cub_desj652.jpg

8392.png

 

 

Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Susan Bova Crosby

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma esposa temporária, n.º 652 - Janeiro 2015

Título original: Christmas Bonus, Strings Attached

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6462-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Volta

Capítulo Um

 

 

Lyndsey McCord achou que poderia passar o dia inteiro a ouvi-lo. Mesmo a recitar a lista telefónica seria fascinante.

– Será preciso marcar outra consulta dentro de duas semanas – sussurrou a voz perto do seu ouvido. – Fim da gravação.

Lyndsey suspirou. Aquela voz era tão decadente como uma tentação de mil calorias. Nate Caldwell era uma autêntica doçura, e ela deixava sempre a sobremesa para o fim.

– Tens de fazê-lo – a voz perdeu o volume de forma inesperada e Lyndsey quase não pôde ouvi-la. – Preciso de ti.

Era a sua voz, mas não procedia da gravação.

Tirou os auscultadores. Se calhar estava a levar as suas fantasias longe demais. Podia admitir que estava completamente apaixonada por um homem que não conhecia, mas nunca chegara ao ponto de achar que lhe falava.

– Já sabes o que acho dos casos de divórcio, Ar.

Era ele. Nate Caldwell. Em pessoa. Devia ter entrado no prédio pelas traseiras. Lyndsey não sabia o que fazer. Ninguém entrava no escritório após a meia-noite.

– Fazia-o se pudesse, Nate, mas é impossível – uma voz feminina aumentou o volume enquanto se aproximava. – Já tenho três casos e aceitei dois dos teus…

O som de uma porta a fechar-se silenciou a conversa entre Nate Caldwell e Arianna Alvarado, dois dos chefes da agência de segurança e investigação ARC, e chefes de Lyndsey desde há três meses. Deviam ter entrado no gabinete de Nate, que ficava muito perto do pequeno gabinete de Lyndsey.

Tinha-se acostumado ao silêncio que a acompanhava enquanto trabalhava sozinha de noite, e o facto de alguém ter entrado no prédio alterou a sua rotina. O que é que devia fazer? Imprimir o último ficheiro que tinha entre mãos e ir-se embora sem que a vissem?

Mas antes tinha de deixar os relatórios nas mesas do diversos investigadores da agência… incluindo a de Nate Caldwell.

Aproximou-se da entrada e pôs-se à escuta, mas apesar de ouvir vozes, não podia distinguir o que diziam. Era óbvio que Nate Caldwell estava desgostoso por alguma coisa, já que o tom da sua voz costumava ser mais suave quanto transcrevia os seus ditados. E, a julgar pelo que costumava dizer e como o expressava, devia ser um tipo esperto. Segundo a sua amiga Julie, que a recomendara para o trabalho, tinha trinta e dois anos, era muito charmoso, atractivo, amável, considerado e com um sorriso demolidor. Noutras palavras, o homem perfeito.

Nossa Senhora! Tinha vinte e seis anos e enamorara-se de um homem que não conhecia. Era uma fantasia à que recorria quando a sua vida se tornava demasiado aborrecida. Mas não lhe podia bater à porta e apresentar-se diante dele com um relatório que transcrevera. Não era conveniente brincar com as fantasias…

A impressora acabou de imprimir o documento. Agora ou nunca, pensou Lyndsey, mas entreteve-se a distribuir todos os relatórios excepto aquele. Devia interromper a conversa? Quase não se ouvia nada e aproximou-se da porta.

Porque não vestira naquela manhã alguma coisa mais elegante do que umas calças de ganga e um pulóver preto? Porque não se maquilhara um pouco?

Porque não podia perder seis quilos em cinco segundos?

Era melhor ir-se embora e deixar o relatório na mesa de Arianna com uma mensagem.

Passou em bicos de pés junto à porta, entrou no gabinete de Arianna, escreveu uma mensagem e saiu. Quando se virou após ter fechado com cuidado a porta quase deu de caras com o próprio Nate Caldwell, que olhou para ela franzindo a sobrancelha.

– Quem és? – perguntou com aspereza.

Lyndsey levou uma mão ao coração.

– Sou… Lyndsey McCord.

