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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Kelly Hunter

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Paixão em Istambul, n.º 1563 - Setembro 2014

Título original: What the Bride Didn’t Know

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5395-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Prólogo

 

Lena West não compreendia a pergunta. Tinha a ver com a fórmula de Euler e as incógnitas complexas, mas, além disso, não tinha ideia. Com uma careta, deixou cair o lápis sobre o caderno e concentrou-se nos trabalhos de casa. Era difícil, quando tinha o oceano mesmo à frente. O verão e os trabalhos de casa não eram uma boa combinação. Muito menos, quando tinha a praia a poucos metros e o irmão mais velho fora mergulhar na água assim que chegara da escola.

Não era justo que Jared conseguisse fazer os trabalhos de casa de matemática sem esforço. Também não a ajudava que os dois irmãos mais novos fossem génios declarados e conseguissem responder a perguntas como a que tinha à frente em dez segundos. Poppy tê-la-ia ajudado se estivesse em casa, mas, apenas com catorze anos, fora enviada para a Universidade de Queensland, onde seguia um programa especial de matemática para sobredotados. Damon, de treze anos, também não estava em casa. Fora novamente castigado depois da escola. Damon tinha a teoria de que, se se comportasse suficientemente mal, talvez conseguisse evitar ser enviado para uma universidade para sobredotados. Embora Lena pensasse que não tinha muitas probabilidades de levar a sua avante.

Quando as pessoas eram inteligentes, os outros percebiam.

No entanto, Lena, com dezassete anos, não tinha de se preocupar com isso.

Suspirando, voltou a pegar no lápis. Ali estava a pergunta número seis, a rir-se dela. Uma pergunta simples a que o resto da família podia ter respondido em sonhos.

– Idiota – murmurou ela.

– Quem? – perguntou alguém, atrás dela.

Lena assustou-se, pois não ouvira ninguém a aproximar-se. Depressa reconheceu Adrian Sinclair, o vizinho do lado e o melhor amigo de Jared desde a creche.

– Porque não bates à porta? – queixou-se, embora soubesse que Adrian nunca batia. Virtualmente, vivia lá.

– Não queria interromper os teus pensamentos.

– Já o fizeste.

– Disseste «idiota». Pensei que falavas comigo.

– Idiota.

– Vês?

Era impossível não sorrir com o olhar alegre de Adrian.

– Não vais conseguir nada com esse teu sorriso.

– Isso não é verdade. Jared está?

– Está ali – indicou Lena, apontando para o Pacífico. Jared estava a sair da água naquele momento, com a prancha de surfe na mão. – Porque não estás com ele? – quis saber.

– Estava a pensar nisso. E tu?

– Amanhã, tenho exame de matemática – informou-o e olhou para ele por um instante, pensativa. Adrian escolhera as mesmas disciplinas que ela e Jared. – O que sabes da fórmula de Euler?

– Que pergunta não entendes? – inquiriu ele, olhando para o caderno.

– A número seis.

– Muito bem – afirmou Adrian. Pegou no livro de matemática e começou a olhar para ele como se soubesse o que estava à procura.

Tinha pulsos fortes, mãos grandes e dedos fortes e grossos. Lena teve vontade de lhe tocar para medir as suas palmas e verificar se as mãos eram quentes...

Então, Adrian pousou o livro na mesa e tocou-lhe com o peito no ombro, enquanto apontava para um parágrafo do texto... De repente, a temperatura de Lena subiu.

– Queres sentar-te? – convidou ela, pensando que, pelo menos assim, se afastaria um pouco.

– Passei o dia todo sentado. Estou bem.

Lena mexeu-se na cadeira, sentindo como o cheiro de Adrian a envolvia. Cheirava a limpo. Era incrível que cheirasse tão bem depois de um dia inteiro na escola. Era como se tivesse tomado um duche antes de ir ver Jared, o que seria muito estranho, pois costumava sempre acabar a tomar banho no mar.

– Bom... – começou, num tom mais rouco do que o habitual.

Sim. A pergunta número seis. Lena voltou a concentrar a atenção no livro... Contudo, os seus olhos voltaram a fixar-se nas mãos dele! A pergunta seis. Devia concentrar-se...

– O que estão a fazer? – perguntou alguém, da porta do pátio.

Lena também conhecia aquela voz na perfeição. Antes de levantar o olhar, sabia que era o irmão Jared. Como ela, tinha o cabelo encaracolado e moreno, embora o dela fosse mais comprido e encaracolado. Ele tinha os olhos mais azuis, pois os dela tinham um toque cinzento. Ambos tinham compleições atléticas. E ambos estavam a franzir o sobrolho.

– Que problema tens? – perguntou Lena. – As tuas admiradoras não foram ter contigo à praia?

Jared tinha muito êxito com as raparigas. A maioria delas tornava-se amiga de Lena para poder aproximar-se dele. O problema era que, como mudava de namorada a toda a velocidade, muitas deixavam de ser amigas de Lena depois.

– Elas é que perdem – dissera Jared, quando a irmã se queixara de que as amigas desapareciam tão depressa. Depois disso, Jared deixara-a sair com ele e os amigos, embora tivesse sido apenas por compaixão.

