sab586.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1999 Jennifer Taylor

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Turbilhão de emoções, n.º 586 - novembro 2019

Título original: Marrying Her Partner

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-573-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Espero que não tenhas grandes expectativas para esta noite – disse a doutora Elisabete Allen, servindo-se de uma chávena de café. – Um copo de vinho, queijo, uns biscoitos…

– Tudo bem, Liz. Ninguém espera que tenhas muito trabalho – respondeu David Ross, o seu colega de consultório. – Pareceu-me uma boa ideia reunir todos para dar as boas-vindas ao James ao seu novo emprego. Depois de ter estado a trabalhar em Londres, exercer aqui vai ser uma grande mudança para ele.

– Não tenho dúvidas – afirmou Elisabete, afastando as ondas de cabelo castanho avermelhado do rosto.

Os olhos, cor de avelã, escureceram-se ao aproximar-se da janela. A fina chuva ensombrecia a visão das colinas verdes que se estendiam para além do horizonte.

Tinha vivido na cidade de Yewdale toda a sua vida e adorava-a. Elisabete sabia que era vista como uma mulher fria, calma e segura de si mesma e isso não a incomodava. Preferia guardar os seus sentimentos a ter que os expressar abertamente.

– Achas realmente que o Sinclair se vai adaptar entre nós? Ele nunca trabalhou no campo, pelo que não possui experiência no tipo de problemas com os quais se vai deparar. Sei que é bastante qualificado, mas… Não te preocupa o facto de ele vir a encontrar aqui situações que jamais encontraria em Londres?

– Não, não me preocupa. Estou convencido de que o James Sinclair não só se adaptará ao trabalho como também demonstrará ser uma peça fundamental neste consultório – replicou David. – Espero que não tenhas dúvidas, Liz, já é um pouco tarde para isso. Devias ter pensado nisso antes de ofereceres sociedade ao James, mas, para dizer a verdade, não sei porque é que te preocupas tanto.

Claro que Elisabete tinha dúvidas! Contudo, não sabia porquê. James possuía uma preparação e experiência invejáveis. David tinha ficado entusiasmado ao encontrar alguém com aquelas mais-valias em tão pouco tempo. Tinham estado ambos a sofrer uma enorme pressão desde que o pai dela se reformou e assim que ofereceram sociedade a Sinclair, tornou-se evidente que mais ninguém lhe poderia fazer sombra. Mas Elisabete tinha ficado preocupada desde que os contratos foram assinados.

Porquê? Estaria convencida de que Sinclair não se adaptaria ao papel de médico rural? Não tinha nada que lhe servisse de base para semelhante conclusão e era pouco profissional basear uma ideia na sua intuição feminina.

– Tenho a certeza de que tens razão – concluiu, ao ver a preocupação estampada no rosto de David. – Acho que estou a preocupar-me desnecessariamente. Tenho a certeza de que o James Sinclair será, sem dúvida, a resposta para todos os nossos problemas.

– Bom, eu não iria tão longe, mas espero que o ritmo diário das consultas diminua bastante.

O tom de voz de David, algo trocista, fez com que ela se virasse e visse James Sinclair à porta. Interrogou-se sobre o que é que ele ouvira, pois mostrava nos seus olhos azuis uma expressão de desafio apesar do sorriso amável.

– James! É um prazer ver-te – disse David, estendendo-lhe a mão. – Quando é que chegaste? Não sabíamos bem quando é que virias.

– Cheguei ontem à noite – respondeu James, olhando em seu redor antes de se virar para Elisabete. – Agradeço terem-me reservado um quarto no hotel. Cheguei mais tarde do que pensavam, pelo que fiquei bastante satisfeito por não ter que andar à procura de estadia.

– Foi o David que tratou de tudo, por isso é a ele que deves agradecer e não a mim – afirmou Elisabete.

Evitando olhá-los de frente, reparou de imediato no impecável fato azul que condizia com a camisa azul clara e uma gravata escura, que lhe realçava ainda mais a musculatura e o bronzeado que, certamente, não adquirira em Inglaterra naquela altura do ano. Tinha o cabelo claro, cuidadosamente penteado para trás, deixando a descoberto um rosto quase demasiado atraente se não fosse por uma ligeira curvatura no nariz.