Nate olhou para a porta de Arianna e depois para ela.

– O que é que estavas a fazer lá dentro?

– A trabalhar – Lyndsey tentou mostrar-se calma. – Encarrego-me de transcrever os relatórios dos investigadores e de distribui-los pelas mesas deles.

Nate olhou para ela de cima a baixo de forma tão descarada que Lyndsey não soube se sentir-se lisonjeada ou acossada, até que virou e foi-se embora sem dizer palavra.

Lyndsey ficou perplexa. Então era aquele o homem perfeito. Era possível que tivesse enganado Julie mas a ela não…

Mas realmente era lógico que a interrogasse ao encontrá-la a horas tão pouco habituais na agência.

Decepcionada, voltou ao seu gabinete. Outra fantasia que não se concretizava, o que era realmente frustrante, já que uma boa fantasia servia para superar outras ásperas realidades.

Desligou as luzes de Natal que adornavam o seu lugar de trabalho e assinou a folha de horários.

– Como é que disse que se chamava?

Lyndsey virou-se com o coração na boca. Pelos vistos, aquele homem desfrutava invadindo o espaço de outras pessoas.

– Tem por costume vigiar as pessoas desta forma? – perguntou sem poder controlar-se.

Afinal de contas, aquele homem era o seu patrão.

– Não estava a vigiá-la, estava a segui-la.

– Mas não o ouvi.

Aquela era a história da sua vida, pensou Lyndsey. Era uma dessas pessoas que se esbatiam no fundo da paisagem. Mas naquela ocasião, comprová-lo feriu-a mais do que o normal. Aquele homem não era apenas o seu patrão: nas suas fantasias tinha-a levado a lugares exóticos e tinha-lhe lido poesias em voz alta.

Mas a dura realidade era que Nate Caldwell não fora capaz de reter o seu nome nem quinze segundos.

– Lyndsey McCord – disse finalmente, resignada.

– Sabe cozinhar?

Lyndsey tentou não se mostrar demasiado desconcertada. Não podia perder o trabalho por ser malcriada com o patrão. Precisava de mantê-lo pelo menos mais dois meses.

– Claro que sei.

– E sabe fazê-lo bem?

– Trabalhei para uma empresa de catering durante dois anos.

– Venha ao meu gabinete – disse Nate num tom imperativo enquanto se virava.

– Por favor – disse Arianna do seu gabinete.

Nate virou-se para olhar para Lyndsey.

– Por favor, repetiu.

– Já piquei o ponto – disse Lyndsey, que tentou não fixar o olhar nos intensos e azuis olhos do seu patrão, nem no seu forte queixo, e respectiva covinha.

– Tenho uma proposta para si, Lyndsey – disse ele entrando no seu gabinete.

Obviamente, esperava que ela o seguisse.

«Precisas do trabalho» lembrou-se Lyndsey. «Precisas verdadeiramente dele ».

– Entra e sente-te – disse Arianna com um sorriso enquanto se sentava ao seu lado no sofá de Nate. – Preciso de si – disse ele.

Lyndsey sentiu que ficava ruborizada. A sua melhor fantasia voltava a reviver.

– Desculpe?

– Preciso de uma esposa. Você servirá.

– Para o fim-de-semana – acrescentou Arianna após repreender Nate com o olhar, algo que Lyndsey agradeceu. – Tu e Nate simularão que são casados. Trata-se de um caso de infidelidade conjugal. Sei que é estranho mas precisamos de ti. Acho que viste que esta semana tivemos muito trabalho.

Lyndsey admirava Arianna, mas depois do grosseiro que fora Nate não tinha intenção nenhuma de trabalhar com ele.

– Estou muito ocupada no fim-de-semana.

– A fazer o quê? – perguntou Nate.

– Não acho que esteja nas minhas obrigações partilhar a minha vida pessoal. Além disso, é suposto que na sexta trabalhe até à noite, isto é, amanhã.

– A minha secretária pode substituir-te – disse Arianna.

– Mas porquê eu? – perguntou Lyndsey desconfiada.

– Porque és a pessoa que procuramos.

– O que quer dizer isso?

– Ganham-se trezentos dólares por dia – acrescentou Nate, que não ligou à pergunta dela. – É um incentivo suficiente?

