando os irmãos Andreas acabarem a sua reunião, pedirei a Cyn que te chame se for necessário.

– Obrigado, filha – disse Gerard.

Beijou-a na face, entregou-lhe o saco das fraldas e o muda-fraldas, e afastou-se.

A caminho do seu escritório, Whitney olhou para Gino, que levava na cadeirinha. O bebé, que estava entretido com a sua chupeta, levantou o olhar para ela e, quando os seus olhos se encontraram, o coração de Whitney disparou. Os olhos de Layla, a sua menina, eram azul-claros, uma mistura dos olhos do pai, da cor do céu num dia ensolarado, e dos seus, azul-acinzentados. E o cabelo era loiro e muito fino...

Sentiu uma pontada no peito ao recordá-la. Daria tudo o que tinha, cada dia do resto da sua vida, para poder vê-la só mais uma vez. Acabara de fechar a porta do seu escritório quando Gino começou a chorar.

Whitney foi até ao sofá que havia no canto e pousou a cadeirinha, antes de deixar o saco das fraldas e o muda-fraldas no chão.

– Não chores, querido – disse-lhe, levada pelo instinto maternal, e, no instante em que as palavras saíram da sua boca, sentiu um nó na garganta.

Cuidar de um bebé era como andar de bicicleta: nunca se esquecia. Mas, infelizmente, todas aquelas capacidades que acreditava esquecidas também faziam com que aflorassem as lembranças da filha que tinha perdido.

«Para de chorar, por favor...»