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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Miranda Lee

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

De novo o amor, n.º 571 - setembro 2019

Título original: The Playboy in Pursuit

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-530-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

 

Michele bebeu um gole do seu delicioso cappuccino e olhou bem dentro dos olhos da sua melhor amiga.

– Bem, Lucille, posso saber quando é que vais deixar o celibato e voltas a sair com rapazes?

Oh, Deus! Aquela mesma ladainha estava para recomeçar.

– Francamente – continuou Michele, – é inconcebível que fiques sozinha para o resto da vida só porque tiveste um casamento infeliz. Não duvido, nem por um momento, que o teu primeiro marido tenha sido um completo desastre, mas nem todos os homens fazem o que ele fez. Vê o meu casamento com Tyler, por exemplo...

Lucille sorriu e deu uma dentada na sua torta de chocolate.

– Não, obrigada. Eu desejo-te toda a sorte do mundo, mas...

Michele colocou a sua chávena em cima da mesa e deu um suspiro desanimado.

– Quando é que vais acreditar que Tyler me ama a sério? Que ele realmente mudou? Que os seus dias de playboy ficaram para trás definitivamente.

Daqui a uns trinta anos, foi o que Lucille sentiu vontade de responder. Mas, obviamente, não pretendia ser assim tão cruel. Michele tinha voltado da sua lua-de-mel há apenas três semanas e ainda guardava um brilho especial nos olhos. Ela não podia destruir as ilusões românticas da sua amiga. Que a própria Michele se encarregasse de enfrentar a dura realidade mais tarde.

Não que estivesse a ser pessimista, mas que hipóteses teria aquele casamento de durar? Claro, Tyler parecia muito apaixonado naquele momento. Mas será que sentiria a mesma coisa dentro de seis meses, depois de o encanto da lua-de-mel dar lugar à rotina sem graça e massacrante do dia-a-dia?

Tyler Garrison, o magnata do jornalismo australiano, sempre foi famoso pela sua grande colecção de namoradas. E Lucille não acreditava que o seu recente casamento com Michele fosse pôr um fim aos seus dias de Don Juan.

Ela tinha aconselhado a amiga a não se envolver com um homem como aquele, mas não tivera o mínimo de sucesso. Michele apaixonara-se perdidamente pelo playboy e aceitou o seu pedido de casamento sentindo-se a mais feliz das mulheres.

Sim. Era uma união destinada ao fracasso. Só que a sua amiga não se dava conta do triste destino que a esperava.

Lucille levou mais um pedaço da torta à boca.

– Não ligues às coisas que eu digo, Michele. Acho que estou muito amarga, é só isso. Se existe alguém neste mundo capaz de transformar um homem, esse alguém és tu.

Como Lucille gostaria que aquilo fosse mesmo verdade. A sua amiga era um amor de pessoa, que merecia, mais que todas as pessoas do mundo, ser feliz.

Elas eram vizinhas de apartamento até ao seu casamento com Tyler Garrison, dois meses antes. Agora, Lucille ficava deprimida cada vez que olhava pela janela e via a placa «vende-se» no apartamento vazio em frente ao seu.

Não conseguia esconder esse facto. Estava realmente sozinha, sem nenhuma amiga por perto para lhe fazer companhia à noite. Ainda bem que trabalhavam perto uma da outra, o que permitia que se encontrassem para um almoço ou um café a meio da tarde. De qualquer modo, a amizade de ambas jamais seria a mesma agora que Michele estava casada.

– Não penses que vais escapar à minha pergunta – continuou Michele com determinação. – Só tens trinta e um anos, Lucille. E és uma das mulheres mais bonitas que já vi na vida. Quero saber quando vais esquecer o Roger e continuar a viver a vida.

Se qualquer outra pessoa lhe tivesse dito aquilo, Lucille teria ficado ofendida. Mas sabia que Michele só estava a tentar ajudá-la e só queria o seu bem, mais nada.

– Eu já esqueci o Roger – respondeu ela, levando um guardanapo de papel à boca. – E continuo a viver a minha vida normalmente, caso ainda não tenhas reparado. Tenho uma carreira promissora, um apartamento bonito que, graças a Deus, fica perto do meu trabalho e uma amiga maravilhosa que está sempre pronta a ouvir os meus lamentos.

– Mas... – Lucille não a deixou continuar e disse:

– Olha, Michele, falando a sério. Eu podia sair cada dia com um homem diferente, se quisesse. Mas acontece que não sinto o menor interesse pelo sexo oposto. O facto de estar solteira e sozinha deixa-me muito feliz. Posso saber o que há de errado nisso?

Michele recostou-se na sua cadeira. Estavam num café com mesinhas no passeio, numa das ruas principais da cidade.

– Tu não me enganas, Lucille. Sei que não estás feliz. Pensas que não vejo que o brilho que tinhas nos teus olhos já não existe? – ela deu um suspiro desanimado. – Ah, minha amiga, eu queria tanto que encontrasses a felicidade...

Lucille forçou um sorriso.