Naturalmente que era, mas Lyndsey sabia que estava a jogar com vantagem. Nate Caldwell precisava dela. Decidiu dar-se ares.

– Ganho trinta dólares por hora.

– Ganhas isso porque trabalhas à noite.

– Esse é o meu preço. Dão setecentos dólares por dia.

– Esperas ganhar por dormir?

– Vou ter de estar disponível vinte e quatro horas?

– Em teoria.

– Nesse caso, não estou interessada.

– Quinhentos – murmurou Nate, cruzando os braços. – Isso é o que ganho eu.

– Desceste os teus honorários? – perguntou Arianna sem ocultar surpresa.

Nate olhou para ela com um esgar inexpressivo.

Lyndsey conteve a sua excitação. Num fim-de-semana podia ganhar suficiente dinheiro para que a sua irmã pudesse comprar um bilhete de avião para ir a casa no Natal. Seria o primeiro que estavam separadas. Que mal tinha que não gostasse de Nate Caldwell? Além disso, realmente não o conhecia, e ouvira muito bem dele. Poderia suportá-lo um fim-de-semana se isso supusesse que Jess e ela iam estar juntas.

– O que é que teria de fazer? – perguntou.

– Cozinhar e limpar para um marido mulherengo e a amante dele…

– «Supostamente» mulherengo – corrigiu Arianna. – A tua missão consistiria em observar e informar. Ainda não estamos certos de todos os detalhes.

– Não parece um trabalho para duas pessoas.

– Tens razão – disse Arianna, que depois sorriu com doçura para Nate. – Se Nate soubesse mais do que aquecer pizzas não serias precisa.

Lyndsey não percebia porque um investigador do prestígio de Nate Caldwell aceitava um caso de divórcio, um tema ao que não se costumava dedicar aquela prestigiosa agência.

– Então? – disse Nate impaciente.

Lyndsey quase disse que não apenas para irritá-lo, mas decidiu não arriscar.

– Está bem, aceito.

– Irei ter consigo às oito da manhã – sem acrescentar mais nada, Nate virou-se e saiu do gabinete.

– Sim, senhor – disse Lyndsey fazendo continência. Então, lembrou-se de onde estava. – Sinto muito – disse a Arianna. – Isto foi muito pouco profissional.

– Nate foi bastante malcriado, algo nada típico nele – disse Arianna levantando-se. – Não vou desculpar-me por ele, mas posso dizer-te que tem bons motivos para não querer aceitar este trabalho. Agradeço-te que tenhas aceitado colaborar. Estávamos num sarilho.

– Foi ideia tua pedir-me para colaborar?

– Não, foi ideia do Nate. E agora, acompanha-me ao meu gabinete para escolher um anel de casada.

– Sei que não é assunto meu, mas porque é que se reuniram a estas horas da noite?

– O escritório ficava a meio caminho e tinha de o ver pessoalmente para convencê-lo. De facto, o meu encontro está à minha espera no carro – Arianna sorriu. – Adoro homens pacientes – acrescentou enquanto abria uma gaveta da que tirou uma pequena e comprida caixa preta com vários anéis de casamento e de noiva. – Escolhe um.

Cinco minutos mais tarde, Lyndsey entrava no carro. Tinha de fazer as malas, dormir umas horas, tomar banho e entrar na Net para procurar um bilhete para Jess de Nova Iorque a Los Ángeles.

Mesmo assim ainda sobraria dinheiro para reparar o carro e mudar os pneus.

«Serve», tinha dito Nate. Teria gostado de saber o que é que quis dizer. Há sete anos que sentia que não servia para nada, desde que deixara de lado a sua vida e os seus sonhos para ocupar-se da sua irmã. Não contara com ter de fazer de mãe além de irmã mais velha, mas a sua mãe também não contara morrer aos trinta e oito anos.

Provavelmente, Nate referira-se a que parecia que tinha jeito para cuidar de pessoas. E, se calhar, tinha razão, porque há muito tempo que não fazia outra coisa.