James Sinclair parecia aquilo que era: sofisticado e refinado. Era, definitivamente, um homem citadino. Talvez por isso ela não acreditasse que ele viesse a ser feliz vivendo e trabalhando numa pequena cidade como Yewdale.

Quando Elisabete se apercebeu de que ele estava a analisá-la da mesma forma, virou-se com o coração aos saltos sem entender o porquê dessa sua reacção.

– Então, obrigado, David – disse James, virando-se para o colega, um pouco mais velho, com um sorriso nos lábios.

– De nada. Assim, vais ter tempo para começar a procurar uma casa. De facto, acho que seria boa ideia se falasses com o Harry Shaw, o dono do hotel. Normalmente, tem contactos sobre as propriedades disponíveis no mercado imobiliário. Faz parte dos seus muitos negócios.

– Essa é uma das muitas vantagens de uma cidade pequena – replicou James, sorrindo. – Ao contrário daquilo que acontece nas grandes cidades, as pessoas sabem aquilo que se passa à sua volta. Vivi no meu apartamento durante três anos e nunca soube quem eram os meus vizinhos. Acho que vou gostar de conhecer toda a gente desta cidade e chegar a fazer parte da comunidade.

– Talvez – adiantou Elisabete com frieza, sentando-se em frente à sua mesa de trabalho. – Mas será que vais gostar do facto de os outros saberem tudo sobre ti? Esse é um aspecto do nosso trabalho que não agrada a todos. Não te podes desligar quando vives numa pequena cidade como Yewdale. As pessoas interpelam-te na rua, nas lojas e até no bar para te pedirem conselhos ou comentarem algo sobre o seu tratamento. Achas que vai ser fácil para ti aguentares isso? Ou será demasiado sufocante, como acontece com a maioria dos forasteiros?

– Penso que só o tempo o dirá – respondeu ele de uma forma amável, apesar de ser evidente o seu desagrado. – Estou disposto a esperar para ver o que acontece, mas, e tu, Elisabete? Pareceu-me que estás convencida que não sirvo para o lugar.

– Que disparate! A Liz está apenas a ser… realista – interveio David, olhando para a colega para que esta confirmasse as suas palavras.

A doutora manteve-se em silêncio, pelo que foi um alívio quando o intercomunicador tocou e deu-se por terminada a reunião, apesar de todos saberem que aquele era apenas o início.

– Parece-me que o primeiro paciente já chegou – disse ela. – Importas-te de mostrar o consultório onde o James vai ficar, David?

– Claro que não – respondeu ele, saindo e esperando que James o seguisse. Mas este não o fez.

– Não sei porque é que duvidas de mim, Liz – adiantou ele, dando uma certa ênfase ao pronunciar o nome dela, – mas espero que tentes ter uma mentalidade aberta. Este é o trabalho que eu quero e tenciono levá-lo a cabo com êxito. Acredita. Parece-me que uma pessoa é inocente até provado o contrário. Talvez devas levar isso em conta.

Elisabete respirou fundo quando ele saiu. Então, pressionou o botão do intercomunicador para informar a recepcionista, Eileen Pierce, que estava pronta para receber o seu primeiro paciente. Nesse instante, sentiu que tinha a mão a tremer, mas não quis pensar na causa: um metro e oitenta de elegância com estilo chamado James Sinclair.

 

 

– Muito bem, senhor Shepard, já se pode vestir. Consegue vestir-se sozinho ou quer que o ajude?

– Não preciso da ajuda de mulher nenhuma! – exclamou Isaac Shepard, demasiado orgulhoso e teimoso para aceitar ajuda.

– Então, como é que ele está, doutora? O palerma devia saber que não pode fazer tudo sozinho – disse Frank, o filho de Isaac, olhando para o ecrã que o ocultava e erguendo a voz para que o pai o ouvisse. – Disse-lhe que vinha este fim-de-semana para o ajudar com as ovelhas, mas ele lá podia esperar! As coisas são feitas quando ele quer que se façam. Desde que a minha mãe faleceu, é impossível lidar com ele!

– Eu entendo, Frank – disse Elisabete, sentando-se e olhando para os apontamentos que tinha à frente. Há três meses que Isaac não ia ao consultório. Desde o ataque de angina do peito que nunca lá mais fora. Se não tivesse estado tão ocupada, Elisabete teria ido visitá-lo a casa. – O teu pai é um homem muito independente, Frank.