– Nem sempre a felicidade nos chega na forma de um homem, Michele.

– Concordo plenamente. Mas também nem sempre a infelicidade chega nesse mesmo formato. Tudo depende, é claro, do homem em questão. E eu não acho que tenhas desistido completamente desse assunto. Já te esqueceste daquele dia no meu apartamento, há uns três ou quatro meses, quando me descreveste o príncipe dos teus sonhos?

Lucille apenas sorriu levemente e a amiga continuou:

– Se não me falha a memória, além de ser alto, moreno e bonito, ainda acrescentaste que ele devia ter sangue e não apenas cerveja gelada a correr nas veias. Ah, e disseste também que o possível candidato tinha de te colocar em primeiro lugar, deixando os amigos dele, os jogos de golfe e o carro em segundo lugar.

Lucille riu-se.

– Meu Deus! Eu disse isso?! Acho que devia estar a sonhar. Esse tipo de homem simplesmente não existe. Pelo menos, não aqui na Austrália.

– Existe, sim. Eu casei-me com um deles.

– Não. Tyler não é moreno, é loiro.

– Um pequeno detalhe, sem importância, que não deve ser levado em consideração. De qualquer maneira, tenho a certeza de que existe uma grande quantidade de morenos fantásticos por aí. Mas, quem sabe? Talvez o teu príncipe encantado nem tenha nascido na Austrália. Tu trabalhas ao lado de muitos estrangeiros, não é?

– Bem, sim, mas...

Era verdade. Lucille trabalhava numa empresa especializada em suprir as necessidades de executivos que deixavam os seus países de origem e passavam a viver na Oceânia. O seu título oficial era Consultora de Recolocações.

Agora, quanto aos homens que já tinha conhecido no emprego...

Bem, se ela estivesse interessada no assunto, haveria uma grande quantidade de pretendentes. Aliás, era raro o dia em que não recebesse um convite para jantar, ir ao teatro... E o facto de quase todos eles serem casados só aumentava a sua desconfiança em relação ao sexo masculino.

De qualquer modo, mandava o bom senso que omitisse aquele pequeno detalhe à sua melhor amiga.

– E então?

– Olha, Michele, para falar a verdade, não achei graça a nenhum dos clientes que já conheci até agora. Alguns eram até simpáticos e bonitos, mas, mesmo assim, eu não quis nada com ninguém.

Michele estava indignada.

– Pelo amor de Deus, Lucille, não me digas que não gostas de sexo?!

Aquela conversa prometia ser muito longa. Lucille acabou de comer a sua torta de chocolate e respirou fundo, aguardando o final do discurso da amiga. Que Deus lhe desse paciência.

– É claro que eu gosto de sexo, Michele. Ou melhor, gostava. Mas o meu casamento mudou tudo. Hoje em dia, nem o homem mais atraente, mais bonito e mais charmoso do planeta me causa algum tipo de interesse. Essa parte em mim, está morta. Foi obra de Roger, podes ter a certeza.

– Pois eu não acredito nisso. Nem por um segundo. O que acontece é que foste muito ferida, só isso. A tua libido vai voltar intacta um dia destes, quando aparecer a pessoa certa. Acontece que o teu divórcio é ainda muito recente. Posso apostar que é apenas uma questão de tempo.

Um tempo que iria durar pelo menos duas vidas, na opinião de Lucille.

– Enquanto isso – continuou Michele, – tu tens de pôr na cabeça que sair com homens não leva necessariamente ao sexo. Que mal há em sair com um homem de vez em quando? Tu não és obrigada a ir para a cama com ele, se não quiseres.

– E posso assegurar-te de que não tenho a mínima vontade que isso aconteça.

– Está bem. Então pensas que tens de gostar do sujeito antes de concordares com um passeio. Da próxima vez que alguém te convidar para sair, aceita o convite e pronto. Quem sabe? Talvez as tuas hormonas tenham perdido a prática. Pode ser que acordem assim que estiveres no lugar certo. Nada como um jantar à luz de velas, num restaurante finíssimo para acender as nossas emoções.

Tentando controlar-se para não mandar a amiga cuidar da sua própria vida, Lucille deu um sorriso amarelo.

– Sabes, Michele, tu és muito optimista. Além de seres uma romântica incurável.

– É o que parece. Só que eu posso assegurar-te que a verdade é bem diferente. Sou uma mulher prática e realista – ela olhou para o relógio. – E por falar nisso, infelizmente vou ter de te deixar daqui a alguns minutos. Só tenho mais uma semana para terminar o esboço da campanha da nova linha de perfumes Femme Fatale. Eu já te falei sobre isso?

Com um suspiro de alívio, Michele deu graças a Deus por o assunto ter mudado.

– Não. Do que se trata?

– Lembras-te da rapariga que o meu chefe levou à festa do meu casamento?

Lucille fez um meneio com a cabeça, indicando que sim. Afinal, quem poderia esquecer a estonteante morena que aparecera ao lado de Harry Wilde naquele dia? Corpo escultural, cabelos até à cintura, olhos cor de violeta, vestido dourado com um imenso decote.