Mas não servia para ele, embora talvez se divertisse. Seja como for, supunha-se que deviam parecer casados. Imaginou como reagiria quando o chamasse «querida». A ideia fê-la sorrir. De repente, Nate deixara de ser uma fantasia para converter-se num homem. Em pessoa. Noutro ser humano.

Deteve-se ante um semáforo vermelho e olhou para a mão esquerda e para os anéis que escolhera.

Levava o seu no anelar e o de Nate no polegar.

Tentou imaginar o que teria de fazer, mas quase não sabia em que consistia o seu trabalho. Não pensava dedicar-se a adulá-lo, mas poderia simular uma intimidade real com Nate aos olhos do resto, como faziam os actores.

Nate Caldwell não sabia no que se tinha metido.

 

 

Assim que Nate parou o carro em frente da casa de Lyndsey, esta saiu com a mala.

Agradeceu que já estivesse pronta e não o entretivesse com maquilhagens de última hora e perguntas acerca de como lhe ficava a roupa que tinha escolhido. A novidade resultava refrescante.

Encontrou-se com ela a meio. Após guardar as coisas dela no porta-bagagens entraram no carro.

– Não tens alarme anti-roubo em casa? – perguntou depois de ter procurado algum indicador de alarme.

– Tenho o melhor alarme anti-roubo em casa, que consiste em ter bons vizinhos – replicou Lyndsey.

Nate observou-a enquanto punha o cinto de segurança do carro que escolhera, um dos vários que tinha a agência para aquele tipo de trabalho. Parecia descansada e, não obstante, apenas tivera umas horas para dormir, como ele.

Nate gostava de mulheres e, normalmente, elas gostavam dele. Mas, pelos vistos, não era o caso de Lyndsey. Percebeu-o na sua forma de evitar olhar para ele e nas curtas respostas que dava enquanto a informava da missão. Para que esta tivesse sucesso, deviam parecer um casal que se dava bem.

– Peço-lhe desculpas pelo que aconteceu ontem à noite – disse. – Tudo estava a correr muito mal.

– De acordo – respondeu ela, sem olhá-lo. Após uns segundos, perguntou – Onde é que vamos?

Nate perguntou-se se aquele «de acordo» significaria que tinha aceitado as desculpas dele.

– Primeiro à casa do cliente em Bel Air e depois a San Diego para a própria missão. A Del Mar.

– Um lugar realmente caro.

– Sim, o dinheiro não é o objectivo.

– O dinheiro é sempre o objectivo.

Nate sorriu, mas Lyndsey pareceu não notá-lo. Olhou para ela um momento. Tinha um aspecto muito profissional com as calças azuis e a camisa branca que vestia. A sua pequena melena castanha não estava tão encaracolada como na noite anterior, mas ainda se enredava nos seus modernos óculos de armação verde que condiziam com os seus olhos. As suas curvas eram… curvilíneas. Tentadoramente femininas. E não parecia que fizesse dietas de morrer de fome. Parecia sentir-se confortável no seu próprio corpo.

Percebeu quão tensa estava, como na noite anterior.

– A Arianna escolheu os anéis? – perguntou ao olhar para a mão esquerda dela.

– Tinha-me esquecido – Lyndsey tirou o anel do polegar e deu-lho. – Escolhi-os eu. Pensei que encaixavam connosco… como casal de trabalho.

Nate ignorou os fragmentos de lembrança que surgiram na sua mente e pôs o anel.

Teria preferido guardá-lo no bolso, mas tinha um trabalho a fazer, um papel a interpretar.

– Tinha começado a falar da missão – disse Lyndsey.

– Tem muito de rotina. Uma esposa descobriu que o seu poderoso marido planificava passar uns dias na sua casa de Del Mar com a secretária. Pelos vistos, tem um espião no escritório. Dantes ela era secretária do marido, que se divorciou da primeira mulher para se casar com ela. Há quase dez anos que estavam casados. A secretária tem trinta e cinco anos e ele cinquenta e três. Têm uma cláusula de dez anos no acordo pré-nupcial. O marido tem estado a comportar-se de forma estranha e ela suspeita que vai trocá-la pela nova secretária antes de ter de pagar uns quantos milhões mais. Precisa de uma prova da sua infidelidade para assegurar a sua posição financeira.

– Então, o dinheiro é o objectivo.