– Demasiado independente! Já lhe disse mil vezes que a Jeannie e eu adoraríamos tê-lo connosco, mas acha que ele me ouve?

– E porque é que eu haveria de ir viver convosco? Assim, não podia cuidar da quinta! – exclamou Isaac, surgindo por detrás do biombo. – Nasci naquela quinta e é lá que vou morrer. É assim que deve ser. Só tenho pena que, quando que morrer, não haja ninguém para cuidar dela…

– Sente-se, senhor Sheppard – interrompeu-o Elisabete, para que aquela conversa não se prolongasse. Sabia que aquele era um assunto constrangedor entre pai e filho desde que Frank se mudara para a cidade para ir trabalhar numa fábrica de cerâmica. – Olhe, senhor Sheppard, não é fácil dizer aquilo que tenho para dizer, mas vou directamente ao centro da questão. Não pode continuar a trabalhar sozinho na quinta. Fisicamente, é demasiado para si só.

– Fi-lo durante a vida toda! Não há nada que eu não consiga fazer! – exclamou Isaac.

– Seria até demasiado para uma pessoa da sua idade que tivesse uma saúde de ferro, o que não é o seu caso. Quer queira quer não, a sua angina de peito tem que ser levada em conta – continuou a médica, sem deixar de o olhar de frente. – Já lhe expliquei tudo da última vez que cá esteve. As artérias direccionadas para o coração tornaram-se tão estreitas que o sangue mal consegue passar. O excesso de exercício físico, o facto de fumar, aumenta o problema e provoca os ataques. A ideia de ir pelas colinas à procura das suas ovelhas foi uma loucura.

– E o que é que eu devia fazer? Esperar que elas voltassem sozinhas? Acha que me posso dar ao luxo de as perder? – replicou Isaac, começando a levantar-se da cadeira.

– Sei que não, por isso é que devia ter pedido a alguém que o ajudasse. Já não pode continuar a fazer isso sozinho – disse Elisabete, obrigando-o a sentar-se. – O Frank disse-me que o senhor nem sequer anda com os medicamentos. Se tivesse os comprimidos consigo, podia ter conseguido controlar o ataque.

– Por quanto tempo? Vinte… trinta minutos, antes de voltar a sofrer outro ataque? Além disso, provocam-me dor de cabeça – replicou Isaac num tom beligerante. – Que raio de medicamentos esses!

– Então, está na altura de fazermos outra coisa – respondeu ela, apercebendo-se de que os ataques estavam a tornar-se mais frequentes. – É evidente que os medicamentos já não fazem efeito, pelo que teremos que encontrar outra alternativa. Acho que uma angioplastia seria a solução.

– O que é isso, doutora? – perguntou Frank. – É uma operação?

– Hoje em dia, é um processo rotineiro. Por outras palavras, trata-se de alargar a artéria afectada através de um globo, fazendo assim com que o sangue flua melhor até ao coração. Acho que seria o melhor para o seu pai, por isso gostaria que ele fosse visto no hospital por um especialista.

– No hospital?! Eu não vou para o hospital! – exclamou o velhote, erguendo-se. – É uma pena que o seu pai já não esteja cá, menina. Ele jamais me sugeriria tamanha atrocidade! – adiantou, antes de sair do consultório.

– Lamento imenso, doutora – desculpou-se Frank, levantando-se, bastante envergonhado. – Às vezes, é impossível fazê-lo entender as coisas, mas farei aquilo que puder. Prometo.

– Obrigada, Frank. Sei como ele consegue ser teimoso, mas tenta fazê-lo entender que, ao fim e ao cabo, é para seu bem – adiantou Elisabete, sorrindo. Estava habituada a lidar com as atitudes intransigentes dos velhos agricultores. – Contudo, estou disposta a certificar-me de que ele não volte a faltar às consultas. Vou falar com a Abbie Fraser.

– Avise-a para não dizer nada ao meu pai quando for visitá-lo, senão ele foge para o campo – sugeriu Frank ao sair do consultório.

Elisabete voltou a sorrir. Apesar de tudo, não conseguia deixar de admirar a determinação de Isaac…

– Talvez eu não tenha sido a única vítima da sua língua afiada, doutora Allen. Ou será que muitos dos seus pacientes saem deste consultório da mesma forma?