– O nome dela é Tanya – continuou Michele. – Bem, é a mulher misteriosa que herdou a Femme Fatale, aquela empresa que fabrica lingerie. Lembras-te dessa história?

– Bem, eu já ouvi falar na Femme Fatale, mas não sei nada a respeito de nenhuma herdeira misteriosa.

– Ora, eu pensei que já te tivesse contado. O que aconteceu foi o seguinte: a antiga dona da empresa morreu num acidente de automóvel e deixou todo o negócio à sua única parente, uma prima distante que ela mal conhecia. Bem, essa tal prima é a Tanya. A mais nova cliente da nossa agência de publicidade. Harry está nas nuvens!

– Posso imaginar. Ele já a levou para a cama?

– Mais do que isso, até. Nenhum dos dois disse nada, mas a Tanya anda a ostentar um enorme anel de safira no dedo. E o próprio Harry também está diferente. Mais calmo, mais gentil... e muito menos rezingão.

Lucille deu um sorriso irónico.

– Pelos vistos, temos aí outro playboy a mudar de equipa. Até ao dia em que ele se cansar da pobre Tanya e a deixar a falar sozinha.

Michele levantou as mãos aos céus, num gesto de desespero.

– Pelo amor de Deus, Lucille! Por que é que tens tanta raiva dos homens como o Tyler e o Harry?

Lucille pestanejou os olhos. Raiva? Não. Não tinha raiva daquele tipo de gente. Apenas não confiava neles. Os Tyler e os Harry da vida não passavam de um bando de oportunistas, que engordavam as suas contas bancárias de forma nem sempre honesta e desfilando nos seus Mercedes e Jaguares ao lado das mulheres mais bonitas da cidade. Que eram devidamente trocadas por outras mais jovens quando começavam a mostrar sinais de envelhecimento. Era evidente, porém, que não iria dizer nada daquilo à sua melhor amiga.

– Eu... Eu não sinto raiva do Tyler – respondeu ela com cuidado. – É que... eu acho difícil que homens como ele consigam transformar-se em pacatos pais e maridos. Tu és a minha melhor amiga e eu preocupo-me muito com a tua felicidade.

– Mas eu estou feliz – tranquilizou-a Michele. – Agora, quanto ao facto de Tyler se transformar num homem caseiro... Bem, isso já aconteceu! Ele é um marido maravilhoso e será um pai maravilhoso quando a hora certa chegar. Olha Lucille, por trás daquela fachada exterior, os playboys são pessoas comuns, como tu e eu. Têm coração e sentimentos. Podem apaixonar-se de verdade... e mudar. É isso mesmo, Lucille. O amor consegue modificar qualquer situação.

– É claro que sim. Tenho a certeza de que estás coberta de razão. Da próxima vez, vou tentar manter a minha mente mais aberta para este tipo de assunto.

«E a minha boca mais fechada».

– Acho bem.

– E, assim que algum homem bonito me convidar para sair, prometo pensar no caso com o maior carinho.

– Melhor ainda – Michele levantou-se. – Bem, vou indo, senão o Harry mata-me. Apesar de estar mais doce e menos rezingão por causa do seu noivado com a Tanya, o meu querido chefe ainda fica louco da vida quando os seus funcionários se atrasam.

As duas amigas despediram-se com um longo abraço, então Lucille observou a amiga seguir o seu caminho naquela ensolarada tarde de quarta-feira. Michele era o próprio retrato da autoconfiança e da felicidade. Ela andava com a cabeça erguida e os seus passos eram leves e seguros.

Será que o casamento com Tyler Garrison realmente lhe fizera bem?

Ou será que aquela aura de magia que rodeava a sua melhor amiga era apenas o resultado de noites de sexo quente e intenso?

Levantou-se da mesa abruptamente. Não. Não tinha a menor vontade de pensar em casamento e muito menos em relações sexuais. Ou em qualquer outra coisa que a fizesse sentir-se triste e deprimida.

Levou muito tempo a recuperar a auto-estima e não pretendia ficar a remoer-se por causa dos anos infelizes que passou ao lado de Roger... nem a preocupar-se com o facto de ter perdido o interesse pelo sexo e ter-se transformado numa mulher frígida.

Frígida? Bem, não tinha a certeza. Talvez Michele tivesse razão e as suas hormonas estivessem apenas adormecidas. Era possível que um dia, algum homem muito especial entrasse na sua vida e mudasse a sua visão em relação a tais factos.

Possível. Não provável.

Começou a caminhar pelo passeio movimentado, os seus cabelos loiros balançando ao vento, o salto alto dos seus sapatos fazendo um ruído característico contra o cimento do chão. Se quisesse ser sincera consigo mesma, veria que não tinha do que reclamar.

Tinha crescido muito nos últimos tempos. Deixara de ser a senhora Roger Swanson e voltara a assumir a sua própria identidade. Era Lucille Anne Jordan, uma mulher madura, dona da sua vida e do seu destino. E pretendia que as coisas continuassem exactamente daquela maneira.