– Perguntei o que estão a fazer – repetiu Jared, num tom gelado.

– Trigonometria – esclareceu Lena, pensando que uma resposta direta era o melhor para o acalmar.

Jared olhou para Adrian e ambos os homens se entreolharam por um instante.

– Se estás incomodado com alguma coisa, Jared, diz.

Jared olhou para ambos novamente e, devagar, Adrian endireitou-se, enquanto uma mensagem sem palavras parecia fluir entre ele e o amigo.

– Já conheces as regras – recordou-lhe Jared, com frieza.

– Que regras? – interveio Lena.

– Pensou que estava a tentar seduzir-te – explicou Adrian, depois de um silêncio longo e tenso.

– Como? – balbuciou Lena. Havia duas coisas implícitas naquela simples afirmação. A primeira era que Adrian podia estar interessado nela, o que duvidava muito. E a segunda... – Jared West, tencionas assustar os rapazes? Se for assim... – acusou e afiou o olhar. – Foi por isso que Ty Chester não me convidou para o baile do sétimo ano? Ia fazê-lo, sei que ia fazê-lo. Mas não o fez.

– Não – negou Jared. – Talvez tenha pensado que o convidarias para andar de avião contigo. Ouvi dizer que tem medo das alturas.

– E dos gatinhos – acrescentou Adrian. – E da sua própria sombra.

– Talvez quisesse experimentar algo diferente – queixou-se. – Talvez tivesse vontade de verificar como as pessoas bonitas e tranquilas vivem – comentou. E era verdade. Embora não fosse corajoso, Ty Chester era muito, muito bonito.

– Ter-te-ia comido viva.

– Era disso que se tratava. Jared, juro-te que, se alguma vez descobrir que interferes na minha vida amorosa, transformarei a tua num inferno – ameaçou Lena. – E a tua também – indicou a Adrian, pelo sim pelo não.

– A minha já é um inferno – murmurou Adrian.

Jared olhou para ele em silêncio, voltando a comunicar com o amigo sem palavras. Lena estava habituada a isso, mas, naquele momento, estava a tirá-la do sério.

– Porque não se vão embora e me deixam em paz?

– Sim, vamos – indicou Jared a Adrian. – A trigonometria não é para ti.

– Se vamos fazer surfe esta tarde, lembra-me de te afogar – pediu Adrian, com um sorriso.

Os dois amigos sorriram, sem se mexer.

– Tenho coisas para fazer – recordou-lhes ela, impaciente. Infelizmente, ao baixar o olhar para o livro, chamou a atenção do irmão sobre o assunto.

– Desde quando precisas de ajuda para fazer os trabalhos de casa de matemática?

– Desde que se tornaram difíceis. É uma pergunta tola, não achas?

– A sério? Não consegues fazer operações básicas de trigonometria?

– Esta é a razão por que, às vezes, penso que não sou irmã dele – comentou Lena a Adrian. – Talvez seja filha do canalizador.

– Sim, mas tens força de vontade. O que importa que demores um pouco mais do que eles a terminar um problema de trigonometria? Nunca te rendes.

– Sim, mas não consigo seguir o ritmo deles. Se continuar assim, acabarão por me deserdar.

– Não consegues seguir o nosso ritmo? – repetiu Jared, que nunca tivera de se esforçar para ser o melhor da turma.

No entanto, Lena tivera de estudar muito para não ficar para trás. Cada vez mais, notava que a diferença entre ela e os irmãos se tornava mais evidente. Era uma maldição ser uma pessoa normal numa família de génios.

– Excluir-me-iam se ficasse para trás?

Jared ficou a olhar para ela, confuso e sem palavras.

No entanto, os olhos de Adrian sorriam. Era como se ele sempre tivesse adivinhado as inseguranças de Lena, mas achasse graça por estar a expressá-las naquele momento.

– Tanto faz – balbuciou ela.

– Não vais ficar para trás – contradisse Jared, no fim. – Eu não deixarei.

Jared não entendia.

– Olha, é melhor que cada um estude de acordo com o seu nível.

– Nada disso – negou Jared. – Não gosto que sejas tão derrotista.

– Ninguém vai deixar ninguém para trás – declarou Adrian, para acalmar a tensão. – E ninguém vai ser derrotado. Jared nunca vai excluir-te, Lena. É muito protetor contigo. Não viste como ficou só porque me tinha atrevido a aproximar-me de ti?

– Sim... Mas fá-lo para te proteger, não a mim – replicou ela.

– Talvez queira proteger os dois – indicou Jared. – Não pensaram nisso?

– Pedes demasiado – murmurou ela e, quando Adrian assentiu para se mostrar de acordo, deu uma gargalhada que quebrou a tensão. – O que acham de começarmos a conversa de novo? Irei direta à questão. Sinto-me como uma imbecil porque não compreendo a pergunta seis. Preciso de ajuda para a acabar e poder ir fazer surfe.

Foi assim que Lena conseguiu dois tutores de matemática durante o resto do curso. E foi assim, também, que Adrian ganhou a alcunha de Trig, pelo seu domínio da Trigonometria.